UM DOS "derbies" mais marcantes entre Sporting e Benfica aconteceu na tarde louca de 14 de Dezembro de 1986, em Alvalade, e ficou para a história pela maior goleada alguma vez infligida por um dos rivais ao outro em jogos do campeonato: 7-1!
Nem o desenvolvimento do próprio jogo deixava perceber o descalabro da equipa encarnada nos últimos 25' da 2ª parte, período no qual sofreu nada menos de cinco golos! De resto, o equilíbrio foi a nota dominante durante dois terços do jogo e em largos períodos o Benfica exerceu um certo domínio territorial, se bem que consentido pelo Sporting, que adoptou uma estratégia de contra-ataque.
Curiosamente, os leões exibiram-se a um nível superior durante a 1ª parte, mas não foram além de um golo marcado por Mário Jorge, logo aos 15'. Por paradoxal que pareça, faria mais seis golos na 2ª parte, no período em que a sua exibição não atingiu o mesmo fulgor.
A figura do jogo foi Manuel Fernandes, pelos quatro golos que assinou. Aliás, o goleador leonino jogou numa posição mais recuada do que era habitual, nas costas de Raphael Meade, a embalar de trás para a frente e a criar muitos problemas à defesa encarnada. Aliás, o treinador do Benfica, John Mortimore, terá cometido o erro de deixar o capitão leonino sem marcador directo.
Mas a fase crucial do jogo seriam os derradeiros vinte e cinco minutos. No início da 2ª parte, aos 50', Manuel Fernandes faria o 2-0, na sequência de um canto cobrado por Zinho, antecipando-se a Dito e Silvino na pequena área. Nove minutos depois, o brasileiro Wando reduziu para 2-1, após um livre de Carlos Manuel, deixando tudo em aberto. Nada fazia prever o que se seguiria. A defesa encarnada começou a "meter água" a torto e a direito e a equipa entrou em colapso, a ponto de cada lance de ataque do Sporting redundar numa sensação de golo iminente.
Quando Vítor Correia apitou para o final da partida os jogadores do Benfica experimentaram uma sensação de alívio. A mesma de um pugilista que, já tendo ido ao tapete sete vezes, vê atirarem do seu canto uma toalha branca para o ringue.
Duas das figuras do celebérrimo Sporting-Benfica dos 7-1 foram o capitão Manuel Fernandes, autor de quatro dos sete golos leoninos, e do seu marcador mais directo, o defesa benfiquista António Oliveira, feito "bode expiatório" da derrota pelo treinador de então, o inglês John Mortimore, que o afastou da equipa até final da época. Curiosamente, para além de entre eles ter nascido uma sólida amizade, trabalham hoje juntos na equipa técnica do Santa Clara.
Partilhámos com ambos, e com o técnico Manuel José, então treinador do Sporting (não nos foi possível recolher o depoimento de John Mortimore), a recordação desse jogo histórico:
MANUEL FERNANDES: "Lembro-me que jogámos melhor na 1ª parte, em que fizemos um golo e criámos oportunidades para fazer outros, do que na 2ª parte, em que marcámos seis golos. A partir do 3-1, o Benfica desnorteou-se e cada vez que íamos à baliza deles era golo ou quase golo. Eu tinha marcado dois golos, o segundo e o quinto do Sporting, Manuel José preparava-se para me substituir, quando o Fernando Mendes se aleijou e pediu para sair. Fiquei e marquei mais dois golos, o sexto e o sétimo.
Jogámos com o Meade sozinho na frente e eu mais recuado, mas tive sempre muita liberdade porque não destacaram ninguém para me marcar em cima. Naquela fase de desnorte do Benfica recordo-me de, a certa altura, me virar para os defesas e perguntar-lhes o que se estava a passar. Eles nem me respondiam, só encolhiam os ombros.
Nesse dia a minha filha Cláudia fazia 7 anos. O Gabriel ia apanhar a bola, mas eu disse-lhe: ‘Essa bola é minha!’ Ofereci-a à minha filha, que ainda hoje a guarda religiosamente."
ANTÓNIO OLIVEIRA: "Quando se perde por 7-1 nunca pode haver só um culpado. Se calhar, a vontade dele era afastar mais alguns jogadores, mas só eu é que 'paguei as favas'. Fui o culpado do ‘desastre’. Penso que o resultado foi muito enganador, na medida em que não reflectiu a verdade do jogo. Até ao 2-1 houve muito equilíbrio, e só a partir daí é que foi o descalabro. Catorze anos depois, não sei o que se passou. O que eu sei é que houve situações em que o Sporting tinha dois jogadores na área contra nove do Benfica e um desses dois fazia golo. Olhávamos uns para os outros e limitávamo-nos a encolher os ombros. Era uma sensação estranha porque a bola ia sempre ter com os jogadores deles.
Reconheço que, a partir de certa altura, perante o avolumar do resultado, nos desnorteámos e cometemos erros de marcação que se pagam caro. Até o árbitro, o Vítor Correia, estava incrédulo. Se o jogo se prolongasse mais uns minutos teríamos sofrido uma derrota mais pesada..."
MANUEL JOSÉ: "Curiosamente, comecei a pré-temporada com apenas 11 jogadores e mais dois juniores que subiam a seniores, o Rui Correia, que está no FC Porto, e o José Carlos que está no Estrela da Amadora. Partíamos fragilizados para uma época que se antevia perdida.
Foi um jogo atípico, que acontece uma vez na vida. Lembro-me de ter dito aos jogadores que não tínhamos capacidade para jogar de igual para igual com o Benfica e que olhando para as características da sua defesa, iríamos jogar em contra-ataque, num 4x5x1, sendo o rapidíssimo Meade o homem mais adiantado, apoiado por um quinto elemento do meio-campo, o Manuel Fernandes e dois médios-ala, o Litos e o Mário Jorge.
O factor determinante desse jogo foram os lances de bola parada, já que dos sete golos quatro resultaram de cantos e livres. Tínhamos o adversário bem estudado e nesse dia tudo saiu na perfeição."
JOÃO CARTAXANA
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