Ian Cathro e o mercado: «Como não somos os grandes, não comemos primeiro»

Treinador do Estoril reconhece que a equipa ainda não tem o equilíbrio que precisa no plantel

Ian Cathro, treinador do Estoril, durante a conferência de imprensa
Ian Cathro, treinador do Estoril, durante a conferência de imprensa • Foto: Bruno Colaço

O Estoril arranca esta segunda-feira o campeonato. Em declarações na conferência de imprensa de antevisão ao duelo com o Estrela da Amadora, agendado para as 18h45, o treinador Ian Cathro abordou as principais dificuldades que os clubes com menor capacidade financeira têm para fazer frente aos três grandes, nomeadamente, Sporting, Benfica e FC Porto.

"Nós tivemos muita coisa para fazer para continuar no nosso processo que é completamente baseado na minha ambição de tentar fazer um Estoril diferente. Talvez o primeiro passo tenha passado por manter a base do grupo, não digo da equipa, porque o futebol não tem a ver com 11 jogadores, mas sim com um grupo inteiro de 25 jogadores, mais o staff. Isso era fundamental, e acho que conseguimos. Obviamente, há outras coisas que acontecem em qualquer janela [de mercado], por vários motivos, e nós temos que continuar o processo equilibrado do nosso grupo e estamos a tentar fazer isso. Seria muito fixe que estivesse tudo feito antes do dia 1 de julho mas, como não somos os grandes, não comemos primeiro. Já disse várias vezes que gosto muito de viver na realidade e não andar na lua porque não faz muito sentido. Também não faz sentido começar a chorar por coisas que não temos antes de entrarmos em campo. Estamos aqui procurarmos soluções para eventuais problemas que possam aparecer e andar para frente. Entre duas épocas há muita coisa a mexer e temos que, com calma, tomar boas decisões para que sejamos capazes de continuar com a ideia que temos aqui", começou por dizer o técnico estorisita, em jeito de análise à pré-temporada do clube.

Durante a conferência de imprensa, o timoneiro escocês vincou ainda a importância de ter tido jogos de preparação perante adversários que colocaram "dificuldades": "Não posso ser hipócrita, não posso dizer que queremos crescer, que precisamos de dificuldades para crescer, que queremos melhorar todos os dias e ganhar o direito de ter outros objetivos e ambições, e depois jogamos, com todo o respeito, com equipas da Liga 3 e do Campeonato de Portugal. Não faz sentido e é ser hipócrita. Precisamos de dificuldade. Se queremos chegar a um ponto em que já conseguimos, um Estoril mais estável, mais preparado, o próximo passo é procurar ter outros objetivos. Mas temos que chegar lá já com algumas dificuldades e nós optámos por procurar dificuldades porque queremos crescer. É preciso ter dificuldade, sofrer e sentir a diferença. Se temos jogadores que querem ir para outros níveis, eles têm que saber então o que é estar neste nível porque, com todo o respeito, tirando cinco ou seis jogos aqui [Liga Betclic], este, também, não é o nível. Eles têm que sentir isto, mesmo jogando com uma equipa do Championship [Millwall], que tem um perfil de jogador diferente. Não é nada fácil, talvez promova outros elementos do jogo. Escolhemos este adversário para sentir as dificuldades que o mesmo ia representar. A pré-época correu de forma perfeita para sentirmos exatamente o que queríamos que era ter dificuldade, crescer em dificuldade e estar preparados para competirmos e continuarmos a melhorar".

No que concerne à receção propriamente dita ao Estrela da Amadora, que marca o arranque oficial de ambas as formações na nova temporada, o britânico espera "um jogo completamente diferente por muitas razões". 

"Jogadores diferentes e também nós agora temos zero pontos, somos iguais, as equipas começam todas com zero pontos e ninguém sabe o que vai acontecer. Essa é a parte interessante do início de uma nova época. Por isso, obviamente, todos os clubes andam a fazer joguinhos para ter a certeza que temos os vídeos de todos os jogos. Nós temos todos os jogos de pré-época do Estrela da Amadora e eles têm os nossos... segunda-feira à noite vamos entrar em campo e vamos ver", disse, continuando: "Há sempre uma diferença em preparar um jogo da primeira e segunda jornadas e talvez uma terceira do que da 10.ª ou 11.ª. Já sabemos também mais do lado psicológico, se a equipa está a ganhar ou a perder e isso também tem um impacto. Talvez seja mais complicado? Sim. Mas, como estamos numa fase parecida, a tentar condicionar todos os jogadores sem fazer várias vezes 90 minutos, o que é muito difícil de se fazer numa pré-época. Estamos numa fase de aquisição de minutos e rotinas. Não sei se é mais difícil mas é igual. Essa primeira fase vai ser sempre assim. A parte mais importante para nós é tentar manter a nossa ordem e muito rigor no nosso jogo porque nas primeiras jornadas muitas vezes os jogos ficam encaixados. Temos que manter a nossa ordem e muito rigor, com muita humildade e trabalho".

Relativamente ao esquema tático, se vai manter o 3x4x3 que deu bons frutos na edição passada da Liga Betclic, Ian Cathro salientou: "Ao longo da época não sei, podemos mudar, podemos não mudar. Essa é uma decisão que vamos tomando sempre procurando o nosso objetivo, que é melhorar. Se este passa por apresentar um sistema diferente, fazemos. Não estou casado com qualquer ideia. A minha responsabilidade, e o mais importante para mim, são os jogadores, as pessoas, o grupo, o nosso objetivo, a maneira como trabalhamos e a nossa capacidade de evoluir porque também temos que evoluir. O [nosso] jogo tem que ter outras coisas e isso passa, por vezes, por coisas básicas, temos que sofrer menos golos e tentar marcar mais vezes, temos que perder menos vezes e tentar ganhar mais vezes. Se isto passa por jogar de uma forma diferente porque faz sentido e chegamos ao ponto que o próximo passo é esse, pronto, vai ser. Mas isso é algo que vem mais à frente", vincou.

Ian Cathro foi ainda questionado sobre o facto de ser ou não determinante o Estoril ter mais um central para disputar a época: "Sabemos que neste momento ainda não temos o equilíbrio que precisamos no plantel e obviamente estamos a trabalhar nisso. Como disse antes, quando não comes primeiro tens que saber a tua realidade e trabalhar dentro dessa realidade procurando as melhores decisões. Se for preciso mais algum tempo, precisamos de mais algum tempo, se isso representa termos alguns problemas nas primeiras semanas, temos alguns problemas nas primeiras semanas... O treinador não pode chorar sobre isso e tem que arranjar soluções, tem que ajudar o grupo e temos que ir para a frente. Vamos trabalhar nisso e acredito que vamos acabar a fase de janela de transferências com o nosso plantel equilibrado para fazer o nosso jogo".

Por último, questionado sobre se o segredo para o sucesso na nova época passa por inverter o que aconteceu na temporada passada, arrancando com melhores números, o técnico de 39 anos foi categórico reforçando que o foco está só no "presente" e "no próximo jogo". "Não consigo pensar numa época completa. Temos que viver no momento e fazer tudo o que podemos para melhorar e mostrar a melhor versão todos os dias", terminou.

Por Duarte Gomes
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