A ideia da construção de um estádio municipal em Lisboa para servir Sporting e Benfica merece reservas por parte de alguns ex-presidentes de ambos os clubes. Por enquanto, ninguém conhece bem os contornos de tão arrojado projecto e, talvez por isso, nenhum dos antigos líderes contactado emite uma posição clara acerca do assunto.
A experiência europeia, nomeadamente em Itália, onde vários clubes partilham o mesmo complexo é lembrada por Sousa Cintra, a quem a ideia não choca. Também Manuel Damásio considera que ninguém pode estar contra uma medida que "reduza as despesas dos clubes", mas frisa, por outro lado, não haver tempo para a edificação do tão falado estádio municipal para os dois maiores emblemas da capital. Mais radical mostra-se Jorge de Brito, que se manifesta claramente "contra" a ideia.
E a quem interessa mais o avanço do projecto? A maioria aponta para o Benfica, essencialmente pelo facto de o Sporting já ter o seu estádio em construção. De qualquer forma, as recentes declarações de Dias da Cunha em prol do novo complexo são tidas em conta.
Resta, agora, saber se o estádio municipal vai, de facto, avançar e se a saída do Benfica do G-18 terá ou não implicações também a este nível.
As perguntas aos ex-presidentes
1 – Concorda com um estádio municipal que sirva Benfica e Sporting?
2 – Qual dos clubes terá maiores benefícios com a construção desse estádio?
FERNANDO MARTINS [Presidente entre 1981/86]: «Nem sei se haverá 2004»
1 – Tudo depende das condições oferecidas. À partida não me ofende partilhar um estádio com o Sporting. Mas nós (e eles) sempre tivemos uma casa só nossa. Ninguém ainda falou das condições, do que está, na realidade, em cima da mesa. E os sócios e adeptos dos dois clubes são sempre confrontados com notícias em sentidos contrários. Resumindo: acho que se pode haver vantagens, também podem haver desvantagens.
2 – Os benefícios serão iguais para ambos. Não deverá haver diferenças significativas. O presidente do Sporting disse recentemente que o estádio deles vai continuar a ser construído. Já não tenho a certeza de nada. Nem sei se irá haver mesmo Euro-2004.
JORGE DE BRITO [Presidente entre 1992/93]: «Sou contra
a cem por cento»
1 – Sou contra, a cem por cento. Não vejo razão para os sócios do Benfica e do Sporting conviverem juntos. Acho que ainda não se chegou a esse estado de harmonia. Ou seja, à partida, como sócio há 67 anos e como águia de ouro mais antiga do clube, não estou de acordo com a ideia.
Mas tudo o que sei do assunto, sei-o através dos jornais. Não estou por dentro das negociações, não estou a par das eventuais vantagens económicas para o País e para os clubes. Não sei quanto é que o Benfica terá de pagar. Não sei quanto caberá ao Sporting. Não sei qual será a participação da Câmara Municipal de Lisboa. Não sei qual será a participação do Governo. Depois de elucidado admito mudar de opinião.
2 – É difícil saber. Mas tendo em conta que o estádio do Sporting já está a avançar, parece ser o clube mais prejudicado. Contudo, ouvi o dr. Dias da Cunha, que estimo muito, a falar sobre o assunto e pareceu-me interessado.
MANUEL DAMÁSIO [Presidente entre 1997 e 2000]: «Não há tempo para o municipal»
1 – Só uma pessoa pouco informada é que pode estar contra uma ideia que reduza as despesas do clube, como é o caso do Estádio Municipal. Mas não há tempo! Não há tempo para se realizar um debate rigoroso e, dessa forma, será muito difícil convencer os sócios dos dois clubes. Ainda para mais, o Benfica, no dia 28, vai à UEFA apresentar o estádio. E esse estádio pode tornar-se rentável em cinco anos. Convém, também, que não se misturem coisas: tenho lido que com o dinheiro que se poupa no municipal pode investir-se no futebol, mas uma coisa não tem nada a ver com outra.
2 – Aos dois, mas o Benfica talvez beneficiasse mais porque o Estádio Municipal é mais pequeno que a Nova Luz e deverá dar menos despesas.
SOUSA CINTRA [Presidente entre 1989 e 1995]: «A ideia
não repugna»
1– Olhando para aquilo que se passa em Itália, por exemplo, onde existem muitos estádios comuns a vários clubes, é um assunto a pensar, mas tudo depende da forma como se está a projectar esse tipo de empreendimento. Se a Câmara Municipal de Lisboa pagar as despesas relacionadas com segurança, manutenção e outros aspectos, e as receitas reverterem para os cofres do clubes. Não me repugna nada a ideia de um estádio cómodo para Sporting e Benfica, mas é preciso saber mais detalhes sobre o assunto. Quanto à identidade dos clubes, julgo que as massas associativas podem chocar-se, mas trata-se de um problema cultural. No Maracanã, as claques são separadas.
2 – Não tenho detalhes suficientes, nomeadamente sobre os aspectos económicos, para me pronunciar. O Sporting já avançou para a edificação do novo estádio, enquanto o Benfica ainda não. É prematuro responder a essa
pergunta.
JOÃO ROCHA [Presidente entre 1973 e 1986]: «Vamos esperar pela assembleia»
1 – Vamos esperar pela realização da assembleia geral do Sporting. Nessa altura, manifestarei o meu ponto de vista se estiver em Portugal. Por enquanto, não quero emitir qualquer tipo de opinião acerca desse assunto.
2 – Também não pretendo responder a essa pergunta neste momento.
A história do Municipal
1998 – João Soares, em final de mandato na edilidade lisboeta, propõe a construção municipal, recusada por Vale e Azevedo.
Fev./2001 – Em entrevista a Record, o edil lisboeta conta que a ideia lançada em 98 avançava para dois estádios municipais, um na zona ocidental e outro na zona oriental da capital.
27 Abril – "O Independente" noticia a existência de um novo projecto para um estádio municipal. Dias da Cunha nega qualquer hipótese de o Sporting construir um estádio em conjunto com o Benfica e o clube emite um comunicado, dizendo "não ter problemas de carácter financeiro a resolver, nomeadamente para a construção do estádio". O ministro José Lello desconhece a proposta e Gilberto Madaíl afirma parecer-lhe "mentira de 1 de Abril".
28 Abril – Manuel Vilarinho mostra-se agradado com a ideia, mas admite que não deverá ser concretizada, culpando Vale e Azevedo por a ter inviabilizado antes.
29 Abril – Armando Vara, ex-ministro do Desporto, gostaria de um estádio comum. Pinto da Costa garante que a verdade será conhecia a 10 de Maio e diz-se preocupado com a atribuição das verbas por parte do Estado e da Câmara. Dias da Cunha revela-se receptivo à ideia e dispõe-se a apresentá-la aos sócios.
30 Abril – Ilídio Dinis, director do património da CM Lisboa e ex-vice-presidente do Sporting, garante que o financiamento de um estádio municipal exigiria um orçamento suplementar da edilidade.
3 Maio – Ernest Walker, presidente da Comissão de Estádios da UEFA, de visita a Portugal, considera que os projectos dos recintos do Euro-2004 "têm sofrido muitas alterações", o que "pode causar confusões e atrasos", e deixa um aviso: "Espero que todos tenham percebido que é melhor não perder mais tempo."
6 Maio – Miguel Galvão Telles, presidente da AG do Sporting, diz ser "demasiado tarde para se partir para a construção de um estádio municipal".
7 Maio – João Soares diz a Record que "a iniciativa não partiu da CML" e que o municipal "está nas mãos dos dois clubes".
8 Maio – Benfica decide avançar para a construção de um novo estádio. Lello é informado e mostra-se satisfeito. Em comunicado, Vilarinho diz que "quanto à hipótese de uma eventual parceria com a CML que, do ponto de vista económico, seria de longe a mais vantajosa, não foi ainda possível viabilizá-la". Noutro contexto, Madaíl lembra: "Em Setembro próximo quem não estiver com o estádio em marcha, fica de fora."
10 Maio – Faria de Oliveira, presidente do CF do Sporting, gosta da ideia. Dias da Cunha garante que o processo não evoluiu.
12 Maio – Luís Nazaré, presidente do CF do Benfica, não se mostra favorável à construção de um estádio novo para o seu clube e lembra existirem outras soluções, entre elas a do municipal.
17 Maio – Madaíl reúne-se com Dias da Cunha, Vilarinho e Godinho Lopes e reforça a ideia de que "não existe evolução" no processo e que ele não depende de si.
21 Maio – José Lello emite comunicado lembrando que os clubes devem primeiro garantir o apoio das respectivas massas associativas e só depois de tudo definido levar o projecto à UEFA.
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