Ex-avançado argentino não esquece o que viveu ao serviço dos encarnados e do Belenenses
Aos 48 anos, o avançado argentino não esquece o que viveu ao serviço dos encarnados e do Belenenses, mas não tem dúvidas sobre quem vai levar a melhor no dérbi de hoje e... nos dois próximos campeonatos.
RECORD - Com um Benfica-Belenenses à porta, de que cor é o seu coração?
MAURO AIREZ – Ao longo dos anos tenho dito que sou do Belenenses. Continuo a ser. Foi o clube que me abriu as portas da Europa e estou muito grato. Em termos de futebol, obviamente que o Benfica é o Benfica. É a maior instituição portuguesa em termos de infraestruturas e de massa associativa. É um clube espetacular. Não podemos comparar um com o outro.
R - O que espera neste jogo?
MA – A lógica já não conta muito hoje em dia, mas acredito que não vai haver surpresas. O Benfica pode ganhar facilmente. As pessoas exigem mais de um tetracampeão e o Benfica não mudou a base. Os primeiros quatro ou cinco jogos são fundamentais e depois é que a equipa começa a encarrilar. O arranque do primeiro ano do Rui Vitória foi caótico, mas ele manteve a ideia dele e soube muito bem passar tudo aquilo que sabe. Não valia de nada se não o conseguisse fazer. E este ano vai fazê-lo outra vez.
R - Não há rivais à altura?
MA – Não vejo nenhuma equipa superior ao Benfica. Tem tudo para conquistar o penta. É uma equipa mentalmente muito forte, logo a partir do presidente e do treinador. Fizeram um trabalho espetacular e têm tudo para chegar ao hexa. Uma equipa já chegou ao penta, o Benfica tem de ultrapassar isso.
R - Como é que vê os rivais FC Porto e Sporting?
MA – Vejo o FC Porto mais forte do que o Sporting para ser o adversário mais direto. Não é para falar do treinador, mas o Sporting não conseguiu endireitar-se e não conquistou nenhum título que podia estimular a equipa. Jogam bem, mas chegam à hora H e falham em tudo. Uma equipa grande tem de ultrapassar a hora H.
R - E o que espera do Belenenses?
MA – Há uma grande distância entre a SAD e o clube e isso prejudica. Mas é um clube que corre riscos. Principalmente pelo treinador que escolheram vai ser um teste até dezembro. Se correr mais ou menos e continuarem a insistir no mesmo treinador, correm o sério risco de descer. Hoje em dia é num instantinho. Não são os últimos dois meses que salvam.
R - Falando do Belenenses, quais são as melhores recordações?
MA – O meu primeiro ano foi fantástico, com Abel Braga. Tínhamos uma equipa muito forte na 2ª Liga e estivemos uns 30 jogos sem perder. Era um grande grupo e no ano a seguir mantivemos o nível na 1ª Liga. Os meus dois primeiros anos no Belenenses foram os melhores. Fui quase sempre o goleador.
R - No Belenenses tornou-se uma referência do clube?
MA – Acho que sim, mas a minha saída foi complicada. Julgo que 99% dos adeptos do Belenenses pensam que quis sair para o Benfica e não foi assim. Estava numa guerra aberta com o João Alves porque ele me queria pôr a lateral-direito depois de durante quatro ou cinco anos ser o melhor marcador da equipa.
R - Ele explicou-lhe porquê?
MA – Disse que me tinha visto a jogar a lateral-direito na Argentina, mas nunca o fiz. Comecei como extremo! A guerra no Belenenses começou aí e fui praticamente obrigado a sair. Estive um mês e meio sem clube.
R - E o Benfica apareceu aí?
MA – Exatamente. Saí do Belenenses em novembro e o Benfica aparece em janeiro porque o Hassan rasgou o joelho. Estavam à procura de um avançado, eu estava livre e falaram comigo.
R - O que é que recorda dos tempos no Benfica?
MA – Quando cheguei estávamos sem treinador principal porque o Artur Jorge tinha saído. Ficou o Mário Wilson como interino. Houve uma vez que estávamos a treinar remates à baliza e o Mário ficava virado para a baliza. Nós vínhamos de trás com a bola dominada, trocávamos um passe e rematávamos. A meio do treino, o Ricardo Gomes acertou na cabeça do homem! Caiu, deu uma cambalhota para a frente e disse ‘Quem me acertou na cabeça não joga!’. Quando se levantou e viu que era o Ricardo disse ‘Tu jogas!’ (risos).
R - Qual foi a melhor recordação ao serviço do Benfica?
MA – Dentro da tristeza que me causou, foi a final da Taça de 1996. Fizemos um jogo espetacular. Obviamente que depois ter acontecido o que aconteceu, nem conseguimos receber a Taça no Estádio Nacional. Foi muito triste por esse lado. Mas o ponto mais alto foi esse.
R - Como foi lidar com a morte que aconteceu nesse jogo devido ao arremesso do very-light?
MA – Andei a bater mal nas duas primeiras semanas porque aconteceu no meu golo. Marquei e dei um mortal a festejar. Aquilo foi atirado ali ao pé e, quando fiz o mortal, o very-light estava a passar por cima. A pessoa que morreu se calhar estava a olhar para mim...
R - Jogou com muitos craques no Benfica. Quem destaca?
MA – Há três especiais. O Preud’homme era fora de série, com a idade que tinha e a forma de treinar. O João Pinto é inquestionável, tinha tudo. E depois tínhamos o maestro da orquestra, o Valdo. Eles marcaram muito a minha passagem pelo Benfica. E o Ricardo Gomes também orientava tudo em campo com o Preud’homme.
R - Depois de se afastar do futebol, o que faz hoje em dia?
MA – Sou assistente de iluminação em televisão, publicidade e cinema. Faço filmes, curtas, longas-metragens como freelancer.
R - Como é que isso apareceu?
MA – Trabalhava para a empresa Soccer e tínhamos Duscher e Quiroga no Sporting. Foi quando houve uma enorme crise na Argentina e fiquei sem trabalho. Comentei com um amigo que me convidou para trabalhar com ele. Não percebia, mas fui aprender. Comecei com um programa na RTP, entrei no mundo da publicidade e hoje faço de tudo.
R - As pessoas reconhecem-no?
MA – Especialmente ao início, sim! Fartava-me de rir. Diziam que eu era parecido com um jogador de futebol e eu dizia ‘sim, é o meu irmão...’ (risos).
R - É melhor do que o futebol?
MA – Gosto muito do que faço, mas não... É uma profissão ingrata. O bichinho do futebol está sempre cá. Mas para fazer uma pausa no que estou a fazer agora tinha de aparecer uma proposta muito boa, com um projeto a longo prazo. Hoje em dia funciona tudo à volta de resultados, mas em dois ou três meses não dá para construir nada.
R - Mas gostava de voltar?
MA – Claro. Há muitos treinadores agora que jogaram comigo e claro que gostava. Podia ser na equipa principal, na formação ou a tratar das relações internacionais, de descobrir jogadores. Gosto muito disso. Chego a muito países na América do Sul.
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