O julgamento do Caso dos Emails aproxima-se do fim e a defesa do Benfica não tem quaisquer dúvidas: "Francisco J. Marques, Diogo Faria e Júlio Magalhães devem ser condenados por todos os crimes de que estão acusados".
Numa longa alegação final, dividida entre os advogados João Correia e Rui Patrício, procurou-se contrariar a versão de que existia interesse público na divulgação dos emails de figuras ligadas ao Benfica: "O único interesse era o do FC Porto". Além disso, defendem que ficou provado que todos os arguidos deverão ser responsabilizados, ainda que reconheçam que "há níveis de responsabilidade diferentes".
"Não só porque são imputados crimes diferentes, mas também considerando a medida de participação de cada um dos arguidos. A conduta menos grave é a de Júlio Magalhães, a do meio é a de Diogo Faria, embora já assuma bastante gravidade, e no topo a de J. Marques", começou por assinalar Rui Patrício, antes de explicar a participação de cada um dos arguidos.
"Tenho grande simpatia por Júlio Magalhães, pelo percurso, e até percebemos que está numa posição delicada. O arguido tinha espécie de acordo com FC Porto sobre conteúdos do Porto Canal. Tinha, é um facto, mas desculpem a ligeireza da expressão, temos pena. Esse acordo com o FC Porto não bate certo com os critérios da responsabilização dos pontos de vista de um diretor geral de um canal. Tinha a obrigação e o poder de parar as condutas e travar a emissão dos programas. Admito e compreendo que tinha contas para pagar, mas do ponto de vista da responsabilidade, temos pena. Não colhe o argumento de que ele não sabia. Ele não participava no alinhamento, mas ele sabia que semana após semana se divulgava informação que era informação obtida e divulgada de forma criminosa. Nos programas era anunciado o que se daria na semana seguinte. E até esteve no programa".
Relativamente a Diogo Faria, o causídico explica que "ficou claro que não foi ele que protagonizou os programas", mas que, apesar de ter não sido ele a "lançar o tiro" foi quem limpou a arma, carregou a arma e a entregou ao atirador". "Eu recordo aqui que ele foi contratado propositadamente para esta tarefa. Ele foi lá oferecer-se com Pedro Bragança, com o seu portismo, achando que podia contribuir e tinha logo aqui uma tarefa ótima para o Diogo Faria fazer. Fez a seleção, foi ele que contribuiu para o modo como foi informado cada programa e como as coisas foram selecionadas para J. Marques. Ele fez a triagem, a preparação, acede na primeira linha aos emails e depois dá o contributo material muito significativo para aquilo que é o trabalho de transmissão do programa. O próprio sabia à partida que tinham sido adquiridos os emails de foram duvidosa. Ele lá andou durante semanas e meses a vasculhar naquela informação", concluiu relativamente ao arguido.
Relativamente a J. Marques, Rui Patrício defende que "é a alma de tudo isto" e que foi "quem deu o corpo às balas"
"Vê-se claramente na forma como isto foi moldado, o perfil e o objetivo do arguido. A defesa do FC Porto e isso implica o ataque aos rivais. É ele que protagoniza o dia a dia desta crónica folhetinesca e depois também é o autor do polvo encarnado. Os arguidos cometeram os crimes de que vêm acusados, ainda que com gravidades diferentes. Além disso, os arguidos continuam a achar que fizeram muito bem, que agiram bem. Dirão que agiram movidos pelo interesse público. Os dois não têm pinga de arrependimento. Júlio Magalhães revelou algum incómodo com o seu comportamento. Em quarto lugar o interesse público é uma mistificação a que recorrentemente os arguidos recorrem, numa tentativa de esconder coisas óbvias".
Procurando antecipar as alegações finais dos advogados de defesa, Rui Patrício procurou já desvalorizar o facto da SAD do Benfica, Rui Costa, Soares de Oliveira, José Eduardo Moniz e Nuno Gaioso terem sido, recentemente, constituídos arguidos num processo em que estarão em causa investigações de corrupção desportiva. O timing em que foram constituídos arguidos terá sido, de acordo com um advogado, "uma mera coincidência".
"Como saberão, recentemente vieram a público notícias sobre constituição de arguidos num processo. Os arguidos deste processo dirão aqui está a prova do interesse público. Isso não é evidência de nenhum interesse público. Mais a mais, porque já passaram cinco anos e tal sobre o início deste processo. Mas gostava de dizer que a constituição de arguidos não teve qualquer implicação concreta. Foram constituídos arguidos de forma genérica".