1990/91 P. Ferreira - Um reforço de peso
Radoslav Zdravkov. Simplesmente, Radi. Chegou a Portugal no dealbar dos 30, com um currículo recheado de títulos e 71 internacionalizações pela Bulgária. Foi estrela num Chaves europeu, onde namorou a conquista de uma Bota de Ouro Record (21 golos em 1987/88), e teve uma passagem discreta por Braga, marcada por lesões. Aos 34 anos, aceitou um contrato de um ano com o P. Ferreira. Era o grande nome de um plantel construído por jogadores com vasta experiência na 2.ª Divisão, que, à partida, não corria pela subida na edição de estreia da Liga de Honra. A disponibilidade física e a velocidade de Radi eram escassas, mas a perícia técnica, a visão de jogo e a ferocidade na execução de bolas paradas tornaram-no na principal figura da subida dos pacenses.
Chave: O arranque, sobretudo fora de casa, foi trémulo: dois empates e três derrotas. A vitória em casa, à 12.ª jornada, ante o Aves, com golos de Radi e Carvalho, deu o mote para uma série de 16 jogos (11 vitórias e 5 empates) sem perder. Líder da Liga de Honra, o Paços geriu, mesmo em quebra, essa condição até ao fim.
O que diz Oliveira: "O Paços tinha uma equipa com um grande sentido coletivo, que tinha vindo da 2.ª Divisão B, com uma grande união no balneário. Lembro-me bem de jogadores como o Mota, o Monteiro e o Adalberto. Todas as subidas são difíceis, mas esta foi menos, sem dúvida, por causa do grupo que encontrei."
1996/97 Académica - Do fundo ao topo
A Académica, no início de janeiro de 1996, apresenta Vítor Oliveira, o quarto treinador para a temporada 1995/96, após experiências malsucedidas com Vieira Nunes, Eurico Gomes e Luís Agostinho. Apostada, mais uma vez, no regresso ao escalão principal, a Briosa estava afundada na zona de descida. A estreia do novo treinador é um desastre: 0-6 em Penafiel, orientado por José Alberto Torres, com Forbs, Marcão e Moura a bisarem. As vitórias em Espinho (2-1) e ao Feirense (6-3) fizeram com que a equipa abandonasse a zona vermelha, mas a luta pela manutenção prolongou-se até à jornada derradeira. Alcançado o objetivo, Oliveira procedeu a profundas remodelações no plantel, apostando veementemente em jogadores portadores da inabalável mística dos estudantes, para afiançar a promoção no exercício seguinte.
Chave: Alcançada a zona de subida no final da primeira volta, a Académica passou toda a segunda metade no 3.º lugar, atrás de Campomaiorense e Varzim, que concluíram em quebra. A consistência defensiva – 21 golos sofridos em 34 jogos – foi a chave do êxito para uma equipa com pouco engodo pelo golo (39). Um triunfo sobre o Felgueiras de Jorge Jesus (1-0), principal oponente na luta pelo terceiro lugar, foi decisivo. O jovem João Tomás marcou o golo.
O que diz Oliveira: "Fiquei com uma ligação fortíssima ao clube e às pessoas, permanecendo amigo delas. A Académica estava há muitos anos a tentar subir e foi uma coisa fantástica."
1997/98 U. Leiria - Poder de fogo
A base do sucesso em Leiria passou por um impressionante poderio ofensivo: 73 golos marcados em 34 jogos. O plantel foi formado a pensar no regresso ao escalão maior, algo que ficou bem vincado com a presença de jogadores como Bilro, João Manuel, Sérgio Nunes, Jorge Silva e Hugo, jogadores com vasta experiência no escalão maior. Contudo, o fator mais diferenciador foi o poder de fogo – 33 dos 73 golos – do tridente formado pelo brasileiro Dinda, médio-ofensivo de pé-canhão que acompanhou Vítor Oliveira na viagem desde Coimbra, o buliçoso e desequilibrador Duah, extremo ganês que era suplente no Maiorca, e o codicioso Reinaldo, experiente predador que trocara o recém-promovido Campomaiorense por um regresso a Leiria.
Chave: Cinco empates consecutivos e duas derrotas nas oito primeiras rondas atrasaram a União no arranque. O triunfo no Estoril (3-1), à 9.ª jornada, marcou a inversão de marcha, consolidada com uma segunda volta épica: 15 jogos sem perder – 12 vitórias e 3 empates – até ao final da época, o que conduziu à subida e ao título nacional.
O que diz Oliveira: "Foi a melhor equipa que tive na Honra. Uma das mais fortes de sempre e com grandes jogadores. A qualidade da equipa, obviamente, ajudou muito na perseguição do objetivo."
1998/99 Belenenses - Alvo a abater
"Os adversários olham para o Belenenses como se fosse o FC Porto da Liga de Honra". As palavras de Vítor Oliveira, no culminar de um período de ditadura azul e branca no palco principal, caracterizam as dificuldades encontradas para alcançar o sucesso. Todos queriam travar o gigante azul de Lisboa. Após a saída de Braga, Oliveira esteve pouco mais de um mês sem clube. Um início de temporada sem vitórias extramuros e uma eliminação aviltante da Taça de Portugal frente ao Câmara de Lobos (0-3) ditaram a saída de Manuel Cajuda. Recolocar o Belenenses, então em 5.º lugar, na divisão maior do futebol português era o único objetivo. O sucesso construiu-se ao tornar o Restelo numa fortaleza (quase) inexpugnável – apenas o Estoril, de Pietra, conseguiu pontuar (1-0) –, já que a intermitência fora de portas prosseguiu, até que, em abril, o Belenenses arrancou um triunfo decisivo na Maia (3-0).
Chave: As dificuldades em vencer extramuros impediram uma estabilização que só foi garantida graças a uma reta final poderosa, para a qual contribuiu de forma determinante o longilíneo Brandão, avançado brasileiro contratado em março, ao assinar sete golos em oito jogos.
O que diz Oliveira: "O Belenenses é um clube com uma grandeza fantástica. Lembro-me que substituí o Cajuda. Foi acrescentar o meu trabalho ao bom trabalho que estava feito, subir e repor o Belenenses no lugar que é seu."
2006/07 Leixões - Êxito no clube do coração
Os tempos mudaram e os regulamentos apresentavam alterações: só os dois primeiros classificados asseguravam a promoção ao escalão maior num campeonato reduzido a 16 clubes. Vítor Oliveira estava sem clube desde que saíra, no início de abril de 2005, do comando técnico do Moreirense, e não resistiu ao apelo do emblema da sua cidade natal e do qual é sócio, assumindo, em fevereiro de 2006, a sucessão de Rogério Gonçalves. Apesar de não ter perdido qualquer jogo (sete vitórias e quatro empates) e de ter recolado o Leixões na corrida pela subida, Oliveira não conseguiu superar Beira-Mar e Aves, mas lançou a semente para o projeto que conduziu o emblema matosinhense ao título nacional na época seguinte, em 2006/07. Em zona de subida durante 29 das 30 jornadas da competição, o Leixões festejou, 18 anos depois, o regresso à divisão maior em ano de centenário.
Chave: Manter a base da equipa que ficou em 3.º lugar em 2005/06, acrescentando-lhe qualidade com as aquisições cirúrgicas do guardião Beto, do criativo Hugo Morais e do goleador Roberto, foi crucial para o sucesso. Muita fé, esperança e dignidade foram as palavras-chave de Vítor Oliveira para recuperar a mística dos bebés do Mar, o que empolgou os adeptos que acompanharam a equipa com uma impressionante devoção.
O que diz Oliveira: "É o clube do meu coração e foi, por isso, a subida mais apetitosa, a que mais gozo me deu. Foi a reposição de um velho e grande clube num lugar que merecia e que infelizmente acabou por perder devido ao facto de ter sido mal dirigido e também por causa de um acumular de erros que colocaram o Leixões numa situação muito crítica, de onde será difícil sair."
2012/13 Arouca - O homem da revolução
"Subir à divisão não é assim tão simples". Foi com essa frase que Vítor Oliveira, no final de setembro de 2011, se apresentou como novo treinador do Arouca, sucedendo a Henrique Nunes, que apenas somara um triunfo nas primeiras oito jornadas. A luta dos arouquenses não era a subida, algo que a segunda volta confirmaria com o delongar da obtenção da permanência até ao derradeiro jogo do exercício. Oliveira não estava feliz com o plantel à sua disposição e promoveu uma autêntica revolução: duas dezenas de dispensas e duas dezenas de contratações, a maior parte das quais com vasta experiência no escalão, atacando a subida, numa competição alargada a 22 clubes, com apenas quatro resistentes do plantel anterior.
Chave: O profundo conhecimento de Vítor Oliveira no escalão foi determinante para afiançar a subida. A aposta num plantel amplamente renovado obrigaria à necessidade de um tempo para impor o seu modelo de jogo, o que teria um custo na primeira fase da época. Aí, a agilidade mental do treinador foi crucial para manter o segundo lugar sob mira (o Belenenses cedo se distanciou como líder), para proceder ao ataque final na segunda volta. De trás para a frente, o Arouca estabeleceu-se no 2.º lugar no último terço da competição e de lá não mais saiu.
O que diz Oliveira: "O Arouca é um projeto de um homem só, que diria que pega o touro pelos cornos, que vai em frente, dá um apoio tremendo aos jogadores e treinadores e é homem que só quer vencer e que dá todas as condições."
2013/14 Moreirense - Despedimento insólito
Segundo classificado, a um ponto do líder FC Porto B, que não entrava para as contas da promoção, a apenas nove jornadas do fim, o Moreirense confirmava-se como o mais forte candidato à subida. Pode um clube despedir um treinador que tem na mão o objetivo a que se propôs e que apenas somara uma derrota nos últimos 16 jogos? Pode. Foi o que aconteceu, para espanto geral, em Moreira de Cónegos. Sem ser apresentado qualquer motivo para a decisão, para além de uma série recente de exibições e resultados menos luminosos em casa (uma derrota e três empates), Vítor Oliveira despediu-se, remetendo-se a um silêncio corrosivo. António Conceição, o seu sucessor, somou seis vitórias, dois empates e uma derrota, trajeto mais do que suficiente para afiançar o título nacional e a promoção ao escalão principal. Não haja dúvidas, porém, que a subida teve o dedo (determinante) de Vítor Oliveira.
Chave: A descida de divisão no exercício anterior promoveu uma enorme razia, obrigando Vítor Oliveira a reconstruir um plantel com duas dezenas de reforços, em que privilegiou, mais uma vez, a aquisição de jogadores com vasta experiência no escalão secundário. Apontado à subida de divisão, o Moreirense, apesar de reunir futebolistas com diferentes proveniências, arrancou muito forte. As seis vitórias e dois empates nos primeiros nove jogos permitiram que a formação de Oliveira se posicionasse, desde as jornadas iniciais, em zona de subida, de onde não mais saiu.
O que diz Oliveira: "Nas equipas que ajudei a levar à 1.ª Liga, também contabilizo o Moreirense."
2014/15 U. Madeira - A subida no último suspiro
"Se fosse para lutar por um lugar a meio da tabela, não teria vindo". Vítor Oliveira sabia que assumia o comando de uma equipa que, nos últimos 20 anos, não havia alcançado melhor do que um 7.º lugar (1995/96) na 2.ª Liga, e cuja melhor classificação na última década era um 12.º posto (2012/13), mas não se intimidou em apontar azimutes à promoção. É certo que o União passou toda a maratona fora da zona de subida – as exceções foram duas passagens fugazes nas jornadas iniciais – até à jornada final, disputada num registo hitchcockiano, que marcou o regresso aos lugares de promoção numa dramática trilogia. Nos primeiros quatro minutos, até o Chaves se colocar em vantagem ante a Oliveirense; entre os nove, quando Kingsley adiantou o União frente ao Oriental, e os 69 minutos, altura em que Ansumane apontou o golo que deixou o Freamunde em vantagem ante o Tondela; e, aos 90’+4, o derradeiro minuto da época, quando André Carvalhas, jogador que Vítor Oliveira orientara no Moreirense, assinou o empate do Tondela, que deu a promoção ao União.
Chave: Mesmo não entrando nos lugares de subida, o União nunca se distanciou do topo da tabela. É certo que, após o reforço do plantel em janeiro, um terceiro quarto de temporada intermitente parecia colocar os madeirenses fora da luta pela subida, tendo mesmo chegado a aventar-se a hipótese de Vítor Oliveira abandonar o comando técnico. Contudo, a impressionante reta final, marcada por 8 vitórias e 3 empates em 12 jogos, garantiu a subida no último suspiro do exercício.
O que diz Oliveira: "A subida do União da Madeira acabou por ser uma surpresa. O objetivo não era subir no primeiro ano, mas fundamentalmente devido ao empenhamento dos jogadores conseguimos chegar lá, apesar de todas as vicissitudes."