O árbitro Nuno Mendes, da segunda categoria nacional, faleceu na madrugada de ontem, aos 27 anos, vítima de ataque cardíaco, na sequência da tensão provocada pelo jogo Alvorense-Beira Mar, da final da Taça do Algarve, disputado em Loulé, e ganho pela turma de Alvor, no desempate por grandes penalidades (4-1), depois de um empate (1-1) no tempo regulamentar.
O corpo encontra-se na morgue do Hospital do Barlavento, em Portimão, e na manhã de hoje ficará a saber-se da necessidade ou não da realização de autópsia, cujo resultado, caso seja decidida pelo juiz, poderá determinar a indemnização a atribuir à família. O funeral deverá realizar-se amanhã em Portimão, onde Nuno Mendes residia.
O jogo foi marcado, no final, por cenas de violência, com adeptos dos montegordinos a arrancarem e a arremessarem cadeiras e outros objectos em várias direcções, incluindo os camarotes, onde se encontravam o presidente da Câmara de Loulé, Seruca Emídio, e dirigentes da AF Algarve. A desordem incluiu ameaças de morte e injúrias ao árbitro e obrigou ao reforço do efectivo da GNR presente no local.
Nuno Mendes sentiu-se mal no balneário e, face aos incidentes registados, acabou por sair do estádio cerca de uma hora depois do final da partida, na companhia dos auxiliares, Eurico Santos e João Águas, do quarto árbitro, João Valentim, e do seu tio, João Mendes, delegado técnico.
"Pediu-me para conduzir o carro, pois não se sentia bem, queixando-se de dores no peito e nas costas", refere o tio. Saíram escoltados pela GNR, que os acompanhou até ao acesso à Via do Infante.
O destino inicial era o restaurante do árbitro Nélson Matos, em Albufeira, mas no percurso Nuno Mendes piorou e chegaria ao Centro de Saúde de Albufeira já inanimado. As duas médicas de serviço utilizaram os procedimentos habituais, mas sem sucesso. Cerca da uma da manhã, era confirmada a morte do árbitro, que tinha uma filha de dois anos e deixa viúva Ana Sequeira, uma jovem de 21 anos.
Nuno Mendes cumpria a quarta temporada na segunda categoria e era apontado como uma das grandes esperanças da arbitragem algarvia, figurando como um dos candidatos à subida ao escalão superior. O seu pai, Fernando Mendes, também antigo árbitro da segunda categoria, deu-nos conta da "profunda dor" que lhe ia na alma. "O que aconteceu foi uma tragédia. Nenhum jogo de futebol pode valer a vida de quem quer que seja."
O árbitro nascera na mesma data que seu avô paterno - 14 de Setembro -, o qual morreu também de ataque cardíaco, há cerca de vinte anos, depois da tensão provocada por um jogo dirigido pelo filho, Fernando Mendes, no Estádio do Portimonense.
Refira-se que o último exame médico, uma imposição da FPF, foi realizado há três semanas, sem que algum problema fosse diagnosticado.
Algarve sem jogos até segunda-feira
A Associação de Futebol do Algarve decidiu ontem suspender todas as competições por si organizadas até segunda-feira, face à morte de Nuno Mendes, pelo que este fim de semana não se realizará qualquer jogo da responsabilidade daquela entidade.
Os responsáveis da AF Algarve vão ainda solicitar à Federação Portuguesa de Futebol e à Liga de Clubes que seja respeitado um minuto de silêncio em todos os jogos de âmbito nacional em que participem equipas algarvias. A APAF, vários clubes, dirigentes da arbitragem, árbitros e um leque numeroso de individualidades ligadas ao futebol fizeram chegar durante o dia de ontem mensagens de condolências à família de Nuno Mendes.
Incidentes fazem avançar inquérito
Os distúrbios provocados por adeptos e responsáveis do Beira Mar no final do jogo vão justificar a instauração de um inquérito por parte dos órgãos competentes da Associação de Futebol do Algarve, com base, entre outros, no relatório da GNR - foram necessários reforços para conter a fúria dos adeptos montegordinos.
O presidente do Beira Mar, Arménio Gonçalves, poderá ver-se também a braços com a justiça associativa, pois terá tentado impedir a equipa de comparecer na cerimónia de entrega de troféus. Existem várias testemunhas - a começar pelos auxiliares - das ameaças de morte e de injúrias dirigidas ao árbitro o que terá contribuído para a indisposição fatal de Nuno Mendes.
Reacções
"Aconteceu uma tragédia e as pessoas precisam de reflectir sobre os seus comportamentos. Chorei pela morte do Nuno e pela vergonha que foi o final do jogo."
João Gomes, presidente da AF Algarve
"Não tenho palavras para expressar a amargura e a dor. O futebol dispensa ambientes como aquele que se viveu em Loulé e provocou esta tragédia."
José Filipe, presidente do CA da AF Algarve
"Perdi um grande amigo, que acompanhava há oito anos, como auxiliar, e o futebol português perdeu um árbitro de largo futuro. Sofri um choque do qual tão cedo não conseguirei recompor-me."
Eurico Santos, árbitro assistente
"O árbitro cometeu erros que irritaram os sócios do Beira Mar. Ocorreu um acidente que pode acontecer a qualquer um de nós e lamentamos o sucedido, embora não nos sintamos culpados. Nenhum jogo de futebol vale uma vida."
Arménio Guerreiro, presidente do Beira Mar
"Não há nada que justifique uma morte nestas circunstâncias, num jogo que deveria sido uma festa e acabou em tragédia."
Francisco Nabiça, presidente do Alvorense
"Uma enorme tragédia, pela sua idade e condição familiar. É um rude golpe para a arbitragem pois tinha grandes qualidades."
Pinto de Sousa, presidente do CA da FPF.
"Nesta altura, o ambiente é de grande consternação. É uma situação que nos enche de mágoa. O CA Algarve apostava forte nele para outros voos."
Vitor Reis, presidente da APAF
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