Rui Correia tem hoje 35 anos e representa o Seixal Clube 1925, da segunda divisão da AF de Setúbal, onde vai terminar a carreira no final da temporada. Ao longo do seu trajeto como futebolista profissional, o experiente central representou clubes como o Nacional, o Paços de Ferreira ou o Estrela da Amadora e viveu, nos últimos 15 anos, uma verdadeira montanha-russa de emoções.
Subiu e desceu divisão, mas nunca deixou para trás a paixão pelo futebol, desporto que começou a praticar na rua com o irmão, que também foi futebolista e que é agora seu treinador no clube da terra. O pai também foi jogador e, por isso, Rui cresceu no mundo do desporto-rei, mas apenas aos 22 anos percebeu que podia fazer do futebol a sua vida.
"No Fabril do Barreiro fizemos uma excelente campanha na Taça de Portugal e acho que foi por aí, pela boa campanha que fizemos e pelo campeonato que fizemos, que eu chamo a atenção de vários empresários, de vários clubes e depois foi uma questão de tempo até me aparecerem com uma proposta de alguns clubes da segunda liga", afirmou Correia, em entrevista a Record.
Formado no Seixal, o defesa passou ainda por clubes como o Zambujalense, o Amora e o Sesimbra, todos dos escalões inferiores do nosso futebol, antes de chegar, por fim, ao Portimonense, da segunda liga, onde ficou apenas uma temporada. Recebeu uma chamada do Nacional e foi para a Madeira viver a melhor fase da carreira.
"Eu faço uma excelente época no Portimonense, só fico lá uma temporada apesar de ter contrato, e assino pelo Nacional, da primeira divisão, que ia participar na Liga Europa. Foi o sítio onde me senti mais feliz no futebol. Senti-me mesmo em casa, o clube também sentiu que eu era um excelente profissional, um bom jogador. Casámos bem", recordou o experiente futebolista.
"Foi um tiro que me saiu pela culatra"
No entanto, para tristeza do Nacional e de Rui Correia, a passagem do central pelos alvinegros não terminou da melhor maneira. Os madeirenses desceram à segunda liga e o futebolista teve de tomar uma decisão difícil ao fim de três anos na Madeira. "Tive propostas da Primeira Liga e decidi abrir mão do Nacional. Fui para o Paços de Ferreira, no entanto, foi um tiro que me saiu pela culatra. Eu desço com o Paços de Ferreira e o Nacional é campeão da segunda liga", lamenta Correia, que na temporada seguinte também não foi feliz na Capital do Móvel.
"O Paços de Ferreira achava que eu deveria sair por ter um salário acima da média para o que é a realidade de um clube de segunda liga e queria que eu arranjasse uma solução a todo o custo e as soluções que me arranjaram e que existiam realmente eram para o estrangeiro, para países que não faziam muito sentido para a minha carreira desportiva e então eu decidi ficar. Essa decisão foi um pouco contra o que o clube tinha em mente, então houve ali uma espécie de conflito entre mim e o clube e acabei por ficar um pouco à parte da equipa."
Somou apenas quatro jogos em 2018/2019, quando o Paços venceu a Segunda Liga, e, por isso, decidiu voltar onde foi feliz. "Eu achei que ao regressar a um sítio onde já tinha sido feliz que as coisas iam correr bem, que de uma forma ou de outra ia ter o meu espaço, que ia ter a minha felicidade de volta. Foi um pouco por aí que optei por ir para o Nacional. As pessoas queriam-me lá, eu também queria lá estar e as coisas acabaram por correr bem."
Contudo, voltou a descer de divisão ao serviço do Nacional, mas desta feita seguiu com a equipa para o escalão abaixo. Esteve mais uma época na Madeira e em 2022/2023 mudou-se para a Amadora, onde viveu uma das épocas mais emocionantes da carreira.
"Foram emoções mesmo até ao último dia"
O Estrela ficou no terceiro lugar da segunda liga e, como tal, teve de jogar o play-off de acesso à Primeira Liga, diante do Marítimo. O resta é história. "A ideia não era subir logo. Todos queríamos subir, mas as coisas acabaram por acontecer. Tínhamos um excelente grupo, fomos bem orientados, estávamos todos unidos pelo mesmo, sentíamo-nos uma família e acabámos por subir. Foi uma época mesmo até ao último dia, subimos na Madeira, no play-off, nos penáltis. Foram emoções mesmo até ao último dia."
No final da época, e apesar de ter ajudado o Estrela a regressar ao primeiro escalão 14 anos depois, o clube informou Rui Correia que não contava com ele e o defesa rumou a outro histórico do futebol português. "Acabou por ser uma solução um pouco de conforto, aqui perto de casa, o Belenenses, que tinha acabado de subir à Segunda Liga. O treinador Bruno Dias andava a fazer-me a cabeça para ir para lá e eu acabei por aceitar."
A temporada não foi positiva, uma vez que o Belenenses teve três treinadores e voltou a cair para a Liga 3. "Com o mister Bruno Dias as coisas não estavam assim tão mal, mas na realidade quem manda no Belenenses são os adeptos. O presidente bem tenta mandar, mas se os adeptos começam a fazer pressão...É um clube grande, já foi campeão nacional, mas os adeptos ainda acham que são os campeões nacionais atualmente", defendeu.
Depois, esperou por propostas da primeira ou da segunda liga perto de casa. Rui Correia queria ser pai e estar perto da família e, após seis meses sem jogar, assinou pelo Sintrense, antes de voltar a casa.
"Vai ser o ponto final, a não ser que me apareça aqui o Real Madrid"
16 anos depois, o central voltou a vestir a camisola do Seixal, onde pretende terminar a carreira no final da temporada. "Achei por bem acabar aqui no Seixal, onde as coisas estão a correr super bem, estamos em primeiro lugar do campeonato, sou o melhor marcador da equipa, em doze jogos tenho sete golos! O grupo é muito bom, tanto os miúdos como a malta mais velha, temos um grupo muito bom. Vai ser o ponto final, a não ser que me apareça aqui o Real Madrid e a gente vá para Espanha", atirou entre risos.
No Seixal, Correia é treinado pelo irmão,Tiago. Como é, então, ser orientado pelo mais velho dos Correia? "Em todos os clubes há um treinador. Neste caso acaba por ser o meu irmão, mas só é meu irmão fora dali, ali dentro acaba por ser o meu treinador. Como é óbvio, também tenho um papel diferente ali no clube, sou capitão, tenho uma boa relação com a direção, com o presidente, tenho um papel um pouco diferente dos outros jogadores. Apesar de ele ser meu irmão, ali temos uma relação mais profissional."
"Achei que poderia chegar à Seleção ou a um grande"
Ao fim de quase 20 anos de carreira, Rui Correia prepara-se para pendurar as chuteiras. O futebolista mostra-se satisfeito com o seu percurso, mas lamenta não ter alcançado dois sonhos. "Quando comecei a cimentar-me na Primeira Liga, comecei a achar que poderia chegar à Seleção Nacional ou que poderia chegar a um clube grande em Portugal. Foram sonhos que não consegui concretizar, mas chegar a profissional já é tão difícil, chegar a uma Seleção ainda mais difícil é. Atingi alguns objetivos, outros não. Os sonhos estão sempre lá, temos sempre a cenourinha, como se costuma dizer, à frente dos olhos, estamos sempre a correr atrás dela, mas não é por aí que a minha carreira tem mais ou menos mérito."
Agora, segue-se o pós-futebol e o plano parece bem delineado na cabeça do defesa. "Tenho investimentos feitos em negócios de construção de casas, de moradias. Se quiseres comprar casa, podes vir aqui a Fernão Ferro", concluiu em jeito de brincadeira.