”NÃO me calarei.” O aviso foi feito por Valentim Loureiro no final do encontro que o executivo da Liga PFP e o presidente da FPF, Gilberto Madaíl, mantiveram terça-feira com o ministro José Lello.

O presidente da Liga, apesar de ter considerado “normal” a reunião do chamado “G18”, realizada nas Antas na passada sexta-feira, frisou que não se calará quando os assuntos tratados no citado encontro, nomeadamente a arbitragem, forem abordados na assembleia geral do organismo que dirige.

”No dia em que estas questões, como as equipas de arbitragem únicas ou publicação dos relatórios dos delegados técnicos, chegarem à Assembleia da Liga, não me calarei”, assumiu Valentim, depois de ter explicado aos jornalistas que a reunião que acabara de ter com José Lello havia sido solicitado por si próprio na passada sexta-feira, antes, pois, do desfecho do encontro das Antas, do qual também saiu um pedido de audiência ao titular da pasta do Desporto, agendada para a próxima terça-feira.

Ainda a propósito dos trabalhos realizados na noite das Antas, Valentim Loureiro admitiu que “isso permite que outros líderes, os dos clubes, comandem a discussão dos temas”, desdramatizando a possibilidade de tal encontro poder constituir uma ameaça ao seu actual estatuto de presidente da Liga, frisando: ”Os clubes, reunindo-se sozinhos, não de forma institucional no seio da Liga, podem discutir melhor os problemas que os apoquentam e outros líderes lá presentes podem ter um maior comando dessas reuniões, pelo que o líder da Liga não tem de estar a disputar terreno com ninguém. Aliás, enquanto eu estiver à frente da Liga ninguém disputa o terreno a mim.”

Ao seu jeito, frontal e “sem papas na língua”, Valentim deixou no ar um recado claro a quem estiver interessado em disputar a liderança do futebol profissional: ”Quando alguém tiver falta de confiança no presidente da Liga, em mim, só tem um caminho: chegar à assembleia geral da Liga e apresentar uma moção de desconfiança. Se ela passar eu caio...”

Reunião ”esvaziada”...

Valentim, além de Madaíl, fez-se acompanhar para a audiência com José Lello, por José Guilherme Aguiar e Nuno Albuquerque, uma comitiva “de peso” para uma reunião que, segundo o próprio líder da Liga, ficou “esvaziada” a partir do momento em que, segunda-feira, a Comissão Europeia em conjunto com a FIFA e a UEFA chegaram finalmente a acordo quanto à reforma da lei de transferências de futebolistas, o problema que teria originado o pedido da reunião.

“Esta reunião resultou do facto de haver na União Europeia algumas reservas face ao problema das transferências dos jogadores do ponto de vista internacional. Entretanto, terça-feira a UE negociou com os líderes da FIFA e da UEFA e aceitou as regras para a transferência dos jogadores internacionais. E, assim sendo, este assunto, que era premente, acabou por ser ultrapassado porque está resolvido. A nível interno já temos o nosso contrato colectivo de trabalho, que é respeitado internacionalmente.”

... e onde se falou do Euro-2004

Loureiro e Madaíl aproveitaram o tempo que o ministro José Lello lhe havia concedido para abordar com ele outros assuntos que estão na ”ordem do dia” do futebol português. Entre eles falou-se, claro, da organização do Euro-2004.

Os dois líderes lembraram ao actual titular da pasta do Desporto conversas anteriores mantidas com o seu antecessor, Armando Vara, relativas, em concreto, ao financiamento das obras nos estádios.

”Já tínhamos lembrado ao ministro Armando Vara que era necessário arranjar um processo de apoio ao financiamento aos clubes que estão a construir os seus estádios igual àquele que já existe em lei – o decreto-lei 144/2000 –, para construção desses estádios por parte das câmaras. O Sr. ministro disse-nos que está a tratar deste assunto junto do seu colega do Ministério das Finanças e que pensa que será um assunto a merecer em breve uma solução.”

José Lello e Madaíl no Conselho Superior do Desporto

Foi ainda Valentim Loureiro quem revelou aos jornalistas que da conversa com José Lello saiu uma novidade: o ministro decidiu reactivar, ”muito brevemente”, o Conselho Superior do Desporto (CSD), órgão consultivo do Governo para assuntos da actividade em questão.

Interessante é o facto do próprio José Lello ter assumido que irá participar pessoalmente nas reuniões do CSD como um ”membro activo”, posição inédita entre os titulares da pasta do Desporto.

Com Lello entrará também para o CSD Gilberto Madaíl, na sua qualidade de presidente da FPF, que até agora não estava directamente representada. A decisão, disse Valentim Loureiro, ”agrada bastante à Liga”.

Fisco vistoria todos

Igualmente na ”ordem do dia” está o problema da fiscalidade dos clubes de futebol. E em consequência das recentes vistorias empreendidas pelos funcionários do Ministério das Finanças depois de espoletado o ”caso Benfica”, Liga e FPF questionaram Lello.

Valentim Loureiro revelou a resposta obtida: ”Fomos informados que ao Plano Mateus aderiram cerca de seis mil contribuintes, entre eles clubes e SAD de futebol. O Ministério das Finanças está a passar em revista todos os contribuintes que aderiram ao citado programa. Assim, ficámos a saber que não há aqui uma discriminação em relação ao futebol, apesar de ele ser sistematicamente um ”bode expiatório” dos governos”.

Ministro també recebeu Vasco Lynce e Mário Saldanha

A tarde de terça-feira do ministro José Lello foi bastante preenchida. Depois do encontro com Valentim e Madaíl, que começou atrasado devido a outro compromisso do ministro, Lello recebeu ainda Vasco Lynce (certamente para assuntos do Euro-2004) e Mário Saldanha, líder da Federação Portuguesa de Basquetebol.

Fiscalização ao Euro-2004 com apoio da Polícia Judiciária

Ainda a propósito do Euro-2004, José Lello garantiu a Valentim e Madaíl que as notícias sobre uma alegada fiscalização por parte da PJ não eram fiéis.

O que existe é um gabinete de fiscalização (CLEFA) à organização do evento que incluiu elementos da Polícia Judiciária, todos especialistas na área financeira.

Transmissões televisivas dos jogos para os PALOP

Valentim Loureiro pediu a José Lello para rever a questão das transmissões televisivas dos jogos de futebol da I Liga para o estrangeiro, nomeadamente para os PALOP, lembrando que o futebol continua a ser o ”maior veículo da língua portuguesa, aquele que a mantém viva em África e em muitas comunidades no estrangeiro”.