Advogados e Juízes

Nuno Almeida é o mais jovem árbitro da 1ª categoria. Duarte Gomes é internacional. Ambos partilham a paixão pelas leis quer no campo, quer fora dele, através do curso de Direito. O primeiro já exerce, no estágio, e ao segundo restam três cadeiras. Os "juízes" juntaram-se, vestiram a toga de advogado, e saíram em defesa da tão criticada arbitragem nacional. Eis como refutaram as "acusações"

Esta é uma das piores épocas para a arbitragem portuguesa!

Nuno Almeida: "Não concordo! Erros na arbitragem existiram sempre. Somos seres humanos. No entanto, desempenhamos uma função nobre que não está ao alcance de qualquer um. Criticar é fácil, com três ou quatro repetições à frente. Mas nós temos de decidir no momento. Para além de não ser um ano negro para a arbitragem, considero que estamos cada vez mais preparados e capacitados para a função.

Duarte Gomes: "Os árbitros não têm sempre razão, mas o fenómeno televisivo faz com que não seja uma guerra justa. Pierluigi Collina disse que perdia sempre a batalha com as repetições e elas às vezes criam nas pessoas sentimentos de raiva e injustiça. Os erros não aparecem por má fé. No final das contas, a verdade desportiva ganha sempre. Não se ouve os técnicos dizerem que tomaram uma má decisão estratégica ou os dirigentes confessarem que não pagam ordenados. No futebol, todos têm de colocar a mão na consciência."

A arbitragem portuguesa é mal vista no estrangeiro!

N.A: "O meu colega está mais à vontade para rebater essa afirmação por ser árbitro internacional. Mas é fácil de ver que Lucílio Baptista, Paulo Costa e outros que não têm tanta visibilidade estão sempre a apitar jogos no estrangeiro. Gosto do que vejo lá fora, mas em nada ficamos aquém. Mesmo no que respeita a árbitros-assistentes".

D.G.: "Nunca tivemos tantas nomeações para jogos europeus nem para cargos de alto nível na estrutura da UEFA. E são os próprios dirigentes daquele organismo a elogiar a arbitragem portuguesa. Infelizmente, por cá, continua-se a chorar pelos 'queridos árbitros estrangeiros'. Veja-se em Inglaterra. Os árbitros ingleses erram tanto como nós, mas não se vêem os jogadores a reclamar. É uma questão de cultura".

Com a saída de Vítor Pereira, Portugal deixou de ter uma verdadeira referência de nível internacional!

N.A.: "Rotundo não! Porque Vítor Pereira não deixou de ser uma grande referência. Continua entre nós, com outro tipo de funções, que contribuem ainda mais para a melhoria da imagem da arbitragem nacional e internacional. Como membro da Comissão de Arbitragem da UEFA e observador de árbitros de elite, tem um papel ainda mais importante a desempenhar".

D.G.: "Sucessão e renovação impõem-se em qualquer área da vida. Vítor Pereira terminou uma brilhante carreira, mas já está outro árbitro português colocado na categoria "Top Class", que é o Lucílio Baptista. Devo dizer que os responsáveis pela arbitragem mostraram muito cuidado na forma como se deu a sucessão. Os interesses da arbitragem nacional ficaram salvaguardados".

Os árbitros são vulneráveis a pressões externas

N.A.: "Nunca cedi, não cedo e jamais cederei a pressões. No dia em que o fizer, abandonarei a arbitragem na hora. Estou cá porque gosto. Como diz o meu conterrâneo e ex-árbitro César Correia, não vivo da arbitragem, vivo para a arbitragem. Não preciso dela para nada".

D.G.: "A arbitragem está diferente. É um misto de veterania e juventude. Hoje em dia, não temos as costas quentes e podemos falar abertamente do que fazemos. Só é pressionável quem não tem carácter ou capacidade para ser árbitro. E eu acredito que não existem árbitros que cedam a pressões. Não nos podemos envolver em guerras que não são nossas, temos de passar despercebidos".

Os árbitros favorecem sempre alguém!

N.A.: "Essa acusação não é para mim de certeza. E ponho as mãos no fogo pelos meus colegas. Se o fizeram, não foi de propósito. Aliás, digo-lhe que não tenho dúvidas de que favoreço alguém. E esse alguém é a arbitragem".

D.G.: "Estamos sujeitos ao erro. Mas haverá alguém mais interessado do que eu em que tudo corra bem num jogo? Na maior parte das vezes, estou a ser visto por toda a gente através da televisão e não gosto de ser criticado na praça pública. O tempo da suspeita e dos fenómenos invisíveis da corrupção acabou há muito."

Ainda se compram árbitros em Portugal!

N.A.: "Onde? No Centro Comercial Colombo? Não acredito que isso aconteça. E quem o afirma, quem coloca em questão a nossa integridade profissional, tem de fundamentar a acusação. Há corruptos na arbitragem? Provem!"

D.G.: "Já quase ninguém coloca essa questão. Cada vez mais se acredita totalmente na nova arbitragem. Só tenho pena que não se fundamente as 'bocas' que se mandam. Acho indecente levantar-se o dedo sem provas. De bons samaritanos está o inferno cheio. Compram-se árbitros? Que se investigue, pois nós não gostamos de corruptos entre nós, de maçãs podres."

Nuno Almeida

Este algarvio é o mais jovem (27 anos) árbitro da 1ª categoria. Começou aos 18 anos por influência do pai, árbitro nas distritais, e, não fosse a insistência deste, teria desistido após o primeiro jogo que apitou, farto dos insultos de um adepto. Chegou esta época à SuperLiga e já conta com três jogos no currículo, incluindo o Sporting-Sp. Braga, que gerou discussão devido ao primeiro golo de Jardel (a bola entrou?).

A advocacia também não surgiu por vocação, mas sim por influência da família da namorada [actual esposa]. Tirou o curso na Universidade Moderna, em Beja, e está prestes a concluir o estágio, faltando a prova de agregação. As primeiras impressões são motivadoras: "Gosto de estar no tribunal e do sentimento da aplicação de justiça". Prefere a área criminal, "mais aliciante, com casos quentes", mas aceita tudo. Compatibilizar arbitragem e advocacia é complicado: "No momento, ganha a arbitragem. Tenho exames na Liga em Março e isso fará com que adie a agregação para Outubro".

Duarte gomes

Faltam três cadeiras para concluir o curso na Universidade de Lisboa (Clássica). Mas, aos 30 anos, o lisboeta promete não ficar por aí: "Quero seguir magistratura". Sabe que ser juiz num tribunal inviabiliza qualquer outra profissão: "O tempo joga a meu favor. Como a arbitragem ainda não é profissional, não haverá colisão de interesses tão cedo". A advocacia foi mesmo uma questão de vocação: "Desde criança que sei o que quero, apesar da minha família ter uma tradição na medicina". Filmes de advogados, como Perry Mason, eram os favoritos.

Iniciou-se na arbitragem com 18 anos e estreou-se na I Liga a 4 de Janeiro de 1998. Ganhou rapidamente as insígnias de internacional: "Como as coisas correram bem no futebol, adulterei as minhas prioridades e o Direito sofreu com isso. Mas agora voltei a ter tempo para acabar o curso". Está parado por lesão desde que apitou o Boavista-FC Porto, na 2ª jornada, e procura agora recuperar sem pressas, dedicando-se mais à lei penal.

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