Já estão a preparar-se para um possível mercado de janeiro? Ou só começam a preparar-se se ganharem as eleições?

"Aqui estão pessoas que falam de futebol todos os dias. Todos nos apercebemos e temos de ser frontais nisto. José Mourinho não pode perder o caminho da frente, não se pode desligar de FC Porto e Sporting. Não pode perder pontos. Alguns criticaram, outros enalteceram o jogo tático no Dragão, mas era importante não perder aquele jogo. Mourinho sabia que se perdesse aquele jogo, até chegar a janeiro e até recuperar alguns lesionados, estávamos no limite de nos afastarmos do pelotão. Queremos que Mourinho consiga aguentar, recuperando alguns jogadores, e depois em janeiro podemos dar-lhe os jogadores que quer para acabar o campeonato."

Em termos mediáticos, por que razão o Vítor Paneira apareceu tão tarde na campanha?

"Não tinha de aparecer muito. Serei o diretor-técnico. Há grandes figuras. O senhor Bagão Félix, Luís Tadeu... Acho que tinha de ter o meu espaço e o meu espaço é este. Os diretores-técnicos não vão estar em campanha a falar nas televisões. Vim cá hoje porque me convidaram para falar do Benfica e [explicar] o porquê de estar com Noronha Lopes. E posso explicar em dois pontos. Em 2020, quando nos candidatámos, queríamos a mudança. Em 2025, pouco mudou. E o pouco que mudou foi que o Sporting ganhou oito títulos e tem mais 166% de vitórias do que o Benfica em títulos. O FC Porto tem 133% a mais do que o Benfica. E o Benfica tem mais um troféu do que o Sp. Braga. É este o Benfica que queremos? Para o qual andamos a lutar desde 2020? Por isso é que estamos aqui. Os sócios têm de decidir. Querem continuar isto? Os números falam por si e não vale a pena fugir às questões. Temos três títulos em quatro anos. Temos muito pouco. Se isto é suficiente, então seria o primeiro a fazer campanha por Rui Costa. Mas não queremos este Benfica."

Sobre José Mourinho...

"O treinador é o José Mourinho e é um dos melhores do mundo. Ponto final. Se ganharmos, teremos de trabalhar com ele. Vamos dar-lhe o melhor possível. Se não quiser trabalhar com algum de nós, isso já é algo pessoal dele. Até porque não tem nada contra nenhuma de nós. Eu só o conheço muito mal e tenho uma grande admiração por ele. O Pedro Ferreira e o Tomás também o conhecem, Noronha Lopes já disse publicamente que gostaria de trabalhar com ele. Ninguém está à frente do Benfica, é preciso dizer isto com muita clareza. Ninguém está acima do Benfica. O Benfica tem 120 e tal anos e foi gerido por muitos presidentes de grande qualidade. E um grande presidente é o que toma as melhores decisões com coragem."

Mário Branco diz que não vai trabalhar com João Noronha Lopes...

"Surpreendido? Não. O Noronha Lopes tem a sua estrutura montada. Tínhamos já dito que o senhor Mário Branco não faria parte, mas que se iria avaliar depois de chegarmos ao Benfica. Fico surpreendido com o trajeto e a valorização do Mário Branco. Tem um trajeto imaculado e acho que o conseguiu desde que chegou ao Benfica. Foi diretor-geral do Famalicão, do PAOK, do Estoril, do Hajduk Split e agora do Fenerbahçe. Agora, chegou ao Benfica, chegou ao topo. Acho que devemos ter respeito pelas pessoas que acompanham esta lista de Noronha Lopes. Mas tranquilo, já tínhamos definido isso e não foi surpresa nenhuma."

"Até vou mais longe: nesta ordem de ideias, se olharmos à atitude de todos os treinadores do Benfica de quererem o seu diretor-geral, nos últimos quatro anos tínhamos cinco treinadores e cinco diretores-gerais. Quem manda na estrutura é João Noronha Lopes ou Rui Costa, se for. E até acabei por falar um bocadinho do trajeto do senhor Mário Branco e é um trajeto de quem foi subindo a pulso. Chegou ao Benfica há quatro meses num contexto de eleições. Ele saberia que cada candidato teria a sua própria equipa. Teve uma atitude muito correta. Para nós, não nos incomoda nada, muito pelo contrário".

O seu par é o Simão Sabrosa. O que o Vítor Paneira tem que o Simão não tem?

"As minhas funções estão bem especificadas. Sei que as do Simão Sabrosa são estar no banco, desconheço outra função além desta. E isso devia ter sido proporcionado pela BTV, gostaria também de ter tido um debate com Simão Sabrosa."

Há uma história que entretanto caiu no esquecimento, que diz que o Vítor Paneira está a cumprir serviço militar e acaba preso. O que aconteceu?

"Resume-se muito rapidamente e a verdade é esta. Tinha de me apresentar até à 1 da manhã de domingo para segunda-feira, que era assim que os militares se apresentavam, e eu apresentei-me às 10 da manhã. Estava a jogar no Benfica e na Seleção. Eu não podia ser um desertor porque estava a representar o meu país como futebolista. Chego às 10 da manhã, o João Rodrigues acompanha-me com o meu advogado, e o comandante do quartel no Porto diz-me que tinha de ficar uns fins-de-semana preso. Não tenho problemas de dizer. Tenho uma ficha completamente limpa em termos civis. Se houve outros clubes que contribuiram para essa prisão? É capaz. Fica no ar. Sei que houve jogadores dessa altura que jogavam no FC Porto e não foram. E estavam exatamente na mesma situação do que eu...".

Então é compatível estar a não alimentar a guerra e, em simultâneo, a fazê-la?

"Todos temos de ir aos sítios certos para discutir o problema do futebol. As pessoas vão lá, muitas vezes não são ouvidas, e depois tem de se tornar público o que as pessoas vão dizendo e acumulando. Temos a Liga, a Federação, o Conselho de Arbitragem para reclamar e falar. Se não tomam medidas, as pessoas optam por falar publicamente. O que é um erro. Tenho a certeza que quase todos os clubes primeiro fazem o que devem fazer, o problema é que não se tomam medidas, não se resolve o problema e as pessoas têm de vir para a praça pública. E depois alimentamos isto: comunicados de um lado e outro. E o da APAF vem de alguma forma incendiar muito mais isto, porque agora queremos saber quais são as outras situações. Isto cria instabilidade no futebol. Temos Champions, compromissos importantíssimos do futebol português, e estamos a viver um clima de suspeição total. Os árbitros que forem para a próxima jornada, têm medo de errar. Todos nós erramos. Deixem ser natural o erro. Mas não deixem de errar porque tem de se compensar algo que se viu na semana anterior."

Mas Rui Costa tem sido acusado de ficar em silêncio...

"Durante muito tempo, o Rui Costa teve uma atitude muito passiva. Recordo-lhe já uma facilmente: em janeiro do ano passado, o presidente do Sporting veio dar uma entrevista que condiciona claramente a arbitragem. E muda o rumo do campeonato. Aí sim, Rui Costa devia ter defendido o Benfica. Na final da Taça reagiu muito bem. Mas tinha de reagir mais cedo noutras situações. Depois de estar tudo perdido é que se reage? Os presidentes têm de falar no momento certo e na altura certa."

A lista de Noronha Lopes, de quem Vítor Paneira é um apoiante proeminente, quer apaziguar o futebol português. Mas por outro lado, aponta o dedo à atual direção de Rui Costa por não entrar nestas guerras... Isso é compatível?

"O que queremos é defender o Benfica nas horas certas. Não é preciso mandar mais nada para a fogueira. Mas se o Benfica for prejudicado, a nossa direção e presidente têm de vir defender as razões pelas quais o Benfica se sente prejudicado. Não queremos o que tem acontecido, constantemente comunicados de um lado e outro."

As coisas estão melhores ou piores do que no seu tempo?

"Não quero voltar aos anos 90. Nunca mais. No Varzim, fui expulso por ter dito que queria uma arbitragem como a dos anos 90. Posso dizer que foi contra o Canelas. O Fernando Madureira, presidente na altura, entrou pelo campo ao intervalo e ameaçou o árbitro à nossa frente. Fez o que quis do árbitro e o árbitro mudou completamente o rumo da 2.ª parte. Vivi nos anos 90 e não quero isto para o futebol. Eu sei o que sofri nessa altura, todos sabemos. E os árbitros não são inocentes. Não vamos inocentar os árbitros dos anos 90, também têm muita responsabilidade. É público aquilo que vivemos no Dragão, por exemplo, nas antigas Antas. Toda a gente vivia isso. Vivíamos um clima de terror. E não queremos isso para o futebol. Queremos um futebol onde os árbitros possam decidir e que estejam à vontade. Mas isto vem tudo muito condicionado de trás. Vou ser sincero convosco. Os árbitros, para chegarem à Europa, têm de vir condicionados de trás. Têm de ser apoiados por alguém. É no início que tem de se matar isto. E enquanto não se matar, o nosso futebol vai ser isto. Se pusermos aqui uma urna e os quatro metermos um voto lá dentro a dizer se acreditamos na arbitragem, sabe qual é o resultado? 4-0...".

Dentro do que quer trazer para o Benfica, como se moraliza a arbitragem? Falta coragem?

"Acho que falta total coragem no futebol português. Queremos vender um produto e dizemos constantemente mal dele. O presidente da Federação falou em 300 M€. Como é que vamos vender e apresentar este produto? Não vale isso, muito longe disso. Estamos todas as semanas a dizer mal de um produto que é nosso. Devemos, acima de tudo, dizer bem e potenciar. Temos os melhores treinadores do mundo, equipas na Champions constantemente, o melhor jogador do mundo... Se temos um país à beira mar plantado com estas condições futebolísticas, temos de valorizar mais o nosso produto. Mas a arbitragem é claramente o foco do mal estar que há no futebol. Foram habituados a ser constantemente criticados. A APAF hoje faz um comunicado em que deixa no ar que não é a primeira vez que isto acontece. Não há gente capaz de parar isto? Capaz de dizer chega, acabou? Há uma falta enorme de coragem para dizer a verdade."

Se Noronha Lopes for eleito, vão fazer o que estiver ao vosso alcance para irradicar este tipo de práticas?

"É assim que queremos. Um futebol transparente. Essa tem sido a nossa luta e é por aí que vamos fazer o nosso caminho, acreditado que o futebol pode melhorar. Mais transparência, um futebol diferente, e projetar o futebol do Benfica para uma dimensão completamente diferente da dos últimos tempos."

Este caso de Fábio Veríssimo fá-lo lembrar de alguma coisa que se passou do tempo em que jogava?

"Um bocadinho. Tudo parecia normalizar, com presidentes a quererem um ar fresco para o futebol, mas a bola começa a saltar e volta tudo ao mesmo. Acho que é uma situação grave. É preciso perceber o contexto do que aconteceu e depois avaliar, ver os relatórios, que podem ajudar muito a compreender. Acho que o futebol não mudou muito. Nós queremos mudar o futebol, mas na minha opinião não mudou muito".

Vítor Paneira em estúdio no Record na Hora

Vítor Paneira, candidato a diretor-técnico na lista de Noronha Lopes às eleições do Benfica, vai estar hoje em estúdio no programa 'Record na Hora', no NOW. A não perder, a partir das 18h50!