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«Estou farto de viver»

João Besteiro: "Na sexta-feira, o Eusébio esteve aqui a fazer a barba e disse-me que não aguentava mais as dores, admitindo mesmo que estava farto de viver. Perguntei-lhe se não tomava os comprimidos

Confissão nas vésperas da morte
Confissão nas vésperas da morte • Foto: PEDRO FERREIRA

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"Estou farto de viver!" Foi este o desabafo de Eusébio na sexta-feira antes de morrer. O Pantera Negra partiu na madrugada de domingo e, dois dias antes, visitou pela última vez o amigo João Besteiro, conhecido por mestre João Barbeiro, que lhe cortava o cabelo desde 1960.

Foi na barbearia do Hotel Ritz, em Lisboa, que confessou estar a atravessar uma fase mais complicada.

"Na sexta-feira, o Eusébio esteve aqui a fazer a barba e disse-me que não aguentava mais as dores, admitindo mesmo que estava farto de viver. Perguntei-lhe se não tomava os comprimidos e ele disse que os medicamentos já não faziam efeito. Fez a barba, despediu-se e foi-se embora", recorda.

Esta era uma amizade que já durava desde 16 de dezembro de 1960, um dia depois do "King" ter chegado a Lisboa. Desde então, o antigo jogador rendeu-se ao trabalho deste barbeiro e cresceu uma cumplicidade entre os dois.

Por isso, não é de estranhar que a notícia da morte tenha deixado João Besteiro em choque.

"Estava na missa e o Padre interrompeu e disse: "Fomos surpreendidos por uma notícia muito triste: 'Faleceu o Eusébio'. Foi um choque muito grande, ele era uma pessoa humilde e muito querida de toda a gente. A prova disse foi a manifestação que lhe fizeram", explicou, referindo-se à homenagem dos adeptos durante a última segunda feira, dia do funeral.

O barbeiro recorda os momentos que passava com Eusébio. Emocionado, conta que o Pantera Negra "não era esquisito com o cabelo mas no fim gostava de dar o último toque ao seu jeito". Nessas alturas, "não gostava de falar de futebol, a não ser do Benfica".

"Era tão benfiquista que não queria falar de outros clubes como o Sporting ou o FC Porto. Se falassem do Benfica ele falava de futebol, senão não queria falar", acrescenta.

Quanto à relação com os outros clientes da barbearia, o Mestre João, de 80 anos, revela que todas as pessoas queriam tirar fotografias com Eusébio e que ele era simpático para toda a gente.

Numa amizade tão longa são muitas as histórias que guarda e que seriam suficientes para escrever vários livros. Uma das recordações que o traz à memória é a do famoso Mustang.

"Comprou o carro em segunda mão e quando viajava para o estrangeiro com o Benfica costumava deixá-lo numa garagem. Com o tempo, pediu-me para ficar na minha porque desconfiava que andavam nele na sua ausência. Quando chegava de viagem conferia os quilómetros e não eram os mesmos. Além disso, o depósito estava sempre vazio", relembra, acrescentando outro momento:

"Em 1966, no fim de um jogo entre Portugal e Inglaterra, Eusébio foi abraçar o jogador que o marcou, o Nobert Stiles, que tinha sido muito duro durante o encontro. Então, logo que estive com o Eusébio, perguntei-lhe o que é que ele lhe tinha dito. Aí, Eusébio admitiu que se virou para ele e disse que, a jogar assim, qualquer dia quem iria magoar-se era ele. Entretanto, oito dias depois, Nobert Stiles partiu uma perna. Foi uma profecia que, talvez, Eusébio se tenha arrependido de ter dito".

Muitas são as lembranças, sendo que estas duas histórias são apenas um pequeno apontamento numa imensidão de recordações, anos vividos, momentos partilhados... 53 anos de amizade que vivem para além da lenda.

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