Dirigentes de FC Porto, Sporting, Sp. Braga e Benfica assumem que a carga a nível de custo é muito elevada
Os responsáveis financeiros dos quatro principais clubes portugueses marcaram presença no Thinking Football e sentaram-se lado a lado num painel para debater os elevados custos que os clubes têm de enfrentar. José Pedro Pereira da Costa, do FC Porto, Francisco Salgado Zenha, do Sporting, Nuno Catarino, do Benfica, e Cláudio Couto, do Sp. Braga, revelaram total sintonia na necessidade de reduzir a carga sobre as SAD, de forma a permitir que o futebol português possa continuar a ser competitivo.
Cláudio Couto, Sp. Braga:
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"O IVA estava a 6% na chegada da troika e passou para 23% com expectativa de que fosse momentaneamente, mas em 2017 todos os espetáculos viram a taxa voltar a 6%, menos o futebol. Sentimos uma discriminação relativamente a outros sectores do espetáculo. Outro aspeto é a questão dos seguros. Pagamos faturas altíssimas em seguros de acidentes de trabalho. Assistimos a casos tão simples como um atleta que num lance tenha um pequeno corte no sobrolho, seja assistido, não saia do jogo, não é acionado seguro de acidentes de trabalho e o que é certo é que passado uns anos o atleta vem reivindicar que tem uma questão estética e exigir que lhe seja dada compensação pecuniária. Isto tem de ser pago e quem paga são os clubes. É muito dinheiro. Com uma simples alteração à legislação, poderá fazer-se a fatura reduzir."
Francisco Salgado Zenha, Sporting:
"Hoje em dia, estamos em sétimo no ranking europeu e a concorrer com seis grandes potências. Nem é coincidência, mas são as maiores seis em termos económicos. Nós nem sequer estamos no top-20. Não há dúvida que tem que ser que perceber que custos são estes e como mitigar estes custos para manter no tipo europeu. Há três países na Europa que têm seguros AT como aqui. Se alguém tem uma pequena lesão, com apenas 5% que pode ser pequena entorse, já recebe indemnização. Nós, Sporting, temos custos de 5 M€ por ano. Há empresas do PSI20 que têm custos menores. É um problema a resolver rapidamente para não perdermos o barco com a Europa. Há logo uma solução óbvia.
Fazemos omeletes com poucos ovos. Hoje ainda temos um modelo de negócio bem definido. Sabemos contratar, sabemos exportar, sabemos formar. Este modelo de negócio é replicável. E estamos a falar de mercados, voltando ao tema da capacidade económica do país, com os quais, comparando, somos pequenos. Temos mercados como a Turquia, a Bélgica, a Holanda que trabalham pouco a formação, mas, no dia em que começarem a trabalhar esse aspeto, vão ultrapassar-nos. O ranking para o qual olhamos está assente num modelo de negócio que nos torna competitivo, mas se não nos reinventarmos vamos perder. Os custos de contexto têm de nos permitir ser mais competitivos. A carga fiscal é absurda.
Estamos habituados a ter um Benfica e FC Porto habitualmente na Champions, o Sporting agora a voltar, o Sp. Braga já lá esteve. Mas corremos o risco, se não agirmos depressa, de começar a ver a liga portuguesa num patamar da Liga Conferência."
José Pedro Pereira da Costa, FC Porto:
"O impacto de termos custos de contextos alinhados com a realidade europeia, por contas rápidas, poderia representar entre 4 a 5% de margem sobre receitas operacionais, excluindo receitas com vendas de jogadores. Para receitas totais, na ordem dos 160 M€ nos nossos casos, podíamos reduzir custos na ordem dos 7 ou 8 M€. Pesa de forma relevante. Como indústria estamos bem posicionados no ranking, mas isso não corresponde à nossa dimensão em termos de país no mercado europeu. Olhando às receitas 'core', lutamos em patamares desiguais. Os direitos televisivos têm valor muito inferior, em termos de receitas de participação na UEFA igual, até porque há um valor que tem que ver com as dimensões dos mercados (market pool). Nas receitas lutamos com desvantagem e estamos a competir com clubes e países com dimensão desigual. A isso acresce esses custos de contexto de coisas que parecem pequenas.
Partilho a ideia transmitida pelos clubes relativamente à preocupação com o ranking da UEFA. Trata-se de uma fonte de receitas muito importantes para qualquer um de nós. O facto de termos passado de sexto para sétimo e termos perdido mais uma equipa na Liga dos Campeões representa perda para Portugal à volta de 40 M€. Se não atuarmos depressa, pode ser pior. A carga fiscal do IRS é brutal. A UEFA, aliás, nos cálculos para o Fair Play Financeiro usa ajustes e a média mostra que há desvantagem estrutural relevante face a esses países e que é notória na altura de reter talento, de atrair talento... Quando disputamos um jogador com um país com Itália que tem taxa mais baixa e tem vantagem de estatuto de residente não habitual, há uma diferença muito grande."
Nuno Catarino, Benfica:
"O futebol é uma indústria que temos que ver como entretenimento, mas como uma indústria exportadora, que dá oportunidades a jovens para progredir e ir para fora. Ou tomamos cuidado com esta indústria ou poderá haver risco de inflexão na nossa capacidade de sermos competitivos neste tipo de mercado. Não podemos não ser competitivos em coisas básicas, como custos de contexto. Em termos de IVA, há também uma questão. Quase uma questão de preconceito, olhando ao que se pratica noutros espetáculos.
O Benfica tem uma lista de espera de 14 mil pessoas para ter lugar anual. É uma coisa que impressiona. Como é que arranjamos soluções para isto? Se formos à Allianz Arena em jogos do campeonato eles têm assistência de mais 10% do que nos jogos europeus. Temos de arranjar soluções. A nossa economia é a 19ª da Europa. A realidade vai levar-nos para esse lugar do ranking. O risco é real. Tornou-se mais real nos últimos dois anos e temos de trabalhar em todos os vetores.
Concorremos no campo, na compra de jogadores, mas temos de cooperar mais noutras. Isto é uma indústria. Se compararmos no desporto americano, é quase cooperativo. Trabalha-se em conjunto, partilha-se experiência. Toda esta cooperação tem de ser feita para evitarmos este potencial declínio. Isso vai requerer trabalhar um bocadinho de tudo, da inovação dos clubes, na forma como trabalhamos no ecossistema.
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