Lenda do futebol português Matateu tenta vencer a morte

AOS 72 anos de idade, Sebastião Lucas da Fonseca, o Matateu, que foi uma lenda do futebol português e chegou a ser um autêntico ex-líbris do Belenenses, enfrenta uma fase muito difícil da sua vida.

Internado num hospital do Canadá (na cidade de Vitória), onde está radicado, desde há largos anos, aquele que foi o terror dos guarda-redes, tenta vencer a morte, já que um delicado problema nos ossos obriga os médicos que o assistem a recear o pior, confiando, todavia, na força interior do antigo avançado das melhores equipas dos azuis do Restelo e da selecção nacional.

Aliás, o clube da cruz de Cristo e o seu presidente (Ramos Lopes) naturalmente preocupados com o estado de saúde de Matateu, já se disponibilizaram para facilitar a deslocação ao Canadá do seu irmão, Vicente Lucas, outra das glórias do Belenenses e que partirá amanhã, a fim de se inteirar do estado de saúde de Matateu e de estar a seu lado nesta hora complicada para o homem que, ao lado de Di Pace, Carlos Silva, Dimas, José Pereira, Yaúca, Estêvão, Vicente Lucas, Rosendo, Castro, Mário Paz, Perez e outros, integraram as melhores equipas de sempre do prestigioso Clube de Futebol "Os Belenenses".

Natural da antiga Lourenço Marques (actual Maputo), tendo nascido a 26 de Julho de 1927, no Alto Mahé, Sebastião Lucas de Fonseca desde bem cedo que começou a dar nas vistas num futebol onde já despontavam outros jovens que, mais tarde, viriam a ser vedetas em clubes como o Benfica, Sporting, Belenenses e FC Porto.

Depois de se evidenciar no "João Albasini" e do Mancaze, o seu nome foi sugerido ao Belenenses, precisamente por um antigo internacional dos azuis (João Belo, também ele nascido em Moçambique), com o clube da cruz de Cristo a levar a melhor sobre o Benfica, pois um associado dos encarnados já havia lembrado o nome de Matateu para jogar ao lado de José Águas.

SOS À FILHA ARGENTINA

No entanto, seria mesmo no Belenenses que Matateu viria a confirmar todas as suas grandes potencialidades de homem de área, com o seu estilo felino, a tornar-se na grande preocupação para os adversários, já que os seus remates certeiros deixavam sucessivamente preocupados os melhores guarda-redes portugueses da altura e até os estrangeiros.

Assim, e depois da estreia, a 4 de Setembro de 1951, num amistoso frente ao FC Porto, Matateu teve o seu primeiro jogo oficial com a camisola do clube da cruz de Cristo ante o Sporting, com os azuis a ganharem por 4-2 e Matateu a "bisar".

Depois disso, seguir-se-iam jogos e mais jogos, com os respectivos golos a surgirem naturalmente: nas temporadas de 1952-53 e 1954-55 foi o melhor marcador do Nacional da I Divisão, tendo, nesta época, sido considerado o melhor jogador estrangeiro na edição desse ano da Taça Latina, ao mesmo tempo que, a nível da selecção de Portugal, em 27 encontros, conseguiu 13 golos.

Vencedor de uma Taça de Portugal (196O) e duas edições da Taça de Honra (1959 e 60), com a camisola do seu Belenenses, esteve, ainda, a escassos segundos de se tornar campeão nacional (54-55), mas um golo do leão João Martins deu o empate ao Sporting frente ao Belenenses (2-2) e com ele o título foi para o Benfica, precisamente no ano da estreia de Otto Glória à frente dos encarnados.

Depois de 14 temporadas equipando de azul, Matateu jogaria, ainda, no Atlético ao lado de Marinho, José Henrique e outros, com José Águas como "mister". Seguir-se-ia o Gouveia, por amizade para com Acácio Rosa e o Amora, onde, aos 41 anos de idade se sagrou campeão da I Divisão da AF de Setúbal, com os seus 28 golos a concederem-lhe o título do melhor "artilheiro" da competição.

Tendo emigrado para o Canadá, jogaria aí até aos 50 anos, ao mesmo tempo que trabalhava em hotelaria e em jardinagem, acabando por conseguir a reforma naquele imenso país.

Agora, aos 72 anos e, ao mesmo tempo que luta tenazmente contra a morte, Matateu expressa, mesmo assim, um grande desejo, o qual nos foi transmitido por alguns dos seus amigos, também eles radicados no Canadá: assim, o Sebastião Lucas da Fonseca, por intermédio de Record, lança um SOS a sua filha Argentina, nascida num dia de um jogo Portugal-Argentina, para tentar viajar até ao Canadá (hospital de Vitória) para lhe dar "aquele abraço".

CARLOS ARSÉNIO

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