César Atienza: «Podia ter ido ao Real mas Atlético era ilusão»

AOS sete anos de idade, o pequeno César aceitou participar numa brincadeira de amigos de bairro e começou assim a dar os primeiros pontapés numa bola.

O ”vírus” do futebol já o habitava, mas a partir desse instante a ”doença” foi alastrando, tomando conta do seu ser.

Quem pagou a ”factura” foram os estudos, relegados para segundo plano. ”Colchonero” desde o ventre da mãe, a paixão fiel pelo Atlético de Madrid levou-o a prestar provas no clube de Gil y Gil, em detrimento do grande rival, o Real.

César tinha 12 anos e jeito para o futebol. Agradou, convenceu e ficou. Manteve-se fiel ao clube do seu ”coração” até à temporada finda. Pelo caminho ficaram cinco épocas no Atlético Madrid B e um percurso de dura aprendizagem pelos escalões secundários, ao serviço de Levante e Almería. A falta de confiança dos responsáveis ”colchoneros” acabaram por fazer esboroar o sonho de poder um dia atingir e singrar na equipa principal do Atlético.

O convite do Boavista surgiu na altura ideal e poderá relançar a carreira do dianteiro esquerdino madrileno.

– Como foram os primeiros passos no futebol?

– Comecei aos sete anos, por brincadeira, numa equipa de amigos do bairro, numa equipa chamada Bar Burgos. No primeiro ano apontei uns 50 golos e fui dando conta que efectivamente levava jeito e aquilo me encantava. A partir daí já só praticamente pensava no futebol.

– Deixou logo de estudar?

– No colégio não me dava nada bem, estava sempre a pensar no futebol e decidi ir prestar provas nas categorias inferiores do Atlético de Madrid, aos 12 anos. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida quando me escolheram e aceitaram-me para ingressar no clube.

– Era a realização de um sonho?

– Sim. Podia ter prestado provas no Real, mas como adepto do Atlético optei pelo clube da minha simpatia, era a minha grande ilusão.

– Era fiel ao Atlético?

– Desde que me conheço sou aficionado do Atlético. Ainda estava no ventre de minha mãe e já acompanhava as “peñas” do Atlético, aos jogos, até fora de Madrid. Já nasci com alma “colchonera”.

– Está arrependido dessa escolha?

– Nada, pois desde muito novo ensinaram-me naquele clube a ter disciplina, a ser um bom companheiro e uma boa pessoa e, sobretudo, a aprender dia a dia o que podia esperar de uma carreira no futebol.

– Mas não esperava ter mais oportunidades no ”seu” clube?

– Qualquer jogador pensa em chegar à primeira equipa e não fujo à regra. Mas no fundo até me senti afortunado, na medida em que aos 20 anos renovei contrato com o Atlético, ao contrário de tantos outros companheiros que nem sequer tiveram oportunidade de representar a filial [n.d.r.: Atlético Madrid B].

– Alimentava a esperança de poder voltar?

– Claro. Subi aos 16 anos e representei a filial até aos 19. Renovaram comigo e decidiram que seria melhor “rodar” noutro clube para amadurecer. As coisas correram bastante bem no primeiro ano, despertando o interesse de outros clubes, que me fizeram boas ofertas, mas insisti no meu sonho de actuar na equipa principal do Atlético. Não tive sorte. Radomir Antic disse que não contava comigo, o que foi decepcionante.

– Nesse sentido, o convite do Boavista surge como óptima rampa de lançamento da carreira, certo?

– Sem dúvida. O Boavista é também um grande clube, está em fase de crescimento e tem demonstrado vontade e capacidade para intrometer-se na luta pelo título, entre os maiores clubes de Portugal. E isso, naturalmente aliado à presença nas competições europeias, motiva-me bastante e cria novas ilusões. Espero ser bem sucedido e mostrar a todos o meu real valor.

DENTRO DE DIAS, CÉSAR SERÁ PAI DE UMA MENINA

TROCAR Madrid por Portugal não foi uma decisão fácil nem leviana para o jovem dianteiro espanhol. A família é a grande razão.

– Não foi nada fácil. Tenho família, dentro de dias serei pai de uma menina e custa sempre deixar o meu país. Mas tampouco vou para o ”fim do mundo”. Portugal é aqui ao lado. Isso pesou bastante na minha decisão, tal como o facto de o idioma ser idêntico ao espanhol.

– Já encontrou casa?

– Ainda não. Vi algumas situações, mas sinceramente nenhuma delas me agradou muito. Para mim é um factor extremamente importante, pois dá-te estabilidade e tranquilidade. Se tudo correr bem, em finais de Agosto a minha família virá para cá.

”CONSTRUIR” GOLOS E FAZER ASSISTÊNCIAS SÃO ESPECIALIDADE

VELOCIDADE, drible fácil e uma qualidade de ”serviço” impressionante e eficaz, são alguns dos atributos do reforço espanhol do Boavista.

– Sou um jogador rápido, tenho bom drible, embora utilize preferencialmente o pé esquerdo, o meu grande forte.

– Já percebi que gosta mais de criar situações de golo e dar a marcar do que facturar por conta própria, certo?

– Já marquei alguns golos, quando me colocavam a jogar no centro do ataque, mas preferencialmente actuo nas alas (em qualquer uma, é-me indiferente) e aí a minha especialidade são as assistências para golo. Há dois anos foram 18, a época que terminou fiz 16 passes para golo. Acabei por marcar apenas um golo.

MARCELO NEVES

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