A equipa de futebol feminino do Ponte Frielas saltou para a ribalta por ter sofrido uma derrota por números invulgares (0-28) frente ao Benfica na jornada inaugural do Campeonato Nacional da 2ª Divisão. Contudo, ninguém desanima no balneário do clube de Loures pois as realidades são incomparáveis. "As nossas jogadoras são todas amadoras. Pagam os equipamentos, o clube só fornece o transporte e uma sandes no fim dos jogos", explica a Record António Resende, responsável pela equipa feminina.

Uma das protagonistas principais do jogo acabou por ser Liliana Roriz, agente da PSP [não obteve em tempo útil autorização da força policial para prestar declarações] que esteve na baliza do Ponte Frielas. "Ela não é guarda-redes, mas sim central. É o primeiro ano dela como federada e até à época passada jogava futsal. Só que a nossa titular, a Daniela Andrade, deslocou um ombro na apresentação do Palmelense, está com gesso e só deve voltar a jogar lá para janeiro", explica o dirigente que há 15 anos serve o clube. Só que o azar não ficou por aí. "A outra guarda-redes do plantel, a Sónia, telefonou ao treinador no sábado à noite a dizer que tinha ido ao hospital com dores fortes num pulso. No domingo, foi de metro para a Tapadinha e mostrou o pulso inchado. Disse que jogava na mesma, mas só podia defender com uma mão", recorda António Resende.

Como é natural, o técnico, Luís Miguel, recusou e foi então necessário encontrar uma solução de recurso. "Já no relvado, após algumas jogadoras recusarem ir para a baliza, a capitã Marta pediu autorização para recolher ao balneário. Passados uns minutos, as jogadoras voltaram e informaram o treinador que já havia guarda-redes", conta, acrescentando: "Assumiu essa responsabilidade e por isso merece elogios."

Mais goleadas em perspetiva

Uma derrota tão pesada faz sempre mossa, mas António Resende faz questão de minimizar esse facto. "O nosso campeonato vai começar agora, pois o Benfica é de outra dimensão, não tem nada a ver", refere, acrescentando: "No ano passado ficámos em segundo lugar e só perdemos com o Ouriense, que até já andou na Liga dos Campeões. Vamos ver os resultados que as outras equipas vão fazer com o Benfica, mas antevejo que haja resultados ainda mais desnivelados."

Quanto aos efeitos nas jogadoras, o dirigente admite que surgiram "comentários menos simpáticos" após a derrota por 28-0, mas a própria direção emitiu um comunicado a reforçar o "incondicional apoio a todas as atletas e equipa técnica", dando os parabéns pela atitude. 

Plantel curto movido a paixão

O plantel do Ponte Frielas conta atualmente com 17 jogadoras. Um grupo curto, à base de jovens estudantes que praticam futebol apenas por paixão, pois não há qualquer compensação financeira. "Para o jogo com o Benfica algumas foram de transportes e outras na minha carrinha e no carro do treinador. Muitas vezes somos nós os dois que pagamos do nosso bolso as portagens e o gasóleo", conta António Resende, que brinca com a situação. "Nem faço contas ao dinheiro que já gastei, mas desde que a minha filha veio para cá jogar fiquei com o bichinho do futebol feminino e nunca mais larguei a equipa", frisa.

A fechar, um elogio ao Benfica. "Mesmo a vencer por 16-0 o treinador não parou de incentivar as jogadoras. Se for sempre assim vão dar mais de 28...", reitera. 

Dois dérbis com Sporting B

Um dos principais atrativos desta Série D do Campeonato Nacional da 2ª Divisão será o embate entre o Benfica e o Sporting B. Os dérbis estão agendados para a quinta (28 de outubro) e décima quarta (20 de janeiro) jornada, respetivamente na Tapadinha e no Estádio Universitário de Lisboa.

A equipa secundária das leoas não jogou na ronda inaugural, mas tal facto deveu-se à desistência do CAC Pontinha, precisamente o adversário do Sporting B ditado pelo sorteio. Refira-se que os dois primeiros classificados de cada uma das cinco séries disputarão o playoff de subida sendo que as leoas estão impossibilitadas de subir pela presença da equipa principal.