ERA o derradeiro "derby" de Beto Acosta e o jogo não podia começar melhor para o avançado argentino. À semelhança do que fizera Balakov uns anos antes, Acosta assinou um golo madrugador, logo aos dois minutos, que quase deitava por terra as poucas esperanças do Benfica em qualificar-se para as competições europeias. Manuel Fernandes e Toni eram os responsáveis pelas equipas e dias antes de um jogo que é sempre grande, independentemente do que está em causa, juntaram-se para uma conversa com o Record, na qual recordaram, como não podia deixar de ser, os 7 a 1 e os 6-3. Tanto um como outro sabiam que, ao contrário do acontecera nesses dois anos, agora limitavam-se a lutar por um lugar que desse acesso à Taça UEFA, com a particularidade de João Vieira Pinto estar, pela primeira vez, a defrontar os encarnados em Alvalade.

Menos de vinte minutos depois do golo de Acosta, Pedro Barbosa assinou o segundo e o Sporting teve sempre o jogo controlado, dando-se mesmo ao luxo de apontar um outro, por sinal soberbo, da autoria de Beto, que, valendo-se da sua polivalência, actuou, nessa noite, a trinco, ao lado de Paulo Bento. Sem ter de recorrer a todas as suas capacidades para anular Roger, o jovem dos leões cotou-se como o melhor jogador em campo e justificou plenamente os aplausos a poucos minutos do final da partida.

Vingança ou não face ao que sucera na época anterior – o Benfica estragou a festa do título –, a verdade é que Toni sentiu, na altura, que acabava de ficar ligado a uma das páginas mais negras da história do clube da águia – a ausência das provas da UEFA, um facto inédito. Não mais de 2500 bilhetes foram pedidos pelos adeptos encarnados, o que é bem demonstrativo do estado de espírito de todos os benfiquistas num ano negro. Não se estranhe, por isso, a declaração de Toni no final da partida. "Tínhamos de entrar melhor mas cometemos muitos erros. Assumo a derrota e a não ida à UEFA." Benfiquista dos sete costados, sofredor como poucos, Toni viveu nesse dia um dos piores da sua carreira umbilicalmente ligado às águias.

Mas, mesmo sem estar tão identificado com o clube, foi Pierre van Hooijdonk quem mais parece ter sentido a derrota, numa altura em que Manuel Vilarinho já assumira o comando do clube e quando se perfilava como muito provável a saída do ponta-de-lança holandês. "Sinto-me humilhado pela derrota", admitiu Van Hooijdonk momentos depois do jogo terminar.

Para os adeptos do Sporting, a alegria, embora comedida, justificava-se face à qualificação do clube para a Taça UEFA, enquanto do lado do Benfica um olhar cabisbaixo dos simpatizantes era incapaz de camuflar a vergonha que sentiam por terem lido a terrível sentença na casa de um vizinho com quem nunca tiveram uma boa relação. Mas, como todos, também tinham telhados de vidro e acabaram por pagar bem caro a desfeita da época anterior, quando Alvalade se vestiu de verde para, na gíria, receber o cabeçudo. Histórias de rivalidades.

Quatro jogadores do Sporting na turma dos... repetentes

Há uns anos seria pouco provável mas hoje é a realidade do Benfica, talvez por via de erros do passado, talvez por falta de uma política concreta de contratações. isto para dizer que, atendendo aos últimos dois "derbies" em Alvalade, entre Sporting e Benfica, não há um único jogador encarnado que, estando no plantel em 99/00, se mantenha no onze – Andrade e Enke poderiam ser as excepções. Em relação a 2000/01, a situação não é muito diferente – mantêm-se Miguel e Ednilson.

No Sporting, o cenário é diferente, uma vez que há ainda quatro repetentes da equipa que perdeu em Alvalade por 1-0: os resistentes são Pedro Barbosa, André Cruz (curiosamente estreou-se num Benfica-Sporting), Rui Jorge e Beto.

A segunda vez de João Pinto ainda à espera de um golo...

Depois de ter afirmado, há dois anos, que o Benfica não era assim tão mau como isso, João Pinto transferiu-se, com alguma surpresa, para Alvalade e já o ano passado estreou-se naquele estádio a defrontar a sua ex-equipa, sendo substituído por Rodrigo perto do final. Depois da grande exibição nos 6-3, continua à espera de marcar ao Benfica...

Três árbitros fora do «derby» e a certeza de Pinto da Costa

Vítor Pereira, Jorge Coroado e Martins dos Santos podiam ter apitado, em condições normais, o "derby" do ano passado, em Alvalade. Todos se lesionaram e João Ferreira foi designado. Pinto da Costa não perdoou. "Vítor Pereira anda a gerir a sua carreira internacional. Já sabia que ia dizer que estava doente."

Forte tendência de Beto para marcar ao Benfica

Beto, o central do Sporting agora transformado em lateral direito, revela especial apetência para marcar aos encarnados. No seu primeiro "derby", em 1996, marcou um golo de cabeça a Michel Preud'homme e, depois de dois autogolos, em 98/99, voltou a facturar na passada temporada – um grande golo –, jogando como médio-defensivo.