António Carraça: "Por incorreta e insensível utilização de jogadores em treinos e jogos com alguma debilidade fisiológica. Esta é a verdade nua e crua. É a minha verdade"...
R – A esta distância consegue explicar por que é que o Benfica falhou nos momentos decisivos?
AC – Num processo coletivo, todos perdemos e todos ganhamos. É assim que entendo o trabalho de equipa. Onde todos contribuem com os seus conhecimentos, valências, decisões e responsabilidades para o sucesso. Também por isso, todos somos responsáveis, uns mais do que outros, pelos insucessos do coletivo. Mas não poderei, seria hipócrita da minha parte e iria contra as minhas convicções e ideais, no que entendo serem os interesses do Benfica, e porque dei conhecimento, em relatórios escritos ao presidente, deixar de assumir as principais razões por que falhámos nos momentos decisivos: por erros técnicos do treinador Jorge Jesus!
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R – Que erros técnicos?
AC – Erros técnicos e de decisão duvidosa em jogos nucleares! Por incorreta e pouco inteligente gestão do plantel no que diz respeito à utilização de jogadores fundamentais em jogos onde poderiam e deveriam ser poupados! Por incorreta e insensível utilização de jogadores em treinos e jogos com alguma debilidade fisiológica. Esta é a verdade nua e crua. É a minha verdade.
R – E nunca confrontou Jesus com esses erros?
AC – Sempre que o treinador me pedia a opinião, eu dava-a. É importante que os treinadores tenham consciência de que também erram, e que essa consciência, discutida e analisada internamente, possa ser o caminho para a regeneração e para o êxito no futuro. Até porque as suas constantes más decisões podem pôr em risco investimentos de dezenas de milhões de euros.
R – No final da época não deu conta aos seus superiores hierárquicos do que estava mal e do que deveria ser mudado?
AC – Sempre reportei ao presidente. E é assim que terá de ser. Só poderemos ter sucesso com duas ou três pessoas a liderarem as áreas do futebol. A informação e o acesso têm de ser cerceados e limitados. E as decisões têm de ser rápidas e corretamente concretizadas. E sem desvios! Porque sempre assumi o que dizia ou fazia, elaborava frequentes documentos escritos a Luís Filipe Vieira, e nos dois finais de épocas entreguei relatórios com mais de 200 páginas. Analisando a atividade, assumindo erros, fazendo críticas, apresentando soluções e caminhos e, em ambos, pondo o lugar à disposição.
R – E nesse sentido que indicações deu?
AC – A análise foi pormenorizada e assentou em bases e princípios definidos no início da época. Todos sabíamos o que fazer. Todos sabíamos o que não podíamos fazer e o que não podíamos repetir no segundo ano. As minhas propostas foram sempre alicerçadas em dados concretos. Mas para haver mudança e evolução, temos todos de as querer. De saber trabalhar em grupo. Respeitando o trabalho e responsabilidades dos outros. Respeitando e aceitando a diferença. Ter a real consciência de que não sabemos tudo e que não controlamos tudo. Ter envergadura moral e intelectual, de forma a termos a admiração dos nossos pares. E ser solidário! E interiorizar, em todos os momentos, de que trabalhamos no Benfica. E que somos escrutinados por isso.
R – Ficou a ideia de que as suas relações com Jesus foram sempre difíceis e conflituosas. Foi assim?
AC – Todas as pessoas, na sua génese, têm formação e educação diferentes. E por isso adotam comportamentos e relacionam-se com os outros também de forma diferenciada. Tal como já referi, a minha forma de trabalhar tem como base o envolvimento coletivo, em que cada um desenvolve o seu trabalho o melhor que sabe e pode, assumindo as suas responsabilidades a quem lidera. E foi assim com a minha estrutura e com a estrutura técnica. Todos sabíamos qual a nossa função e em que áreas éramos os responsáveis.
R – Nunca se meteu onde não devia?
AC – Eu nunca me intrometi ou me intrometo na área técnica, até porque tenho a vantagem e a sensibilidade de ter sido treinador. Mas também, por isso, nunca admiti ou admito que alguém se intrometa na minha área de responsabilidade e gestão. Quem não entender isto, não tem condições para trabalhar num clube como o Benfica. Com a minha estrutura, tudo funcionou perfeitamente e a qualidade do trabalho desenvolvido é prova disso. Fomos uma equipa!
R – É verdade que quase chegou a vias de facto com o treinador? Em que circunstâncias?
AC – Para fazermos vincar a nossa autoridade não é necessário chegarmos a situações de conflito direto. Por isso somos seres racionais e inteligentes. E quando confrontados com seres menos inteligentes e menos racionais, só temos de fazer valer essa grande diferença nos nossos atos e posturas. Além isso, eu era o representante do Benfica e do presidente!
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