Terceira geração dos relvados sintéticos

O mercado dos relvados sintéticos no futebol de onze está mais vivo do que nunca, com a chegada dos novos topos de gama. O sucesso do piso no estrangeiro, que vai obrigar a FIFA a reformular as regras do sector, está a alastrar-se a Portugal. Jogadores e técnicos aprovam, os municípios investem e os fornecedores têm as portas abertas para grandes negócios. Mas, para já, só o futebol não profissional pode tirar partido no que toca a jogos oficiais

ATÉ aqui, os relvados sintéticos eram vistos com desconfiança. Jogadores e treinadores de futebol de onze só lhes encontravam uma vantagem: a de poderem treinar-se no Inverno sem terem de estragar a relva natural ou pisarem buracos em pelados.

A chegada da terceira geração de relvados sintéticos está a alterar o panorama: já se pode jogar em cima deles sem a sensação de se estar a pisar uma carpeta.

Por todo o Mundo, o mercado alastra-se a grande velocidade. Em Portugal, o Centro Desportivo de Rio Maior foi pioneiro, mas clubes como Estoril, Coimbrões, FC Porto e Sporting (nos centros de estágio) estão na peugada, assim como o Estádio Municipal de Castelo Branco ou o Complexo Desportivo do Candal.

Açores e Madeira não ficaram atrás e Angra do Heroísmo, Lagoa, Madalena, Santana, Ponta do Sol e Boaventura já contam (ou estão em construção) com o piso.

As câmaras municipais são um factor preponderante no mercado. Faro, Aveiro, Penafiel, Almada, Seixal, Abrandes, Mealhada, Odivelas e outras já mostraram interesse nos novos relvados sintéticos.

Como não são estruturas baratas (o metro quadrado custa à volta de 8 mil escudos), o apoio do IND (Instituto Nacional do Desporto) é crucial. Actualmente dispõe de uma linha de financiamento para sintéticos de futebol de sete, o que equivale a metade de um campo de futebol normal.

Nova tecnologia

Mas porquê tanto alarido com os novos sintéticos? A chuva que caiu nos últimos meses renovou o interesse num piso que possa ser utilizado após a pior das intempéries e tenha uma capacidade de ocupação de 24 horas. Ou seja, um relvado sintético pode concentrar os treinos das camadas jovens de um clube... todos os dias, sem se ressentir.

A introdução de granulados de borracha e de fibras pré-fibrilizadas resultou num salto de qualidade que agradou aos jogadores e técnicos que tiveram oportunidade de experimentar a novidade, caso de António Violante, técnico da selecção de juniores, após um estágio no sintético de 3ª geração de Angra do Heroísmo.

O sintético deixou de "queimar a pele" ou tolher os movimentos dos futebolistas. Testes comprovam a excelente adaptabilidade dos profissionais ao novo piso, muito diferente dos ultrapassados relvados sintéticos de 2ª geração, caso daquele que o Benfica utiliza para as camadas jovens.

O mercado em Portugal está a alastrar-se. Actualmente, várias empresas internacionais disputam-no: Tarkett Sommer (França), Limonta (Itália), Astroturf (EUA), Italgreen (Itália), Desso (Holanda) ou Lano (França). A fibra é patente da Thiolon (Holanda), que a fornece a inúmeras empresas, entre as quais as referidas acima.

António Domingues, arquitecto especializado em áreas verdes e sintéticos, refere que a "concorrência é salutar" e explica como funciona o mercado: "Nós, os arquitectos, temos de expor ao cliente as alternativas que têm. Apresento-lhes as propostas dos vendedores de relvados sintéticos e eles decidem. Se o cliente é público, como uma autarquia, por exemplo, a escolha é feita por concurso público."

O primeiro relvado sintético em Portugal, do Torreense, e o primeiro da 3ª geração, em Rio Maior, nada têm a ver um com o outro. O futuro (segundo António Domingues, será marcado por um híbrido entre relva natural e sintética, como já acontece no estádio do Chelsea) dirá até que ponto os jogadores que "comem a relva" não ficarão com sabor a plástico na boca.

Profissionais em sintéticos

A FIFA vai alterar o panorama do mercado dos relvados sintéticos, alargando a sua utilização ao futebol profissional. Actualmente, só as competições não-profissionais podem realizar jogos oficiais em piso artificial, mas a FIFA entende que a nova relva sintética apresenta melhor qualidade do que a média dos relvados naturais.

"A nossa preferência será sempre a relva natural, mas a introdução de bons relvados sintéticos em países cujo clima e recursos financeiros assim o ditem é uma boa ideia", refere o secretário-geral Michel Zen-Ruffinen, num boletim da FIFA.

Aquele organismo, através do departamento de Conceitos de Qualidade, está a preparar o padrão formal dos relvados sintéticos para que os fabricantes possam introduzir os seus produtos no mercado do futebol profissional. Em Fevereiro haverá novidades.

Na época passada, o FC Porto disputou o seu primeiro jogo da Taça de Portugal num sintético, na Ribeira Brava, Madeira. Com excepção da I e II Ligas, todas as competições nacionais podem ser disputadas em relvados sintéticos, incluindo as camadas jovens.

As normas federativas relativas a estes materiais foram estipuladas em 1998 pela FPF e actualizadas em Setembro de 2000 devido ao aparecimento da 3ª geração de relvados sintéticos.

Entre outros tópicos, o documento estipula as principais características do piso: cor verde obrigatória, fibra lisa ou frisada, com uma altura livre de 2 cm. A adequabilidade e durabilidade têm de ser comprovadas por ensaios realizados por laboratórios independentes. Como em Portugal não existem, são válidos os estrangeiros reconhecidos pela federação do seu país.

A partir do 4º ano de utilização, os campos de relva sintética serão obrigatoriamente vistoriados pela associação de futebol respectiva, a pedido do clube.

Chalana e Juca aprovam novos sintéticos na formação

Fernando Chalana e Juca, técnicos dos juniores do Benfica e Sporting, respectivamente, confessam serem adeptos dos novos sintéticos e reconhecem que a sua implantação poderá melhorar a qualidade da formação de futebolistas.

Ambos falam com conhecimento de causa: primeiro, porque já experimentaram o relvado sintético de Rio Maior, um dos poucos existentes referentes à "última geração"; segundo, porque conhecem os sintéticos antigos.

"Se forem da qualidade do de Rio Maior, os relvados sintéticos são bem-vindos ao futebol jovem, pois trazem vantagens em tempo de chuva e não queimam como os sintéticos normais", diz Chalana.

"Fiquei impressionado com o sintético de Rio Maior. No Inverno é uma maravilha treinar-se ali. Parece mesmo relva natural", sublinha Juca.

Os dois treinadores contactaram com o novo sintético num torneio realizado em Novembro último, que contou com a participação dos juniores do Benfica, Sporting, Alverca e U. D. Rio Maior. Ambos atestam que os jogadores se adaptaram bem ao piso e não estranharam a sua composição artificial.

Para Chalana, que treina em pelados, os relvados sintéticos podem ser uma solução para o futebol jovem: "É claro que não substitui os relvados naturais, mas não tem buracos e a bola rola direita. O Benfica tem um sintético, mas é dos antigos. Os profissionais não gostam de treinar ali por causa das queimaduras que pode provocar. Há mais de três meses que estamos sem relvados. Nos torneios que o Benfica realiza no estrangeiro, muitas vezes jogamos em sintéticos tipo relva. Até dentro de pavilhões. Nesse aspecto, Portugal está atrasado 20 ou 30 anos."

Juca explica que, do ponto de vista técnico, os jovens jogadores poderiam evoluir muito melhor nos novos relvados sintéticos do que em pelados ou maus relvados naturais: "A chuva não os estraga, não queimam a pele e os jogadores conseguem aperfeiçoar as suas qualidades. É claro que estes campos têm o seu custo, não são baratos, mas vêm com uma garantia de muitos anos e não precisam de manutenção. Ou seja, tornam-se rentáveis. E podem concentrar muitos escalões jovens dado que aguentam cargas de trabalho o dia inteiro."

Diferenças de tratamento entre natural e sintético

RELVADO NATURAL

Os cuidados abrangem uma série de trabalhos que exigem não só equipamentos adequados mas também pessoal com conhecimentos especializados. Entre outras rotinas, a manutenção implica cortes periódicos, limpezas diárias, rega normal e regas de esforço e fertilização periódica.

Existem também rotinas sazonais, casos do arejamento, aerificação, escarificação, regularização do nível do piso, cilindragem, repintura de marcação de linhas...

RELVADO SINTÉTICO

O trabalho de manutenção é mínimo. Semanalmente ou mensalmente convém limpar a superfície de matéria orgânica, como folhas mortas, por exemplo. Uma máquina de varrer ligeira ou um soprador bastam.

Uma ou duas vezes por ano, torna-se necessária uma limpeza mais cuidada, com uma máquina própria. O nível de granulado de borracha será controlado nessa altura. Convém igualmente aplicar um herbicida à volta do piso para evitar a invasão das gramíneas.

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