A experiência de Sevilha não lhe deixou grandes recordações, sobretudo pelo apoio que faltou. “Fui uma contratação da direcção, não do treinador e isso não ajudou nada”, lamenta. Agora quer ganhar ritmo e iniciar a nova temporada “a cento e vinte à hora”
BAKERO está de regresso a Portugal, agora para representar o Marítimo, depois de um ano “perdido” em Sevilha, onde raramente fez parte das opções dos técnicos. O veloz dianteiro, considerado uma das grandes esperanças do nosso futebol após a fulgurante época realizada em Leiria, quer agora recuperar o tempo perdido, mostrando que está bem “vivo”.
Cedido aos madeirenses por empréstimo nesta época, o jogador mostra-se para já contente com a adaptação à sua nova equipa.
- O balanço das primeiras semanas é bem positivo. A equipa tem vindo a trabalhar bem, apesar de algumas lesões que surgiram, mas esperamos que até o início do campeonato esteja tudo a cem por cento. Queremos começar a prova da melhor forma. Além disso, o ambiente de trabalho é espectacular. Já conhecia alguns jogadores e é evidente que isso torna mais fácil a nossa adaptação. Estou a integrar-me bem na Madeira e isso é meio caminho andado para triunfar.
- É novidade para si viver numa ilha?
- É muito diferente dos lugares onde estive, pois é um meio mais pequeno. Mas vai ser mais fácil adaptar-me aqui que a Sevilha. Fui para lá sozinho, se bem que contasse com a ajuda da minha família, que me apoiou bastante nos primeiros meses. Já estou na Madeira há um mês, fiz grandes amizades e sinto-me ambientado. Penso que a época vai correr-me bem.
FALTAM JOGOS
- Os primeiros jogos de preparação mostraram um Bakero a voltar, aos poucos, ao nível que o fez notado.
- Estive parado dois ou três dias durante o estágio de Mafra, devido a uma lesão no pé esquerdo, mas depois actuei no jogo com o Estrela e com o Caldas, onde fiz os dois primeiros golos com a camisola do Marítimo. É sempre bom marcar, pela motivação que dá para o futuro, mas procurei sobretudo trabalhar para a equipa, que é o mais importante. A forma vai surgindo aos poucos.
- Em princípio vai fazer o lado direito do ataque do Marítimo. É nessa posição que se sente melhor?
- É o lugar a que estou habituado, mas também posso jogar noutras posições, se o ‘mister’ assim o entender. Repare, por exemplo, que contra o Caldas fiz dois golos e estava a jogar atrás do ponta-de-lança. Foi uma aposta que deu bons resultados. Fisicamente sinto-me já perto do melhor. No decorrer desta semana e do Torneio Autonomia, espero melhorar ainda mais, de forma a iniciar a época, se possível, a cento e vinte à hora.
- Depois de um ano quase parado, não se recupera a forma de um momento para o outro...
- É verdade, mas apesar de quase não ter jogado em Sevilha, treinei sempre bem todos os dias. Era pior se tivesse sofrido uma lesão e obrigado a estar afastado durante um ano. Falta-me o ritmo competitivo, precisamente aquilo que venho procurando conquistar a cada treino e a cada jogo de preparação.
- Quantos minutos jogou em Sevilha na época passada?
- Ao certo não lhe sei dizer, mas posso dizer que participei somente em três encontros e nem 45 minutos cumpri em cada. Entrava sempre na segunda parte, quando faltavam dez ou quinze minutos para o final. Nem deu para aquecer. Ficou a experiência, que é sempre importante para um jovem. É claro que um jogador precisa de jogar, não foi o meu caso, mas pude ao menos participar num campeonato tão competitivo como o espanhol. Aprende-se muito, no meio de jogadores de grande qualidade.
SEM OPORTUNIDADES
- Se pudesse voltar atrás no tempo, tomava a decisão de rumar a Sevilha?
- Antes de ser transferido para Espanha, tinha dito à Imprensa que gostava de permanecer em Portugal mais um ou dois anos, visto que era o meu primeiro ano de I Divisão e pretendia adquirir mais experiência. Assim não aconteceu e, até pela forma como saí de Leiria, decidi aceitar a proposta. As coisas não correram como esperava, mas no final desta época lá estarei outra vez, pois tenho contrato com o Sevilha. Mas, se for para repetir o ano transacto, prefiro ficar cá. É bem melhor ficar no meu país, onde as pessoas me conhecem e posso adaptar-me mais facilmente. Se, ao invés, apostarem em mim para jogar, é bem diferente. Qualquer jogador gosta de participar no campeonato espanhol, se calhar o melhor do mundo. Tudo vai depender daquilo que fizer cá no Marítimo. Se fizer uma boa época posso até dar o “salto” para um clube de maior projecção.
- Ficou magoado com algumas pessoas em Sevilha?
- Claro que muito contente não posso estar. Se um clube contrata um jogador tem, pelo menos, de lhe dar oportunidades para mostrar o seu valor. Não foi o meu caso. No início receberam-me bem, mas com o decorrer do campeonato não me apoiaram, não fizeram aquela pressão junto do treinador para ver as minhas qualidades. Fui uma contratação da direcção, não do treinador e isso não ajudou nada. Quando as coisas correm mal numa equipa, algo deve mudar. Mas isso não aconteceu em Sevilha, pois a equipa esteve jogos e jogos sem ganhar e nunca se mudou nada. Continuei a trabalhar com a esperança de ser chamado, pois os resultados não apareciam, mas infelizmente não aconteceu. Mentalizei-me que era um ano perdido e comecei a pensar no meu futuro, pedindo ao meu empresário para encontrar uma solução.
MARÍTIMO IDEAL
- Quando entrou o novo treinador, ele não falou consigo?
- Falou, pedindo-me para ter calma que ia ter uma oportunidade. Só que quando entrou faltavam poucos jogos para terminar a época. Apenas joguei dez ou quinze minutos nalguns jogos. Não deu para nada, apenas para dizer hoje que joguei na liga espanhola. Foi a única coisa de bom que ficou.
- Entretanto, em Dezembro colocou-se a possibilidade de voltar a Portugal, para jogar no Sp. Braga. Que falhou?
- Houve de facto essa possibilidade, a direcção do Braga falou com o meu representante para me ceder por empréstimo, mas como faltavam quatro meses para o fim do campeonato acharam que o investimento era muito alto. Preferiram aguardar pelo final da época, mas depois foram buscar o Luís Filipe, pelo que é natural que se desinteressassem.
- O Marítimo é o clube certo para relançar a carreira?
- Creio que há poucos clubes em Portugal como o Marítimo que me possam dar condições para voltar ao que era dantes. Quero reconquistar a alegria de jogar e mostrar às pessoas que ainda estou por cá e sou capaz de fazer uma época ao nível daquela que efectuei há dois anos, em Leiria.
«GOSTAVA DE VOLTAR À SELECÇÃO»
De regresso a Portugal, é natural que a Bakero se abram novamente perspectivas de representar a selecção nacional:
- Não é fácil jogar na selecção principal, formada por grandes jogadores, mas ainda temos a selecção B, que é sempre uma possibilidade. Gostava de voltar a ser internacional, mas para isso é preciso jogar, pelo que estou a trabalhar para ganhar um lugar na equipa do Marítimo.
- Pode considerar-se o Bakero como um jogador que integra aquela geração com aspirações a vir a estar presente no Euro-2004?
- Muitos dos jogadores que fizeram parte da equipa de “esperanças” na minha altura e agora integram a selecção B têm condições para jogar por Portugal no Euro-2004. Eu também desejo lá estar e tenho quatro anos pela frente para trabalhar, ganhar experiência e mostrar que tenho qualidade.
- Como é que viu a participação de Portugal no Euro-2000?
- Estivemos brilhantes e só foi pena aquele azar do Abel Xavier. Mas temos de aceitar a realidade, já que a falta existiu mesmo. Ele meteu a mão à bola. De resto, a campanha da selecção foi excelente e penso que podemos encarar a qualificação para o Mundial-2002 com ânimo redobrado.
«EURORA AINDA MAIS DIFÍCIL»
Uma vez mais, o Marítimo parte com a ambição de intrometer-se na luta pelos lugares que dão acesso às provas europeias. Mas Bakero mostra-se cauteloso quando instado a abordar o assunto, optando por esperar para ver. A concorrência impõe respeito.
- O Marítimo luta sempre por alguma coisa, neste caso a Europa, mas temos de ver que o campeonato português está cada vez mais competitivo e as equipas mais reforçadas. Por exemplo, tive oportunidade de ver o V. Guimarães contra o FC Porto em Felgueiras, que é a minha terra, onde mostrou bom futebol. É um sério candidato à Europa, assim como o Boavista e o Braga. Só há lugar para quatro equipas, incluindo os ‘grandes’, mas o campeonato é longo e temos de pensar jogo a jogo.
- Quem é o principal candidato ao título?
- Na minha opinião, o Sporting pode voltar a ser campeão nacional. Fez grandes contratações, tem grandes jogadores da selecção nacional e à partida reúne mais condições.
- No Benfica joga Marchena, um ex-colega seu em Sevilha. Que pode dizer-se dele?
- É um jovem defesa de grande classe, que tem mostrado o seu valor nestes primeiros jogos de preparação. Um jogador que dá tudo, que treina sempre no máximo, além de ser uma pessoa espectacular. Foi uma boa aposta do Benfica, que mais tarde vai retirar dividendos do seu investimento.
QUEM É QUEM
Nome: Orlando José Lemos Martins (“Bakero”)
Data de nascimento: 02-04-1978 (22 anos)
Naturalidade: Felgueiras
Altura: 1,65 metros
Peso: 64 kg
Clubes que representou: Felgueiras, União de Leiria e Sevilha
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