Miguel Farinha e os desafios do futebol profissional: centralização e diminuir a carga fiscal

Presidente da EY Portugal, que produziu a 8ª edição do Anuário, traça o caminho a seguir para a evolução e sucesso

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Miguel Farinha, presidente da EY Portugal, apresentou a 8ª edição do Anuário do futebol profissional

Miguel Farinha, presidente da EY Portugal, empresa que produziu a 8ª edição do Anuário do futebol profissional português, em parceria com a Liga Portugal, falou no final da apresentação no Auditório da Arena Portugal, no Porto, sobre os vários temas em destaque.  

Receitas a crescer 8% ao ano: “As conclusões que tiramos é de um crescimento sustentável do futebol em Portugal, de um impacto cada vez maior na economia, de um crescimento das receitas dos produtos e de uma Liga que está cada vez mais a transformar-se num tema muito mais profissional. E queríamos nós, se calhar, que as outras indústrias em Portugal conseguissem crescer tanto, como o futebol tem crescido. Nós estamos aqui a falar das receitas do futebol em Portugal. Nos últimos cinco anos, cresceram a média de 8% ao ano. Acho que não há nenhuma indústria que tenha este crescimento nos últimos anos. Nenhuma indústria consegue estar entre as top seis, sete da Europa. Dificilmente outras indústrias o conseguem fazer, por isso, vemos com muitos bons olhos esse crescimento.”  

Mais adeptos com melhoria das infraestruturas: “Um tema muito importante são as infraestruturas. O investimento em infraestruturas é essencial em Portugal e acho que os clubes percebem isso, junto com as suas dificuldades financeiras, vão fazendo melhorias nos seus estádios. É importante olharmos para as receitas, por exemplo, das apostas desportivas, que hoje em dia grande parte não vão para os clubes. Tem de haver uma repartição diferenciada que permita usá-las para aumentar e melhorar as infraestruturas, mas não só. Depois é preciso saber atrair os adeptos para o clube da terra, ao seu clube local. E não sermos todos, invariavelmente, adeptos de três clubes em Portugal, mas sermos cada vez mais adeptos dos clubes locais que nós conhecemos. Dos Vizelas desta vida, ou do Vitória Sport Clube, que felizmente é daqueles clubes que consegue mais. Mas é preciso fomentar cada vez mais esse gosto do futebol nos vários adeptos.” 

Centralização dos direitos audiovisuais: “Apresentamos aqui alguns dos desafios que Portugal tem nos próximos anos pela frente. Um deles, e é o mais evidente, é o tema da centralização e não é centralizar por centralizar, mas sim porque acreditamos que isso irá melhorar, seguramente, o futebol em Portugal, porque irá trazer mais receitas e, principalmente, mais receitas para os clubes mais pequenos. Em nenhuma outra liga europeia nós temos um cenário em que temos as grandes receitas televisivas concentradas em três clubes face a todo os outros. Se eu conseguir ter melhores clubes ao longo de toda a Liga, e não só daqueles primeiros três ou quatro classificados, seguramente terei melhor futebol e isso tem impacto em muitas vertentes. Se eu conseguir que esses clubes cresçam, eles terão melhor presença europeia como sucedeu com o Vitória de Guimarães, que foi a primeira vez que aconteceu uma presença tão boa, de um clube, na Conference League. É preciso que todos percebam que só têm a ganhar se trabalharem juntos para aumentar este produto e aumentar a forma como o futebol é vendido.” 

Carga fiscal muito pesada: “O tema da carga fiscal tem muito a ver com o IRS que existe em Portugal. É uma carga fiscal pesadíssima. Há outros mercados em que a carga fiscal, primeiro, é inferior de forma geral para a sua população. Para o futebol em particular, há ligas que têm condições privilegiadas, em que os jogadores de futebol, que têm uma vida profissional muito mais curta, têm uma taxa de imposto bonificada que permite atrair os jogadores. O ideal seria haver uma taxa particular para a indústria do futebol, por exemplo, que permitisse, quando eu estou a comparar um jogador em Itália ou em Portugal, eu para pagar ao mesmo jogador em Portugal o que pagam em Itália, teria que gastar o dobro do dinheiro, para ele receber o mesmo líquido na sua conta. Isso, imediatamente, faz com que haja uma desvantagem competitiva gigante. Já não estou a falar, obviamente, dos casos dos Emirados, das Arábias, com taxas zero, não é esse o nosso comparativo, mas dentro da Europa há diferenças muito significativas e é preciso percebê-las e tentar corrigi-las.” 

Seguros extremamente caros: “No tema dos seguros  tem muito a ver com a forma como a legislação está definida, que torna os prémios de seguros extraordinariamente caros, porque um seguro para um atleta desportivo, que tem uma lesão e vai ter de receber durante muitos anos da sua vida, tem de ter, obviamente, prémios elevados. E noutras ligas, existe a legislação que previne uma profissão de desgaste rápido e como é que isso se aplica, porque uma coisa é um jogador que tem uma lesão no joelho e que não pode jogar futebol, mas pode praticar as outras atividades todas da sua vida. Mas aquilo não termina no momento que terminaria a sua carreira profissional, vai muito para além disso e isso torna os seguros extraordinariamente caros, é uma desvantagem competitiva, como estamos a falar de outras. Os clubes pagam muito mais por um seguro do que pagam em Espanha, Itália ou noutros mercados. É importante também tentar perceber isto e trabalhar sobre este tema.”  

Crescimento da indústria do futebol: “A EY faz este anuário há 8 anos e estamos a tentar demonstrar de forma muito prática que é viável e que números são estes. Quando olho para a dimensão de resultados, é preciso perceber que, pela primeira vez, chegámos aos 1.000 milhões de euros em Portugal, um crescimento constante que se tem feito nas várias componentes da receita dos clubes, seja as bilheteiras, o sponsoring, o merchandising, os lugares corporate, mas também tem a ver com transferências dos jogadores e com receitas televisivas, que podem, claramente, crescer mais, contando com a centralização. De uma forma genérica, o futebol é uma indústria rentável e que vale a pena. E não é à toa que, hoje em dia, vemos grande parte dos fundos a olharem para Portugal, a investirem em clubes portugueses e a querer estar no futebol português e os fundos de investimento não o fazem porque vão perder dinheiro.”  

Por António Mendes
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