A VENDA do terreno onde se encontra o Estádio do Bonfim pode ser a única forma de o V. Setúbal travar o défice mensal de 30 mil contos da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) e o passivo de um milhão e 80 mil contos. O presidente da Câmara Municipal de Setúbal (CMS) e da Assembleia Geral do clube, Mata Cáceres, 58 anos, aponta esta solução, mas também refere a urgência de um empréstimo bancário. E garante que a alternativa é a “caducidade do Vitória”. Presidente do Município desde 1986, natural de Portalegre, amigo de Sampaio, Almeida Santos, Guterres e Soares, e apreciador do carácter de Cavaco Silva, assume que escolheu pessoalmente os últimos dirigentes do clube. E que, se for necessário, apoiará o actual e os próximos com dinheiro ou mais terrenos.
-- A participação da Câmara em 40 por cento da SAD beneficia de que maneira a cidade?
-- Há seguramente muita gente que chora e torce pelo Vitória, mas também há quem manifeste alguma indiferença. Mas eu não posso sujeitar o assunto a referendo sempre que quero dar um apoio ao clube. O Vitória é uma grande instituição da cidade, da região e até do País. E, portanto, não me posso alhear de todos os problemas. A minha posição tem sido sempre esta: sendo o Vitória o nosso principal representante desportivo, não posso dizer que as dificuldades do clube nos passam ao lado, e que o meu papel é só fazer habitação social, aumentar as zonas verdes e melhorar a rede de esgotos. Um município consciente das suas responsabilidades sabe que os problemas de um clube com a dimensão do Vitória têm necessariamente a ver com a gestão da cidade.
-- A entrada no capital social da SAD foi sugestão sua?
-- O clube estava em dificuldades, e a Direcção do Vitória [presidida por Justo Tomaz] dirigiu-me esse pedido como se fosse uma situação de vida ou de morte. Recordo-me que estava de férias, e que me telefonaram a dizer que o caso era dramático e que a salvação passava por aí. Como a urgência era grande, decidimos colaborar para que a equipa não caísse numa situação insustentável.
-- Com as contas sempre negativas, faz sentido esse esforço financeiro para manter a equipa na I Liga?
-- A II Liga tem ainda menos receitas e é muito pior. Mas a questão é outra: as pessoas de Setúbal contribuem para o clube com verbas ao nível da II Divisão B e depois exigem um rendimento desportivo da I Liga. Já lá vão os tempos em que os adeptos sustentavam os clubes. Hoje, participam em 10, 12 por cento das despesas. E assim têm de ser outros a pagar a factura. O problema é se essas pessoas um dia também se saturarem deste encargo.
-- Confirma que a SAD tem um prejuízo de 30 mil contos mensais?
-- Não faço ideia. Não sou contabilista dessa empresa. Sei que o Vitória tem um défice mensal dessa ordem e que esse é o grande problema a combater.
VENDER O ESTÁDIO
-- Aceita a venda do terreno onde se encontra o estádio para resolver o passivo?
-- Esta nova Direcção arranca com o objectivo de encontrar soluções. Numa primeira fase, será necessário encontrar uma saída imediata junto da banca ou junto de particulares que se disponham a avalizar empréstimos. Posto isto, e em simultâneo, é necessária uma estratégia de longo prazo que garanta a entrada de receitas.
-- Refere-se a receitas extraordinárias, como a venda do estádio?
-- O problema do Estádio do Bonfim está a ser levantado ao contrário. Antes de o abordarmos temos que ter nas mãos uma alternativa para construir o novo recinto.
-- Pode ser o Vale do Cobro?
-- Há espaços melhores.
-- Quanto vale o metro quadrado no local do actual estádio?
-- Não sei.
-- Como é um imóvel central pode valer sete milhões de contos?
-- Esse valor é manifestamente excessivo, as pessoas que o referem talvez estejam a pensar na construção de coisas inaceitáveis com alturas proibidas.
-- O Plano Director Municipal (PDM) permite a construção de uma área de comércio ou habitação?
-- Seria necessário mudar algumas coisas e fazer um plano de pormenor. Apesar de ser para o V. Setúbal, e de existir uma maior abertura camarária, já que não existem suspeitas de aproveitamento e negociatas, isso leva algum tempo.
-- Quanto?
-- Como o PDM para aquela área prevê a existência de equipamento desportivo, teríamos de mudar tudo. Mas repito: só quando a Direcção do dr. Jorge Góes fizer essa proposta, o que neste momento é apenas uma hipótese, é que a questão será analisada...
...Nestas matérias há sempre muita emoção, mas é conveniente recordar que o Belenenses já ficou sem o campo das Salésias e não morreu, apesar de muita gente ter chorado porque não queria ir para o Restelo. O próprio Vitória já mudou dos Arcos para o Bonfim e também muita gente chorou com saudades do velho estádio. Portanto, como a vida não pára, admito sempre tudo. Ou seja, se essa questão for posta à Assembleia Geral do clube, os sócios serão os primeiros a pronunciar-se e eu nem abro a boca. Se, nessa altura, os vitorianos decidirem dispensar aquele imóvel, então a Câmara tomará uma decisão. Mas posso adiantar desde já que é sempre possível arranjar alternativas urbanísticas que fiquem bem naquele espaço.
-- Tem algum projecto em vista?
-- Centros comerciais, lojas modernas, áreas de escritórios e áreas habitacionais... há sempre soluções. Em vez de estar ali um monte de cimento armado com problemas de estacionamento à volta, ou ter amanhã outras coisas como salas de cinema, é apenas uma questão de decidir seguir esse caminho.
-- Sabe se a nova Direcção aceita essa hipótese?
-- Até podem ser forçados a pensar. O problema que se vai pôr a curto prazo vai ser: chorar pelo Estádio do Bonfim ou chorar pelo Vitória. É que se tiver meios, o clube pode continuar no Bonfim ou no mau fim ou noutra coisa qualquer. Mas se não tiver, caduca.
-- A construção de um estádio municipal que reúna os principais clubes da cidade é uma hipótese?
-- A Câmara já teve capacidade para coisas pequenas, médias e grandes: desde campos para os clubes de bairro e para usufruto dos habitantes, temos também prevista a substituição do novo complexo do Comércio e Indústria. Mas o amor à camisola e a rivalidade impedem que se juntem no mesmo espaço duas equipas adversárias e historicamente rivais.
CONTRATOS EM ESPÉCIE
-- Qual o valor do contrato-programa que a Câmara assina anualmente com o V. Setúbal?
-- Oscila entre os 70 e os 110 mil contos. Mas para ser assinado, o beneficiário tem de se comprometer a cumprir determinados projectos com datas e custos precisos e tem ainda de mostrar o que fez com os anteriores. As cadeiras do estádio foram instaladas recorrendo a este apoio.
-- Confirma que este ano a CMS não teve liquidez para entregar os 90 mil contos estabelecidos e que optou por doar um terreno no valor de 50 mil contos e só o resto em dinheiro?
-- Mais um falso problema! Isso é uma análise que repudio. O que é que interessa ser em dinheiro ou em imóveis? Isto não é um banco, a CMS pode não ter dinheiro e então recorre ao que tem para cumprir os compromissos que assume.
-- Se não tem capacidade para cumprir o contrato-programa para quê vincular-se?
-- O clube vendeu imediatamente o imóvel e até lucrou dois mil contos, o que revela a nossa seriedade e empenho em ajudar. Quando não tenho capacidade de tesouraria arranjo alternativas. Já não é a primeira vez e voltarei sempre a fazê-lo. O mais fácil é a Câmara recusar os apoios e dizer para irem bater a outra porta. Eu tento apenas arranjar alternativas e as pessoas esfregam sempre as mãos de contentes.
-- Quem esfrega as mãos, os beneficiários ou os cidadãos de Setúbal?
-- Não há contestação nenhuma. Nem sequer os outros partidos representados na Câmara. Até agora, nunca ninguém falou. Até porque sabem que se falarem terão se ser eles a arranjar o dinheiro. Recordo-me agora que quando demos os 80 mil contos para participar no aumento de capital da SAD, também estivemos quase a pagar em espécie, ou seja, entregando terrenos.
-- É correcto dizer que a CMS é politicamente refém do apoio popular do V. Setúbal?
-- Não é nada. Só não vendemos nós os terrenos porque se o fizermos o processo nunca mais acaba, pode demorar dois ou três meses. Pelo contrário, se for o clube resolve a questão em duas, três horas e nos dias seguintes tem o dinheiro na mão. As pessoas desconhecem que a tramitação administrativa da nossa actividade às vezes leva mais tempo do que a obra propriamente dita.
-- Mas não é possível prever e planear esse pagamento?
-- Só Deus Nosso Senhor para prever essas coisinhas todas. Faço alterações ao orçamento [20 milhões anuais] de quinze em quinze dias. Por vezes, falha a sisa, ou as finanças atrasam-se, ou o clube precisa subitamente do dinheiro porque não encontrou um patrocinador. Não me posso dar ao luxo de ter ali uma estante com umas malas fechadas com uns milhares ou milhões de contos à espera que algum coitadinho da cidade tenha um problema. Com as dificuldades que temos, não é possível manter uma bolsa de reservas.
O FAZEDOR DE PRESIDENTES
-- Gosta da exposição mediática que a sua influência num clube de futebol lhe garante?
-- Cheguei primeiro à política e só depois ao Vitória. Limito-me a apoiar as direcções e não quero mais protagonismo. Sou presidente da Câmara há 14 anos [quatro mandatos], já fui governador civil duas vezes em Setúbal, já fui deputado na Assembleia da República, apesar de quase sempre com o mandato suspenso, e este percurso fala por mim. Mas também devo dizer que fui quatro vezes presidente da Assembleia Geral do Vitória porque me pediram, dizendo-me de forma radical que eu era mesmo preciso.
-- É normal que todos os presidentes do V. Setúbal sejam seus amigos pessoais?
-- Com os vazios directivos que se têm repetido, é natural que peçam a minha colaboração. E eu tenho de me dirigir a quem conheço, não é? E, portanto, colaborei para o Pedrosa ser presidente, para Manuel Lourenço ser presidente, para o Justo ser presidente, para o Sousa e Silva ser presidente e agora para o Goes ser presidente.
-- Conhece há quanto tempo Jorge Goes?
-- Há muito e tenho confiança absoluta nele.
-- Também está ligado ao PS...
-- Era do CDS, mas em 1995 foi eleito deputado nas listas socialistas como independente.
-- A política é a sua profissão?
-- Sou professor da escola primária e do ciclo.
-- Alguma vez exerceu?
-- Entre 1962 e 1963, e depois de 1966 a 1975.
-- É formado em quê?
-- Estive três anos no Instituto de Ciências Sociais e Políticas mas depois nunca mais tive tempo. Antes já tinha tirado o curso de professor.
-- Tem muitos amigos no PS?
-- Conheço aquela gente quase toda, menos os mais novos. Como estou metido na Câmara o dia inteiro, é difícil, mas sou dirigente do PS a todos os níveis: local, regional e nacional [Comissão Política e Nacional]. Conheço de facto muita gente. Trato por tu o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República [Almeida Santos] e o primeiro-ministro. Tenho tanto à-vontade com eles como tenho com o meu motorista.
-- Considera que essas ligações lhe têm ajudado na gestão camarária?
-- Há muitas Câmaras, e esse tratamento preferencial não é possível até porque existem mais de cem municípios do PS. Mas não me tenho dado mal. Mesmo com os governos de Cavaco Silva mantive uma boa relação. Contrariamente ao que se diz, nunca o considerei uma pessoa rígida, era aliás muito simpático.
ANDRÉ MACEDO
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