Fernando Barata: «Subida do Imortal mostrou que já não existem papões»

Fernando Barata: «Subida do Imortal mostrou que já não existem papões»
Fernando Barata: «Subida do Imortal mostrou que já não existem papões»

FERNANDO Barata está de volta. Agora com o Imortal de Albufeira na II Divisão de Honra, o empresário algarvio volta a ter peso específico no local onde se discutem as matérias mais importantes do futebol português: a Liga de Clubes. Ao ler esta entrevista, perceberá o leitor que Barata está cheio de ideias. Algumas novas, outras nem por isso, mas no rol destas últimas salta à vista o apoio que dá a um projecto da AF Braga, o qual pretende a breve prazo colocar apenas 16 equipas na I Divisão e dividir a II Divisão de Honra em duas zonas.

A promoção do Imortal, repleta de polémica, revelou ainda uma outra verdade: que o dito "sistema" ou não existe ou perdeu muito do seu peso. Ou alguém acredita que se essa "máquina trituradora" existisse o Imortal de Fernando Barata teria sido promovido, depois das "guerras" movidas a Pinto da Costa e a Joaquim Oliveira, as quais seguem agora na barra dos tribunais? Aliás, em jeito de "provocação", essa foi a primeira ideia que pedimos ao presidente do Imortal para comentar. E ele, no cadeirão de onde controla a sua actividade na indústria hoteleira, avançou:

-- Concordo com essa sua leitura acerca desse dito sistema, mas creio que não devia colocar o nome de Pinto da Costa no meio disso. As estruturas do futebol, nos últimos dez anos, têm mudado imenso, têm-se modernizado e as coisas são agora mais transparentes. E nos próximos cinco anos, se Portugal ganhar a organização do Euro 2004, tudo isto muda mais ainda. Passaremos a ter mais experiência, tudo ficará mais claro e aqueles que vivem na ideia de que as coisas têm de ser feitas no escuro irão desaparecer.

-- Prefere não incluir Pinto da Costa na conversa, mas pela nossa parte estávamos a reportar-nos a uma frase de Vale e Azevedo, dirigente que diz ser Pinto da Costa a "cara" do sistema. E o senhor, há não muito tempo, foi uma voz incómoda contra esse dito sistema, quando lançou acusações várias ao líder do FC Porto...

-- Fui, se calhar, o porta-voz de milhões de portugueses que infelizmente não têm acesso à Comunicação Social. Disse, portanto, o que muitos queriam dizer e não podiam. Mas essa época está ultrapassada, a prova disso é que o Imortal subiu de divisão nas quatro linhas e depois viu essa promoção ratificada na secretaria. Mostrámos que já não existem papões nem pessoas que nos possam impedir de chegar, pelo trabalho, onde queremos.

-- Disse, há uns anos, que pretendia ver o Imortal na I Divisão num prazo de cinco anos. Já passaram três, faltam dois...

-- O Imortal vai ter, no próximo ano, o privilégio de representar na II Divisão de Honra uma área que corresponde a 70 por cento do País, já que essa é a faixa que vai do Algarve a Coimbra e Figueira da Foz, para além de Açores e Madeira. Acho, contudo, que isto assim não é justo nem representa com verdade o futebol português, já que esse campeonato irá jogar-se praticamente em apenas um terço do País.

ALTERAR PROVAS

-- Tem ideias para alterar esse estado de coisas?

-- Olhe, esta situação significa que a AF Braga e a AF Algarve estão certas quando pretendem ver a II Divisão de Honra repartida por duas séries e quando pedem que as equipas B possam disputar esse mesmo campeonato da Divisão de Honra. É que nas equipas B estão jogadores que custam milhares de contos/ano e que não querem jogar na Divisão B. Mas aceitam jogar na Honra. É preciso coragem para dar a volta a este sistema. As associações, a Liga e a FPF têm que ter uma palavra a dizer sobre isto. Mas é preciso coragem para alterar, pois isto vai mexer com muita gente.

-- Vai defender essas ideias na Liga? Será o senhor a ir às reuniões em representação do Imortal?

-- Depende, se tiver tempo serei eu, mas em princípio o senhor Manuel de Oliveira, nosso assessor, irá desempenhar essas tarefas em nosso nome. Ao nível de ideias, adianto-lhe que nos vamos bater por uma I Divisão de 16 clubes. Não existe qualidade para 18 ou 20 clubes, como já sucedeu, e alguns não aceitam esta redução para que não caia A ou B na rua. A AF Braga, que é do Norte, já defendeu esta situação. E pela nossa parte vamos lutar igualmente por outra causa: na II Divisão B devem ser promovidas duas equipas por série, por forma a não transformar aqueles campeonatos em autênticas roletas-russas.

-- Mais promoções na Divisão Sul significa o aumento de possibilidades de ascensão dos clubes algarvios...

-- Olhanense, Louletano e Portimonense deviam estar na Divisão de Honra, tal como o Barreirense, o Amora ou o Juventude de Évora. E isso só é possível com a criação de duas séries. Aí, sim, haverá um verdadeiro campeonato nacional, abrangendo o país todo. Caso contrário continuaremos a disputar, como o iremos fazer no próximo ano, um campeonato de Portugal e Galiza.

-- A retoma económica do Algarve pode ajudar a solucionar essas questões, a médio prazo?

-- O Algarve tem de estar na primeira linha do futebol português. Porque se trata de uma zona de turismo. Como se sabe, turismo e futebol andam de mãos dadas. Não é por acaso que tantas equipas estrangeiras vêm estagiar para o Algarve, no Inverno. Porque aqui temos estruturas e bom clima.

AS VIAGENS

-- Falou-me de um campeonato de Portugal e Galiza. Está a ironizar com o facto de o Imortal ter de atravessar meio país para jogar a cada 15 dias? E como irá gerir esse tipo de situação?

-- Bom, primeiro, o Imortal irá tentar fazer com todos os clubes uma permuta de alojamentos. Cada clube que nos visitar ficará no Auramar, ou outra unidade hoteleira nossa, sem qualquer encargo. E em contrapartida oferecerá semelhante tratamento ao Imortal, quando formos jogar ao campo adversário.

-- Essa é uma verba que oferece de forma directa ao clube...

-- Sim, mas será no Inverno, na época baixa do turismo o que até nos irá possibilitar fazer preços muito especiais para os adeptos dos adversários que quiserem acompanhar a equipa. Por preços muito baixos, poderão aproveitar para ver a equipa e viajar até ao Algarve. É uma forma de promover o turismo de Inverno na região.

-- Isso em nada altera a questão das viagens...

-- Nessa matéria estamos a estudar uma solução, a qual não sabemos ainda se pode ser colocada em prática. Não sabemos se os regulamentos o permitem.

-- Refere-se a quê?

-- Vamos tentar fazer dois jogos em cada deslocação ao Norte, ou seja, jogávamos a um domingo e depois no sábado seguinte. Duas vezes fora, duas vezes em casa. Pensamos que isso é possível.

-- Diminui as viagens, mas se calhar aumenta em muito os custos, já que obriga a estadas prolongadas em hotéis...

-- Também já temos solução para isso: vamos utilizar os hotéis que tenho em Évora e Castelo de Vide. O Imortal, algumas vezes, passará nesses locais algum tempo, quando das deslocações ao Norte. Existem, nesses locais, boas infra-estruturas hoteleiras e desportivas, que são nossas, e dessa forma reduz-se o número de quilómetros a percorrer.

FORMOSINHO/PACO

-- Está tudo programado, pelo que se percebe. E a subida à I Divisão, assunto do qual falou há não muito tempo?

-- Quando vim para o Imortal, falei de um projecto que visava, e visa, colocar a equipa na I Divisão num prazo de cinco anos. Passaram-se três e estamos na Divisão de Honra, o que significa termos pela nossa frente mais dois anos para chegar a essa meta.. Mas, como é evidente, se neste primeiro ano tivermos a possibilidade de subir, tudo faremos para o conseguir.

-- O nome de Paco Fortes tem sido muito ventilado, como provável técnico para essa fase do projecto, mas pelo que se sabe Ricardo Formosinho vai continuar, verdade?

-- Fala-se, realmente, muito do Paco e ele só não está comigo porque eu não sou pessoa de trocar aqueles que trabalham com lealdade, como é o caso do senhor Formosinho. É um trabalhador honesto, com o qual me entendo bem e tentarei dar-lhe os ovos para ele fazer a melhor omeleta. Na minha política, não é o treinador que sai, mas sim os jogadores, quando não têm qualidade. Por isso, na época passada saíram, a meio, cinco ou seis, e entraram outros tantos.

-- Acompanha a par e passo cada transferência, como no passado, ou deixa essas tarefas para outros?

-- Não entra nenhum jogador nesta equipa sem a minha aprovação! Mas os senhores Fomosinho e Vítor Silva são os responsáveis pela escolha dos jogadores, embora eu, depois, dê a opinião. Porque se sou quem paga, sou eu quem manda. Para a nova época já temos oito jogadores novos, 12 continuam da temporada anterior e vamos emprestar alguns jovens a clubes do Algarve, nos quais eles terão a oportunidade de rodar sob o nosso controlo.

-- Nota-se que está muito entusiasmado, de novo, com o futebol. Pode dizer-se que, após alguns anos de ausência, Fernando Barata está de volta?

-- Sem dúvida, o Fernando Barata está de volta para ajudar o futebol, porque o Fernando Barata é uma das pessoas que paga para estar no futebol e não se serve dele. Volto a estar mais disponível para o futebol, mas não deixo de trabalhar nas minhas empresas. O Algarve tem de ter uma voz forte no futebol. E se tiver de ser eu, pois irei sê-lo.

-- Uma última questão: parece-lhe bem esta decisão da FPF em atribuir o título de campeão da II Divisão B a cada um dos vencedores das três zonas, atribuindo, através dessa deliberação, um título ao Imortal?

-- O que fica para a história é que o Imortal foi campeão. Creio tratar-se de uma decisão realista. O Imortal aceita bem essa decisão, pois ir agora fazer o apuramento seria um desastre a todos os níveis. Vamos ter um troféu de campeão na nossa vitrina.

"NÃO FOSSE O IMORTAL INVESTIA NO FARENSE"

O presidente do imortal dá-nos, a dada altura, uma imagem de pujança quando se refere ao futebol algarvio. E refere não se incomodar se tiver de ser ele a voz forte desse mesmo futebol. Ora, o clube mais representativo, o Farense, será dos espanhóis, em breve. Atente-se no comentário de Fernando Barata:

-- É com frustração que vejo o controlo do Farense em mãos de estrangeiros. Era uma coisa impensável, sobretudo para quem como eu lá deixou milhares de contos, porque nunca exigi um tostão de volta. Nos últimos dez anos, o Farense teve gestões ruinosas. Digo-lhe uma coisa: se não estivesse no Imortal, teria sido eu, e não os espanhóis, a fazer aquele negócio.

-- Estando o Algarve a atravessar um grande momento económico, como justifica que os empresários da região não tenham ajudado o clube?

-- Os empresários algarvios ainda não sentiram a força do futebol, a importância do futebol. O Algarve não tem líderes, é uma região de muito individualismo. O Norte tem mais voz porquê? Porque tem líderes.

"NEGOCIAÇÕES COM A TVI E A SIC"

NA próxima temporada, por estar na II Divisão de Honra, o Imortal poderá ter alguns dos seus jogos televisionados. Contudo, a Spor TV não é o operador eleito por Barata:

-- Estamos em negociações com a TVI e com a SIC, no sentido de serem transmitidos alguns jogos do Imortal, nomeadamente aqueles que disputar com Beira Mar, D. Chaves e Académica, e outros que possam vir a interessar os operadores. Não sei se esses jogos serão transmitidos de manhã ou à noite, já que tais pormenores irão ser analisados por quem tem interesse neles, ou seja, a TVI ou a SIC. Se equaciono vender jogos à Spor TV? Nesta altura não, já que estamos a negociar com os operadores que referi e numa base de contrato a três anos, o qual possa prever a eventualidade de subirmos à I Divisão.

"FUTEBOL E BASQUETEBOL POR 225 MIL CONTOS"

O Imortal será, na próxima época, um nome incontornável no panorama desportivo português, já que a equipa de futebol irá disputar o campeonato da II Divisão de Honra, enquanto a formação de basquetebol participará no campeonato da Liga profissional. E esta operação envolve muito dinheiro:

-- O orçamento do futebol será de 150 mil contos, enquanto o do basquetebol andará pelos 75 mil contos. Serão, no total, 225 mil contos. A nossa equipa de basquetebol irá jogar no pavilhão de Faro por duas razões: porque o pavilhão do Imortal não tem grandes condições e porque queremos que a formação de basquetebol seja olhada como a equipa que representa o Algarve e não apenas Albufeira. Daí a escolha de Faro, que é a capital do distrito. Aliás, nas camisolas surgirá o nome "Algarve", num acordo realizado com a Comissão de Turismo da região. As pessoas poderão também ver os jogos do Imortal na Spor TV, já que a Liga fez um acordo com esse operador e nós respeitamos todos os acordos da Liga. Será mais uma forma de publicitar o Algarve.

JOSÉ RIBEIRO

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