BENFICA. Vale e Azevedo não se cansa de dizer que se trata de um nome que vale milhões e uma das grandes apostas do actual elenco directivo dos encarnados tem sido justamente o "marketing" e o "merchandising". Miguel Bento é o responsável pela área comercial do clube e o "homem do leme" de um projecto que visa equiparar o Benfica aos grandes clubes europeus.

Miguel Bento fala do passado, do presente e o rumo a seguir numa área cada vez mais importante no actual universo futebolístico.

-- Neste ano e meio em que esta Direcção está em funções, o que é que mudou no Benfica em termos de "marketing" e "merchandising"?

-- Em algumas áreas não mudou muita coisa mas noutras as mudanças foram radicais. A área em que mais se notaram as alterações foi sem dúvida o fenómeno do futebol como espectáculo desportivo, toda a comunicação gerada e a animação criada em torno de um jogo de futebol. Fomos inovadores em várias matérias, como, por exemplo, publicitar na TV a vinda ao estádio num ambiente de festa. Os resultados estão à vista. A época passada quando chegámos ao clube, os resultados não eram animadores e mesmo assim conseguimos manter níveis de assistência bastante elevados. Também em termos de "merchandising" e publicidade temos conseguido grandes resultados e penso que daqui a três anos estaremos ao nível dos grandes clubes europeus.

-- Quais foram as receitas do "merchadising" do clube durante esta temporada?

-- Nesta temporada iremos facturar cerca de 650 mil contos, o que representa um crescimento de 100 por cento relativamente à pretérita época. Digamos que estes resultados ficaram dentro daquilo que era a previsão menos optimista. Neste cenário, os resultados desportivos são muito importantes e a partir de determinada altura ficámos arredados do título e sofremos as consequências.

-- As receitas previstas para a próxima época superam os números agora alcançados?

-- Para a próxima época temos dois períodos muito importantes que são Dezembro e Fevereiro, onde os resultados desportivos serão fundamentais. Contudo, penso que vamos ultrapassar largamente estes números, em cerca de 50 por cento. As nossas previsões apontam para receitas na ordem de um milhão de contos.

OLIVEDESPORTOS

-- O Benfica ficou a ganhar bastante a partir do momento em que rompeu o acordo com a Olivedesportos?

-- Não conheço com precisão os montantes dos contratos anteriores e é algo difícil para mim falar disso. Penso que nos contratos anteriores estava tudo englobado no mesmo pacote, ou seja transmissões televisivas e publicidade estática. Hoje temos duas coisas distintas. Uma coisa é o negócio de transmissões feito com a SIC, outra é a publicidade estática, área onde, pelo facto de estarmos sozinhos, mudámos alguma coisa. Optámos, por exemplo, pelos painéis fixos e não queremos mais que 12 patrocinadores.

-- O facto de o Benfica estar "sozinho" tem sido benéfico em termos de receitas?

-- Se falarmos em termos de publicidade estática a tendência é para aumentar cada vez mais as receitas. Quanto às transmissões televisivas, nos contratos anteriores existiam cláusulas punitivas que agora não temos no nosso acordo com a SIC. Nos anos 98 e 99, o Benfica teve uma quota de mercado de 30,5 por cento só nos jogos em casa o que somando os jogos fora dá resultados superiores a 50 por cento. Por isto pensamos que o nosso produto deve ser tratado de um forma singular.

CAMISOLAS

-- O Benfica apresentou recentemente os seus novos equipamentos. As vendas de camisolas têm correspondido às expectativas?

-- Somos o quarto clube que vende mais camisolas Adidas, mas ainda há muito caminho para desbravar. No futebol português não existe uma cultura de vir ao estádio com a camisola vestida como por exemplo em Inglaterra.

Estamos a tentar instituir esse hábito nos nossos adeptos e esta época já vendemos 60 mil camisolas, ou seja, seis vezes mais do que na época anterior.

-- O nome "Benfica" vale muito dinheiro, como diz Vale e Azevedo?

-- Vale muito dinheiro, toda a gente o reconhece mas também é verdade que se perderam muitos anos sem se trabalhar neste factor. O nome do clube vale dinheiro, mas isto têm de se traduzir em números. Estamos a tentar rendibilizar este aspecto, mas não temos dois ou três milhões de contos para conseguir resultados a curto prazo.

-- O Benfica "explora" devidamente a imagem dos seus jogadores?

-- Não, ainda não. Estamos numa fase embrionária e tudo isto passa por uma questão de mentalização. A colaboração dos nossos jogadores tem sido extraordinária, mas eles têm consciência de que temos de andar para a frente, pois vêem os seus colegas no estrangeiro a realizarem constantemente este tipo de acções.

-- Como vê o trabalho dos outros clubes portugueses na área comercial?

-- Na minha opinião, FC Porto e Sporting trabalham bastante bem nesta área. Tenho muito boa noção da sua organização comercial e penso que são exemplos a ter em conta.

«RENTABILIZAR O ESTÁDIO»

Miguel Bento tem como um dos principais objectivos a rendibilização e aproveitamento do Estádio da Luz. Desta forma, os responsáveis benfiquistas pretendem que o estádio deixe de servir unicamente para a equipa jogar e treinar. Uma das inovações prende-se com a realização de casamentos e baptizados na Luz já na próxima temporada, uma inovação em Portugal.

-- Vale e Azevedo anunciou há pouco tempo que o Estádio da Luz irá ser palco de casamentos e baptizados a partir da próxima temporada.

-- Sim, é uma das nossas iniciativas. Nós pensamos que o ambiente festivo faz sentido. Desta forma, queremos que o Estádio da Luz seja um palco de festa e alegria. Vamos também dar oportunidade aos portugueses de poderem realizar festas no estádio e ao mesmo tempo vamos rendibilizar o espaço. Mas as mudanças não se ficam por aqui...

-- Que outras mudanças estão previstas?

-- A partir da próxima época vai ser possível às empresas realizarem reuniões e "meetings" no Estádio da Luz. Desta forma, qualquer empresa que esteja interessada pode realizar as suas reuniões no nosso estádio. Para que isto seja possível vamos criar mais camarotes de empresa, de modo a rendibilizar ao máximo o espaço vendido a essas empresas.

-- O Benfica irá investir na restruturação do Estádio da Luz?

-- É um dos nossos objectivos. Para além da criação de mais camarotes de empresa, queremos também melhorar os bares existentes. O nosso adepto tem de se sentir cativado para vir ao estádio e persuadido a gastar dinheiro sendo bem servido. O produto tem de ser atractivo ao consumidor. Para isto é necessário também investir para mais tarde tirar dividendos. Contudo, nos dias de hoje os dirigentes preferem canalizar o dinheiro para outros sectores como o reforço da equipa de futebol. Nós estamos a tentar inverter esta situação.

-- O orçamento da próxima temporada prevê alguma verba destinada ao investimento na melhoria das condições do Estádio da Luz?

-- Há uma parte do orçamento que vai ser canalizada para melhorias das estruturas do nosso estádio. São valores significativos que já dão para se fazer alguma coisa. No entanto, não se pode fazer tudo de um momento para o outro e nós queremos evoluir progressivamente.

«MEGASTORE SERÁ UM SUCESSO»

Um dos projectos mais importantes da actual Direcção prende-se com a abertura de uma "megastore", à imagem do que sucede nos grandes clubes da Europa. A nova loja será mais uma importante fonte de receita para os encarnados que esperam uma aderência em massa por parte do público.

-- Quando é que está prevista a abertura da "megastore"?

-- Não posso dizer quando é que estará pronta, pois é o presidente que está a tratar disso pessoalmente. Está tudo dependente das obras do Museu, mas penso que estará pronta dentro em breve.

-- É uma grande aposta do Benfica, a abertura de uma loja de grandes dimensões?

-- Quando tivermos a "megastore" a funcionar durante 365 dias por ano, penso que iremos conseguir a facturação deste ano só na "megastore", que nos permitirá atender muito mais clientes e consecutivamente conseguir mais receitas. Será um sucesso.

--A actual Loja do Benfica será extinta?

--Ainda não decidimos, mas existe a possibilidade de continuar a funcionar só nos dias dos jogos. A actual loja até tem tido resultados consideráveis tendo em conta as suas dimensões. Actualmente, os nossos produtos quase que não cabem na loja.

«CAMIÃO PAGO EM ANO E MEIO»

Há pouco mais de um mês o Benfica apresentou a sua loja móvel. Um camião de grandes dimensões que irá percorrer todo o País, levando consigo os produtos do Benfica. Miguel Bento confirmou o sucesso da iniciativa.

-- O camião do Benfica tem tido o sucesso esperado?

-- Sim, sem dúvida. Em breve o nosso camião irá com a nossa equipa de ciclismo à Volta a Portugal. O que presidiu à ideia da criação da loja móvel foi a distribuição. Se não tivermos uma boa distribuição não atingimos bons níveis de vendas. Só com a Loja do Benfica não conseguimos atingir o mercado, mercado esse que extravasa o território nacional.

-- Está prevista a presença do camião no estrangeiro, junto dos emigrantes portugueses?

-- Sim, sem dúvida. Já está prevista a presença na Volta ao Luxemburgo, que apesar de ser um país muito pequeno conta com muito portugueses.

Depois, se jogarmos por exemplo com o PSG nas provas europeias o camião irá a Paris, pois sabemos que se trata de uma cidade com muitos portugueses, capazes de comprar o nosso produto. Contudo, se jogarmos com o CSKA de Sófia, não se justifica a ida do camião à Bulgária.

-- Quanto demorará a ser rentabilizado o investimento efectuado na criação desta loja móvel?

-- Com os resultados obtidos até aqui, penso que ano e meio será suficiente para cobrir o investimento efectuado.

JOÃO RUI RODRIGUES