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20:15

12 setembro

Santa Clara

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Bruno Basto: «Pensei sempre que jogava»

Bruno Basto: «Pensei sempre que jogava»
Bruno Basto: «Pensei sempre que jogava»

BRUNO Basto foi um dos jogadores do Benfica que este ano sofreu com a contratação de britânicos. Titular após a venda de Scott Minto, o ex-jogador do Alverca, que fez 21 anos a 21 de Maio, deixou de ser uma aposta de Souness para o lugar de lateral-esquerdo após a contratação de Steve Harkness, jogando apenas em duas ocasiões, ambas no meio-campo, sendo que na primeira, frente ao FC Porto, marcou o golo do empate. Apesar de tudo, o jogador faz um balanço positivo da época, em que realizou um total de 17 jogos, 15 dos quais na condição de titular.

-- Estamos em final de época, por isso peço-lhe um balanço individual de 98/99...

-- Pode considerar-se positivo. Afinal de contas, joguei muito mais jogos que esperava e penso que respondi da melhor forma sempre que me foram dadas oportunidades.

-- Em sua opinião, porque é que nunca foi titular indiscutível?

-- Trata-se de uma questão difícil de responder. O treinador escolhe os que acha que estão melhor para ajudarem a equipa, pois ser um indiscutível não depende só de nós. Fico feliz pelas oportunidades que tive, que foram bastantes, e às quais penso que correspondi, em grande parte, da melhor forma. Creio que as pessoas que apostaram em mim também ficaram felizes, porque penso que correspondi à sua aposta.

-- Esperava chegar à equipa principal do Benfica esta época, ou estava convencido que continuaria a rodar, no Alverca ou em qualquer outro clube?

-- Esperar sempre esperei, até porque estou no Benfica há onze anos e sempre foi meu sonho representar a equipa principal. Acreditava que podia regressar ao Benfica, mas não sabia quando. Estive no Alverca um ano e meio, quase dois anos, e só em metade da última época é que joguei regularmente. Pelo meio fui chamado ao Benfica e estou muito orgulhoso de estar na equipa principal no meu terceiro ano como sénior.

-- Quando lhe disseram que ficava no plantel, não temeu ficar uma época sem competir?

-- Sim. Até pedi ao dr. Vale e Azevedo e ao sr. Souness que me dispensassem para que pudesse rodar noutro clube, para poder jogar, ganhar ritmo competitivo e aprender. Mas desde logo o presidente e o treinador disseram-me que não, que ficava no plantel, garantindo-me que iria ter grandes oportunidades, se trabalhasse para isso. Foi uma conversa que pesou muito para mim; fiquei extremamente orgulhoso por saber que aquelas pessoas iam apostar em mim.

-- Nunca jogou regularmente. Isso afectou o seu rendimento?

-- Não. Contabilizando toda esta época, penso que tenho de estar satisfeito, pois só não fui convocados para quatro jogos. É verdade que muitas vezes ia para a bancada e outros para o banco, mas também fiz bastantes jogos. Acho que fizemos um total de 43 jogos, no Campeonato, Taça e Liga dos Campeões, pelo que ficar fora dos 18 tão poucas vezes acaba por ser um resultado bastante positivo. É claro que as pessoas querem sempre mais, até porque sou bastante ambicioso e estou numa equipa com a grandeza que tem o Benfica, onde toda a gente quer ir mais longe, jogar cada vez mais.

-- No Alverca também nunca foi titular regularmente. Alguma razão especial?

-- Penso que os treinadores do Alverca não entenderam que podia ser titular, talvez achassem que não tinha condições, que era muito jovem e nunca apostaram em mim. Mas no Alverca não saí magoado com ninguém, apenas fiquei triste por não ter mais oportunidades. No primeiro ano só fui titular em três ou quatro jogos, e no segundo já joguei 20/22, o que foi bastante melhor.

-- Foi Souness quem o chamou?

-- Não, vim para o Benfica devido ao trabalho do prof. Nelo Vingada e de António Simões, que me observaram, iam ver os jogos do Alverca e também já me conheciam das selecções jovens. Depois chamaram-me porque tive a sorte, ou a infelicidade, de o Scott Minto se ter lesionado e de o Hadrioui estar ausente, por muito tempo, ao serviço da selecção. Estive a treinar-me, o sr. Souness gostou do meu trabalho e deu-me a hipótese de jogar.

SOUNESS

-- Todos achavam que seria titular, sobretudo depois das saídas do Hadrioui e do Scott Minto. O que lhe disseram na altura os responsáveis do Benfica?

-- Quando decidiram vender o Scott -- senti a sua saída, porque era um excelente colega, com quem aprendi bastante; foi uma pessoa importante para mim, aliás todos os jogadores do plantel foram impecáveis e devo-lhes muito do que sou -- e o Hadrioui saiu, o treinador veio falar comigo e disse que tinha chegado a minha altura, aconselhou-me a continuar a trabalhar como vinha fazendo, que as oportunidades iriam aparecer, porque eu tinha valor. O que me foi dado a entender é que optavam por uma solução interna.

-- Ou seja, o treinador disse-lhe que o lugar era seu. O que sentiu?

-- Naquela altura senti que iria ter muito mais responsabilidade e também um grande orgulho. Afinal, um treinador que me conhecia apenas há seis meses dizer isto de um jovem, foi muito importante para mim. Vendiam um jogador cujo valor era conhecido e apostavam num jovem com 20 anos... Claro que fiquei mui orgulhoso. O Benfica é um clube que me diz muito. Nasci no Benfica, comecei a jogar no clube, aos oito anos já era do Benfica. Amo o Benfica.

-- Mas a sua felicidade durou pouco. Depois do voto de confiança que o treinador lhe deu, como se sentiu com a notícia da contratação do Harkness?

-- O sr. Souness colocou-me a jogar como titular e senti-me nas nuvens. Fiz três ou quatro jogos em que, pela crítica e pelo que eu próprio senti, estive em bom plano. Depois, passado um tempo, decidiram comprar outro jogador. Não desanimei por isso, até porque acho normal, num clube como o Benfica, haver dois jogadores para o mesmo lugar, e não me espantei que contratassem mais um lateral-esquerdo, já que havia disponibilidade financeira da Direcção. Não fiquei com medo, estava a trabalhar bem -- aliás, disse-o publicamente na altura --, e tudo iria depender do treinador.

-- A verdade é que perdeu mesmo o lugar?

-- Acabei por ser afastado da equipa num jogo que se calhar poderia ter marcado a minha carreira. O jogo com o Boavista era muito importante para nós e eu estava motivado. Senti um balde de água fria, uma grande tristeza, quando percebi que ia para o banco. A única coisa que me animou foi que, quando me mandaram aquecer, os adeptos do Benfica começaram a aplaudir-me e a chamar por mim. Foram sensacionais, deram-me um grande voto de solidariedade, mas não valeu de nada.

-- Foi o jogo em que o Benfica "perdeu" a Liga dos Campeões...

-- Não foi só nesse jogo que perdemos o campeonato e/ou o segundo lugar. Todos os pontos que perdemos foram importantes; sempre que não somámos três pontos perdemos terreno. Se antes não tivéssemos perdido pontos nos jogos anteriores, o jogo com o Boavista não assumia essa importância.

-- Voltando ao que lhe aconteceu. Ficou magoado com o treinador?

-- Não tenho nada contra Souness. Erros todas as pessoas cometem; aliás, se até as máquinas erram, porque não podem errar os seres humanos? Ao sr. Souness desejo as maiores felicidades. Apostou em mim, teve a coragem de me lançar, a nível profissional, no Benfica, e por isso ficará para sempre ligado à minha carreira. É claro que naquela altura não fiquei contente, mas cada um tem as suas ideias e são coisas normais no futebol. O Benfica tem 23 jogadores no plantel e todos eles tinham sido importantes se tivéssemos ganho o campeonato. Cabe ao treinador escolher quem está nas melhores condições.

-- Sentiu-se injustiçado?

-- Só fiquei muito triste porque estava a jogar bem, sentia-me bem fisicamente, e estava preparado para fazer aquele que era o jogo da época, frente ao Boavista. Sempre esperei jogar. Tinha chegado um jogador na terça-feira, que afirmara publicamente que ainda não conhecia bem os colegas, que tinha algumas dificuldades de adaptação; por isso pensei sempre que ia jogar mesmo com o Harkness cá. Mas afinal foi ele quem jogou. Tinha chegado há quatro dias e deram-lhe logo a titularidade.

-- Isso confirma as acusações feitas a Souness de que protegia os jogadores ingleses?

-- Não sei o que se passou, e não quero falar disso, acho melhor não dizer nada. Mas a verdade é que desde que o Harkness jogou eu fui sempre o preterido, e nunca me explicaram as razões do meu afastamento. Penso que o treinador entendeu que ele estava melhor, e essa é uma ideia que tenho de respeitar, mas claro que não fiquei satisfeito. Ele tinha-me dito há tão pouco tempo que ia apostar em mim, e no grande momento, quando eu pensava que me ia afirmar, de uma vez por todas, ele tirou-me da equipa.

-- Mas agora, com o Shéu, também não é titular?

-- No primeiro jogo do Shéu como treinador joguei; foi em Setúbal. Mas fui expulso e no jogo seguinte estive de castigo. Com a Académica fiquei no banco. Mas como a equipa está a jogar bem, não posso exigir nada. No Benfica não há indiscutíveis, e mesmo que os houvesse, eu não sou um deles. Falta apenas um jogo, não sei se vou jogar com o Sporting, por isso tenho é de pensar na próxima época.

-- O que espera da nova temporada, para si e para o Benfica?

-- As minhas expectativas são elevadas. Vou trabalhar da melhor maneira possível para ficar no plantel. Espero que o próximo ano seja o ano da afirmação do Bruno Basto e o regresso do grande Benfica. Acredito que podemos voltar a ganhar o título. O Benfica é um grande clube e não merece estar estes anos todos sem ganhar nada, nem o Benfica nem a sua massa associativa. Penso que será um grande ano para nós.

-- Diz isso devido ao técnico, Jupp Heynckes, que foi contratado?

-- O que conheço do novo treinador é pouco, passa sobretudo pelo seu trabalho no Real Madrid. Mas penso que o seu currículo diz tudo, é um técnico de “top” mundial e só espero que todos os bons resultados que já alcançou os traga para o Benfica, e, se possível, faça ainda melhor.

SPORTING

-- Espera jogar hoje com o Sporting e ajudar a equipa a manter o terceiro lugar?

-- Gostava muito de jogar e vencer o Sporting. O Benfica está bem e irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ganhar e não ser quarto, uma posição em que não cai há mais de 50 anos. Espero também que seja um grande jogo de futebol. Se jogar, será uma despedida em cheio desta época, porque é um daqueles jogos em que todos gostam de participar, é especial, e ainda por cima é o último da época e pode decidir o 3º e o 4º lugares.

-- Já disse que considerou este campeonato mais competitivo, mas a verdade é que o domínio continuou a ser do FC Porto...

-- Penso que foi mais competitivo porque o FC Porto não foi campeão a seis jornadas do fim, mas só a duas. Houve uma altura em que quatro equipas

-- FC Porto, Benfica, Sporting e Boavista -- estavam na luta pelo primeiro lugar, o que já não acontecia há muito tempo. Talvez por isso os estádios tiveram mais gente, às vezes encheram.

-- Ficou surpreendido com alguma equipa? E desiludido?

-- As grandes surpresas foram o Boavista e o V. Setúbal. A maior desilusão foi não ser campeão com o Benfica, ou pelo menos ganhar a Taça, que era um dos nossos objectivos. Mas para o ano vamos fazer melhor. O FC Porto é campeão e o Boavista segundo por mérito próprio, porque erraram menos vezes que os adversários, mas espero que na próxima época tudo seja diferente.

"QUERO CHEGAR À SELECÇÃO A"

-- O Bruno Basto é um dos jogadores que está envolvido no projecto Sidney. Essa é uma das suas ambições, estar presente nos Jogos Olímpicos?

-- Sim, claro que sim. Mas ainda temos alguns degraus a subir, e o próximo, com a Eslováquia, que é a primeira do grupo, é dos mais difíceis. Se quisermos estar em Sidney temos de ganhar todos o jogos do grupo para irmos ao Europeu de Esperanças, e depois fazer um bom campeonato. Ainda estamos a meio do caminho de Sidney.

-- Não pensa na selecção A?

-- É óbvio. Sou internacional há muito tempo, tenho 47 internacionalizações. e chegar à selecção A é um dos meus grandes objectivos extra-Benfica. Sempre sonhei com essa possibilidades e penso que se jogar com regularidade no Benfica posso ter a minha oportunidade.

-- Diz isso devido à "crise" de laterais-esquerdos portugueses?

-- Sim. Infelizmente temos poucos laterais-esquerdos em Portugal e isso torna as minhas expectativas ainda maiores. A seguir ao Dimas, sou eu, o Mário Silva e o Carlos Fernandes, que são ambos da minha idade. Mas para já quero ir a Sidney, estou envolvido neste projecto, fui convocado para defrontar a Eslováquia e espero jogar e ajudar Portugal a vencer.

"TENHO PROPOSTAS PARA SAIR"

O Simão vai para o Barcelona. O Luís Filipe da Académica para o Atlético Madrid. Fala-se também na saída do Hugo Leal. São todos jovens jogadores cobiçados por grandes clubes estrangeiros. Fala-se também no seu nome para o Atlético de Madrid, para o Bétis ou até para o Celta. Há realmente propostas?

-- Propostas? Sim, há. Existem clubes interessados, que já me fizeram boas propostas, mas não estou muito interessado. Tenho mais cinco anos de contrato e espero cumpri-los.

-- Mesmo tratando-se de uma daquelas propostas fabulosas?

-- No futebol há propostas tentadoras e deslumbrantes, algumas irrecusáveis. Eu não fujo à regra, e se algo do género me for proposto não sei o que fazer, Aliás, um dia mais tarde gostava de ter uma experiência no estrangeiro, num campeonato mais competitivo. Mas neste momento sinto-me muito bem no Benfica e penso que ainda tenho muito para dar a este clube.

-- E se aparecesse mesmo uma dessas propostas?

-- Teria de ponderar muito bem, porque trocar o Benfica por outro clube qualquer é difícil. Há sentimentos que dinheiro nenhum paga, e eu nasci no Benfica, sempre fui benfiquista e custava-me muito sair sem deixar o meu nome bem gravado na história do clube e no futebol português. Quero sair com boas recordações e penso que este não é o momento certo. Mas tudo é relativo.

-- Cumprir os cinco anos de contrato significa poder sair com 26. É a idade ideal?

-- Penso que sim. Para se ir para certos clubes no estrangeiro, para países com mentalidades diferentes do nosso, é preciso ser-se um jogador já com um certa maturidade, penso que nós, futebolistas, temos de estar bem psicologicamente, estar tranquilos, sem pressões nem problemas, estar preparados mentalmente para jogar em outro país. Se não estiver em boas condições acaba por se perder, e, infelizmente, muitos dos jovens que já saíram para o estrangeiro caíram completamente. As excepções são poucas, talvez apenas o Figo, o Rui Costa e o Sousa.

-- Portanto não encara essa possibilidade a curto prazo?

-- Para sair para algum lado há que ser-se já alguém. Ainda estou a criar o meu terreno, a conquistar o meu lugar no Benfica. Estou a fortalecer cada vez mais a minha posição, mas ainda me faltam criar muitos alicerces, para um dia poder sair sem cair.

-- No caso do Simão, acha que ele fez mal em sair já?

-- O Simão já tem uma grande credibilidade no futebol, é internacional A, coisas que eu ainda não consegui. É um excelente jogador e como cada um pensa por si, ele sabe o que faz. Mas penso que se ficasse mais um ou dois anos em Portugal poderia criar melhores bases para triunfar. Ele é ambicioso, vai para um dos melhores clubes do Mundo e espero que tenha grandes êxitos.

-- Como vê esta saída maciça de jogadores jovens?

-- Por um lado sinto-me triste porque o nosso futebol está a perder grandes talentos, o que poderia engrandecer o campeonato, torná-lo mais competitivo, aliás, como já foi este ano, que esteve bastante mais equilibrado. Fico triste também porque os nossos dirigentes não apostam na formação, não confiam nos jovens jogadores portugueses e compram estrangeiros, quando, pelo que se viu esta época, todos os jovens que actuaram nos mais diversos clubes da I Divisão não desiludiram ninguém, e alguns até foram revelações, veja-se o caso do V. Setúbal e do Sporting. Para mim, que conheço a maioria desses jogadores das selecções, não foi uma surpresa. De todos, houve um rapaz, que no ano passado vi jogar nos juniores da Académica, que mostrou esta época que é um grande valor, o Luís Filipe. Mas, infelizmente, também vai embora. O Sousa fez igualmente um excelente final de época.

FILOMENA MARTINS

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