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17 dezembro

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A conquista da Europa e do Mundo por Coluna

Em Amesterdão, o Benfica arrebatou a segunda Taça dos Campeões Europeus. Uma vitória inesquecível sobre o todo-poderoso Real Madrid...

A conquista da Europa e do Mundo por Coluna
A conquista da Europa e do Mundo por Coluna

O início dos anos 60 apanhou-o no auge das potencialidades físicas e técnicas, ao mesmo tempo que serviu de partida para o aumento do peso institucional no Benfica, na Seleção Nacional e no futebol português de um modo geral. Até 1962, Coluna acentuou a relevância de um vastíssimo império de qualidade futebolística e respeito generalizado. Em dezembro de 1960 assumiu a responsabilidade de receber um jovem oriundo da sua terra natal, cuja mãe lhe pediu expressamente para cuidar dele. Foi nesse enquadramento paternal, ditado por sete anos de diferença, que nasceu a relação com Eusébio.

Aos 27 anos, foi dando passos seguros até atingir o máximo de si próprio. Depois de ter sido bicampeão europeu, concluiu os traços que lhe faltavam para construir a imagem de Grande Capitão. A partir de 1963, com a saída de José Águas, Coluna tornou-se capitão de corpo inteiro, estatuto que acentuou a todos os níveis até ao fim da carreira.

Em 1969, a caminho dos 35 anos, era já venerado como um dos melhores jogadores mundiais de sempre. Na fase final da carreira dizia-se que lhe faltavam argumentos para manter a titularidade. Passou a jogar a defesa-central. Um dia, em fevereiro de 1970, Borges Coutinho propôs a José Augusto que assumisse o comando técnico da equipa; o Magriço quis ter o parceiro ao lado, mas este recusou. Desavenças entre ambos ditaram o fim da ligação à águia.

Bicampeão europeu com golos nas duas finais

Quando Bela Guttmann chegou à Luz, Coluna já era figura da equipa e do clube. Como a todos os seus contemporâneos, no Benfica e não só, faltava-lhe o passo para atingir expressão internacional. Disso se encarregou o Feiticeiro, quando iniciou o percurso que havia de conduzir a águia ao topo do futebol europeu.

A conquista do Velho Continente representou primeiro passo para o reconhecimento universal de um futebol esplendoroso. Nas duas campanhas que conduziram às finais de Berna (com o Barcelona) e Amesterdão (com o Real Madrid), o Monstro Sagrado foi sempre o barómetro, o porto de abrigo e o maestro de um esquadrão quase invencível. Só ele e José Águas marcaram nos dois jogos. O Benfica dava assim os primeiros passos para atingir o estatuto de melhor equipa da Europa dos anos 60 – para lá das duas conquistas, chegou ao jogo decisivo com Milan (62/63), Inter (64/65) e Man. United (67/68).

Liderança indiscutível ganha uma braçadeira

Para lá de Monstro Sagrado, nome que lhe foi dado por Artur Agostinho, Mário Coluna é também conhecido como Grande Capitão, título que foi construindo com o passar do tempo. Ao fim de poucos anos já era reconhecido como líder da equipa. Segundo as suas próprias palavras, Otto Glória e Bela Guttmann, o dois primeiros treinadores que teve de águia ao peito, foram claros quando lhe disseram que o capitão podia ser outro (Artur Santos e José Águas) mas era ele quem mandava em campo. Em 1962/63, Águas foi preterido por Fernando Riera. Coluna tomou então contacto com o símbolo de liderança que havia de ser seu, e só seu, até ao fim da carreira na Luz, ciclo iniciado em 1963/64, altura em que o o ponta-de-lança partiu para a Áustria.

Aos 28 anos, Mário Coluna assumiu como nunca o papel de comandante do Benfica e da Seleção Nacional. O seu reconhecimento internacional foi crescendo ao ponto de, na chegada ao Mundial de 1966, já ser um dos mais reconhecidos médios do futebol do seu tempo.

Magriço sublime e distinção máxima

No Inglaterra’66 apresentou-se com a aura de grande senhor do futebol mundial, referência estratégica da melhor equipa europeia e de uma Seleção que logo mostrou argumentos para discutir o título. À sua volta girou uma formação a que quase nada faltava e que ainda tinha um génio (Eusébio da Silva Ferreira) na máxima expressão do talento. O terceiro lugar na grande competição, o melhor que Portugal conseguiu, soube a pouco aos seus intérpretes. Esse é o maior elogio que se pode fazer à epopeia dos Magriços.

Mário Coluna entrou na veterania com prestígio intocável. Esteve no Inglaterra’66 em vésperas de completar 31 anos, e o final da carreira, cujo último troço suscitaria algumas dúvidas e desavenças internas, não foi suficiente para travar a onda de admiração planetária que se seguiu ao Campeonato do Mundo.

Menos de um ano depois, em março de 1967, foi submetido à única operação da sua vida desportiva. Lesionou-se em Roma, num jogo da Seleção, e foi operado a um joelho pelo doutor Azevedo Gomes. Recuperou bem e depressa, a tempo de viver aquela que considerou pela vida fora como uma das maiores distinções de que foi alvo: capitanear uma seleção mundial, escolhido pelo mago Helenio Herrera, na festa de homenagem ao mítico Ricardo Zamora.

O doloroso adeus ao clube do coração

Perdida a frescura de outros tempos, deixou de ser chamado à Seleção Nacional em 1968, ano em que se despediu da final da Taça dos Campeões, em Wembley, com o Manchester United (derrota por 1-4, no prolongamento). Começou então a sempre difícil fase final da carreira, entre o poder intocável de general todo-poderoso do exército benfiquista e os primeiros sinais de fragilidade física. Começou a chegar mais tarde aos duelos, a ser menos eficaz a lançar o ataque e a exercer influência mais pela presença do que pela produção efetiva. Na última temporada, 1969/70, jogou quase sempre a central, até ao momento em que o presidente Borges Coutinho tomou a decisão de prescindir de Otto Glória, lançando o repto a José Augusto para pegar nos destinos da equipa. O extremo-direito e velho parceiro de caminhada aceitou pôr fim à carreira de jogador e solicitou ao Grande Capitão que o acompanhasse.

Coluna recusou. Disse que se sentia útil e queria continuar a jogar. José Augusto contrapôs que não contava com ele para jogar e Mário exigiu apenas uma oportunidade, que nunca teria, em consequência de factos ocorridos logo na estreia do novo treinador, num jogo de Taça, em Setúbal, a 15 de fevereiro de 1970. Nunca mais participou em partidas oficiais pelo Benfica.

O reconhecimento no fim do século

Antes de seguir para Lyon, o clube de que será eterno símbolo ofereceu-lhe a festa de despedida, a 8 de dezembro de 1970, momento no qual a Luz se encheu para lhe dizer obrigado e adeus. Em França esteve uma temporada, regressando para representar o Est. Portalegre, onde exerceu como jogador e treinador.

Seguiu-se carreira como técnico, em Moçambique. Em 1974 foi campeão pelo Textáfrica (único título do clube), seguindo-se passagem pelo Ferroviário e pela Seleção – seria ainda presidente da federação. Passou também pelas camadas jovens do Benfica, mas o apelo da terra natal foi mais forte: apesar de vir a Lisboa com regularidade, viveu os últimos anos em Maputo.

No final do século XX foi reconhecido pela FIFA e por algumas das mais prestigiadas publicações internacionais de futebol como um dos melhores jogadores da história do futebol. À distância viveu todos os episódios da vida benfiquista. Chorou pela demolição da velha Luz e exultou com os títulos de Giovanni Trapattoni e Jorge Jesus. Manteve-se no coração dos adeptos benfiquistas. Lugar de onde nunca sairá.

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