Podem não acreditar mas eu não assisto aos jogos do Benfica em Moçambique, mesmo podendo vê-los na televisão
Morreu o Monstro Sagrado do futebol português. Mário Coluna foi um jogador único, marcante no Benfica e na Seleção Nacional, até ser considerado um dos melhores de todos os tempos à escala mundial.
É esse percurso desde 1954, quando chegou a Lisboa, até aos dias de hoje que aqui fica em discurso direto:
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SPORTING
“Em 1954, numa deslocação a Lourenço Marques, hoje Maputo, o Sporting jogou com uma seleção local. Eu joguei bem e no fim os dirigentes vieram ter comigo a perguntaram-me se eu queria representar o clube. Disse que sim mas que teriam de falar com o meu pai, que era doente pelo Benfica. Não sei qual foi a resposta dele mas sei que o Desportivo (filial do Benfica) mandou logo um SOS para Lisboa a dizer que o Sporting estava interessado num avançado-centro do clube. O Benfica respondeu para me colocaram no avião e que viajasse imediatamente.”
JOSÉ ÁGUAS
“Quando cheguei, ele tinha sido operado a uma apendicite e estava em convalescença. Otto Glória mandou-me logo treinar no lugar do José Águas. Parece que agradei e nos primeiros jogos nunca atuei nas reservas nem fui suplente. Mas eu sabia quem era o avançado-centro da equipa e quando o Águas regressou, o Otto falou comigo. Portanto não estranhei jogar a interior direito e esquerdo ou mesmo a médio. Para mim até foi melhor: joguei mais à vontade.”
MONSTRO SAGRADO
“Foi o Artur Agostinho, grande jornalista e amigo, quem se lembrou de me chamar Monstro Sagrado, na sequência de um jogo que me correu bem.”
LÍDER
“Era uma força dentro do campo. O capitão era o José Águas mas o Otto Glória e o Bela Guttmann diziam que quem mandava no terreno era eu. Os treinadores naquela altura davam a tática no balneário e diziam que lá dentro mandava o Mário Coluna. Era o manda-chuva no relvado. No Benfica e na Seleção.”
OTTO E RIERA
“Otto Glória e Fernando Riera foram os melhores treinadores com quem trabalhei, embora Otto tenha sido mais marcante.”
BELA GUTTMANN
“Também faz parte da história, conseguiu resultados extraordinários mas era muito mau. Exagerava no modo rude e mal-educado como falava connosco. Sei que a disciplina é fundamental em qualquer grupo mas Guttmann tornava-se insuportável. Chegava a insultar-nos”
BARCELONA
“Frente ao Barcelona tivemos um jogo difícil. Na primeira parte, depois de um choque, fiquei absolutamente desmemoriado. Andei o primeiro tempo descontrolado e foram os meus colegas que tiveram de me contar o que se passara. No segundo tempo reencontrei-me e tive a sorte de obter um golo que nunca mais vou esquecer: aquele que nos deu a primeira Taça dos Campeões.”
REAL MADRID
“Quando marquei o terceiro golo (na final de Amesterdão), com um tiro indefensável, senti que já não poderíamos perder. A partir desse momento fomos senhores do jogo. Um triunfo claro, sem discussão. Uma vitória da raça. Da tal mística que se tornou tão famosa pelo tempo fora.”
AC MILAN
“Foi a mais fácil de todas as finais europeias que disputei. Perdemo-la ingloriamente, por lamentável excesso de confiança. Marcámos o nosso golo muito cedo, o que reforçou o nosso otimismo. Depois, quando já estávamos empatados, Trapattoni inutilizou-me (não foi Trapattoni para sim Pivatelli, embora Coluna tenha mantido sempre a convicção de que foi o antigo treinador benfiquista a magoá-lo). Eusébio também foi fortemente tocado. E perdemos... Mas nunca me resignei a essa derrota.”
INTER MILÃO
“Parecia que ia ser um jogo terrível para nós e não sucedeu assim. Mesmo quando perdemos o Costa Pereira e o Germano foi para a baliza não nos inferiorizámos. Batemos o pé, impusemo-nos e só não empatámos por mera infelicidade pois tivemos bastantes oportunidades para consegui-lo.”
MAGRIÇOS
“É inegável que o 3.º lugar no Mundial foi bem melhor e teve mais peso do que as duas Taças dos Campeões Europeus que conquistámos. Juntou-se em Inglaterra a fina-flor do futebol de todos os hemisférios. E mais: se não fosse a pouca sorte com os ingleses o caso teria sido mais falado. Não desdenho sequer a hipótese de que poderíamos ter chegado ao título. Jogámos o suficiente para o conseguir.”
OPERAÇÃO
“Foi o pior jogo da minha vida. Com tantos anos de futebol, felizmente, nunca nada do género me tinha acontecido. Foi a única intervenção cirúrgica da carreira (fins de março de 1967). Passei um mau bocado, principalmente por causa das dores horríveis que não me deixavam.”
CAPITÃO DA SELEÇÃO FIFA
“Ser escolhido para uma seleção mundial, mais ainda por Helénio Herrera, um treinador de grande prestígio internacional, foi um momento de grande felicidade (outubro de 1967). Ter sido o capitão da seleção mundial que defrontou a Espanha, na festa de homenagem a Ricardo Zamora, foi uma das maiores honras que tive na carreira.”
MANCHESTER UNITED
“Segunda final em Wembley, segunda derrota, esta sofrida para lá dos 90 minutos. Foi pena: nos últimos instantes do jogo, o Eusébio apareceu isolado diante do guarda-redes, Alex Stepney, e rematou forte, à figura. Bastava que tivesse desviado a bola. Estávamos muito cansados e no prolongamento sofremos três golos.”
O FIM NA LUZ
“Acabei para o Benfica quando era o melhor do sector defensivo. Sempre fui um jogador invejado. O José Augusto afastou-me para se sentir mais à vontade.”
LYON
“Antes mesmo da festa de despedida do Benfica, o clube francês ofereceu-me 75.000 francos (cerca de 2.000 euros) e 15.000 francos de ordenado (cerca de 400 euros). Foi o melhor contrato que fiz, já em velho, pois nunca tinha ganho tanto. O Benfica aceitou e deu-me a carta internacional de desvinculação.”
ESTRELA DE PORTALEGRE
“Quando voltei a Portugal recebi um convite do clube alentejano e aceitei, até porque recebia mais do que ser treinador do futebol juvenil do Benfica, apesar de me sentir bem no meu clube, pois estava lá o Ângelo e outros amigos a treinar as escolas.”
ÁFRICA
“Surgiu-me o convite, entre o 25 de abril e a independência de Moçambique. O Textáfrica era uma empresa têxtil em Lourenço Marques (Maputo) que decidiu apostar no futebol. Tive sorte porque o clube conquistou o primeiro e único título nacional comigo à frente da equipa.”
FERROVIÁRIO
“Deram-me boas condições mas exigi não ser apenas treinador de futebol, pois queria um emprego na empresa que estava ligada aos Caminhos de Ferro.”
SELECIONADOR MOÇAMBICANO
“Foi uma solução que decorreu do trabalho que estava a fazer no Ferroviário. Nessa altura também desempenhava funções como conselheiro técnico dos clubes, aconselhando-os nas linhas de orientação técnica e na descoberta de novos futebolistas.
PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO MOÇAMBICANA
“Quando a possibilidade se deparou senti que não podia corresponder ao convite e por isso não aceitei. Mas o meu nome surgiu numa lista, os meus colegas contactaram o Ferroviário e foi o próprio clube quem me empurrou para o cargo, pois abriria as portas ao futebol moçambicano.”
“RECORD DE OURO”
“Esta homenagem (junho de 2010) foi uma surpresa gratificante para mim. Fico sempre satisfeito por sentir que as pessoas continuam a lembrar-se de mim. E a alegria é tanto maior quando a distinção parte daquele que foi sempre o meu jornal. Agradeço ao Record, de todo o coração. São estes pequenos/grandes momentos que reforçam a ideia de que foi bom ter sido jogador de futebol, de ter representado o Benfica e Portugal, de ter mantido uma relação sempre cordial e respeitosa com toda a gente. Receber um prémio destes é uma honra muito grande. Estou muito feliz. Acreditem.”
“RECORD”
“Desejo-vos as maiores felicidades, que tenham muito sucesso e continuem a lembrar-se de quem fez a história do futebol português. O Record fez-me centenas de entrevistas e a nossa relação sempre se pautou pela sinceridade, pela abertura e pelo respeito mútuos. Estou muito feliz. Merci beaucoup, como dizem os franceses.”
COLAR DE MÉRITO DESPORTIVO
“Estou de parabéns e muito satisfeito pela distinção. Dei muito ao desporto português.” (Entregue em Maputo pelo então ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas)
78. º ANIVERSÁRIO
“Tem um significado especial comemorar este aniversário em Portugal, em Lisboa, no campo que tive a honra de inaugurar, o Estádio da Luz. É uma honra o Benfica não se esquecer de mim e autorizar este jantar. Estou muito agradecido à direção do Benfica”
BENFICA DE HOJE
“Podem não acreditar mas eu não assisto aos jogos do Benfica em Moçambique, mesmo podendo vê-los na televisão. Só no dia seguinte é que sei o resultado. O Benfica do meu tempo não é o de hoje: então só jogavam portugueses.”
MORTE DE EUSÉBIO
“Saiu daqui (Lourenço Marques, hoje Maputo) com a autorização da mãe e eu fiquei como pai dele. Representei-o até ele ser maior de idade. Tinha-o como um filho e, por isso, hoje é um dia muito triste. O Eusébio representava Moçambique no desporto. Os moçambicanos estão todos como eu: muito tristes.”
Fontes: Jornal “Record”, Jornal “O Benfica” Revista “Coluna – O Grande Capitão”, Ídolos do Desporto – “O Homem das 5 Seleções”
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