Soube manter-se à margem da política. “E bem puxado foi”, diz Mário Zambujal...
Seis anos depois de ter chegado a Lisboa, já no pós-Mundial 1966, Eusébio da Silva Ferreira recebia a primeira distinção do Estado português: a Medalha de Prata da Ordem do Infante D. Henrique. O reconhecimento institucional prolongou-se da ditadura muito para lá do 25 de Abril e sobreviveu ao tempo, com os mais diferentes líderes e níveis de poder, de António de Oliveira Salazar e Américo Tomás, passando por Mário Soares ou Cavaco Silva. “Costumo dizer que uns são predestinados e outros eleitos. Eusébio era as duas coisas, predestinado e eleito; grande como os simples e simples como os grandes. Tinha a dimensão de Portugal ou ultrapassava-a”, sublinha o jornalista e escritor Armando Baptista-Bastos, de 79 anos. “Ao contrário dos políticos e desta barafunda em que vivemos, ele sim fez a autêntica congregação nacional”, acrescenta.
Mário Zambujal, de 77 anos e antigo diretor adjunto de Record, lembra o impacto de Eusébio na sociedade portuguesa da década de 60. “A chegada dele a Portugal foi um fenómeno estrondoso. O duelo entre Benfica e Sporting começou logo a apaixonar as pessoas. Foi alguém de muito raro, quase estranho no futebol português”. A capacidade de resistir ao apelo dos políticos, desde logo no Estado Novo, terá sido um dos segredos que tornaram o King numa figura hoje consensual para o país. “Ele foi condecorado antes e depois do 25 de Abril. Soube sempre manter-se à margem dessas questões. E bastante puxado foi!”, declara Zambujal.
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Com a morte de Eusébio, Portugal perde um símbolo popular da sua história recente, talvez só comparável a Amália Rodrigues, desaparecida em 1999. “Foram duas figuras que marcaram o século 20 português”, observa Mário Zambujal. Baptista-Bastos concorda mas junta outros nomes, que equipara ao patamar do Rei. “Não podemos esquecer que temos nomes como José Saramago, Manoel de Oliveira, Júlio Pomar ou Vieira da Silva, pessoas que deram outra dimensão ao país. Todos eles estão nesse patamar de excelência”, enaltece.
Homenagens
À medida que Eusébio ganhou dimensão nacional, as manifestações em torno da sua figura começaram a multiplicar-se. Uma das mais publicitadas talvez seja o poema de Manuel Alegre, mas ninguém esquece, por exemplo, a curiosidade de uma das lontras do Oceanário ter sido batizada com o seu nome (e outra com o de Amália). A vida do King suscitou as mais variadas homenagens, que contribuem para reforçar o estatuto de património do país e do Mundo:inspirou uma banda desenhada, uma minissérie televisiva e documentários sem fim; dá nome a um avião da TAP e a ruas em várias localidades; já foi até boneco humorístico, na figura de “Deusébio”;e, claro, deixa uma estátua no Estádio da Luz, obra do escultor norte-americano Duker Bower e que tem réplica em... Boston.
Não faltaram as “coroações”
Se há coisa que Portugal – e o Benfica, em específico – nunca esqueceu foi de homenagear Eusébio em vida. A 25 de setembro de 1973 ocorre a primeira, mas é em 1992, no dia 1 de dezembro, que acontece uma das mais marcantes: quando fez 50 anos, os encarnados promoveram a “Consagração Nacional a Eusébio”, no Casino do Estoril. Mário Soares, então Presidente da República, condecorou-o com a Ordem do Infante numa gala onde estiveram presentes Bobby Charlton, Kempes, Damas, Manuel Fernandes, Rivelino e Di Stéfano.
Revolução leva-o além-fronteiras
Mesmo tendo sido vetada a possibilidade de emigrar no final da década de 1960, por ser um “símbolo nacional”, a verdade é que o pós-25 de Abril trouxe a Eusébio a possibilidade de atuar além-fronteiras. Entre Estados Unidos da América, Canadá e México, representou os Rhode Islands Oceaners, os Boston Minutemen, o Monterrey, os Toronto Metros – Croatia (onde foi campeão americano em 1976), o Las Vegas Quicksilver, New e os Jersey Americans. Tudo isto intercalado com curtas passagens no Beira-Mar e U. Tomar.
Reconhecimento atravessou gerações
Em 1992, na passagem do 50.º aniversário de Eusébio, Record e o então primeiro-ministro Cavaco Silva associaram-se à comemoração nacional. Omomento foi selado em São Bento, com a presença do Rei, do chefe do Executivo e do diretor de Record, Rui Cartaxana, acompanhado por João Cartaxana e Fernando Dias
A vitória da candidatura portuguesa à organização do Campeonato da Europa de Futebol de 2004 criou laços de amizade entre Eusébio e diversos membros do Governo, aqui representado pelo primeiro-ministro António Guterres, o ministro-adjunto José Sócrates e secretário de Estado do Desporto, Miranda Calha
Em 1998, o Pantera Negra solicitou uma audiência com o então Presidente da República, Jorge Sampaio, para lhe entregar, pessoalmente, uma cópia da sua biografia. Sampaio, assumido sportinguista, esqueceu naturalmente as diferenças clubísticas e recebeu aquele que foi um dos símbolos de Portugal
Em 2007, Eusébio reencontrou Cavaco Silva já como Presidente da República. O Pantera Negra deslocou-se ao Palácio de Belém, após ser submetido a uma intervenção cirúrgica ao coração, para agradecer pessoalmente os votos de rápidas melhoras do Chefe de Estado. Ofereceu-lhe um livro e recebeu uma foto do presidente
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