João Rafael Koehler: «Somos obrigados sempre a vender os jogadores»

• Foto: Ricardo Jr.

João Rafael Koehler integra a lista de Pinto da Costa à presidência do FC Porto e, esta sexta-feira, acompanhou o presidente à Casa do clube em Famalicão. Na resposta a um adepto que quis saber onde o clube tinha dinheiro para investir, o gestor fez um raio-x às finanças e revelou alguns dos projetos para gerar mais riqueza.

Custos do futebol: "Indo de uma forma muito direta à sua questão, as modalidades têm um impacto no orçamento do clube, que é inferior a 10 % do que o clube gasta. Para ter uma ideia sobre as contas do clube, nós gastamos com equipa de futebol profissional, e eu entendo que os sócios gostam muito e os adeptos de ir ao estádio e ver a equipa a ganhar, mas tem custos muito altos."

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Benfica na mira: "O FC Porto não é a equipa com o orçamento mais alto em Portugal, há uma equipa que tem um orçamento mais alto e nos últimos quatro anos ganhou metade dos títulos. Nós gastamos só com a equipa principal 165 milhões de euros por ano. Isto inclui os ordenados, as amortizações de passes dos jogadores que estamos a comprar, mais encargos financeiros com dívida e depois deslocações, pagamentos de infraestruturas, etc. Este é o tipo de investimento que nós fazemos."

Obrigatoriedade de vender: "O FC Porto tem, entre receitas correntes e as despesas que são típicas, nós temos há muitos anos, e eu diria desde sempre, tal como o Benfica, tal como o Sporting, também como o Real Madrid e como o Barcelona, um défice de cerca de 10 % entre aquilo que nós tipicamente gastamos, entre os nossos resultados que são operacionais, e aquilo que nós recebemos. E o que nós fazemos, o FC Porto faz, que é uma prática em toda a Europa, nós somos obrigados sempre a vender os jogadores. E portanto, são receitas, as chamadas receitas extraordinárias."

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Dívida que não preocupa: "Nós entendemos que hoje este é um tópico que é muito importante e nós temos uma ideia como endereçar o assunto. A maior parte da dívida do FC Porto não nos preocupa. O FC Porto não tem um problema financeiro, o FC Porto tem um problema de tesouraria, que é uma coisa diferente. Ou seja, nós temos e somos capazes de gerar receitas suficientes para pagar as nossas dívidas e para continuar a investir. Isso não é um problema."

Passivo financeiro: Nós temos cerca de 200, eu vou corrigir os seus números, mas para ser muito claro, porque fala-se muito em números, nós temos cerca de 285 milhões de passivo financeiro. Desses 285 milhões, 180 são colateralizados, ou seja, a quem nós temos que pagar, ele sabem que vão receber porque são garantidos por terceiras partes. Por exemplo, os contratos de televisão ou contratos de sponsorship com adiantamento de receitas. Isso tem milhões. Tem a ver com obrigações que são subscritas por todos os sócios e aliás com muito sucesso. Portanto, é uma coisa que nós vamos manter e vamos renovar."

Dívida vinculativa: "Nós temos um problema, no FC Porto temos 200 milhões de dívida, que é uma dívida muito vinculativa. O que é que isso significa? É uma dívida que nós temos que pagar. E não nos podemos atrasar. É aquilo que nós temos que pagar outros clubes, é aquilo que temos que pagar agentes, porque o FC Porto não se financia na banca. Nem o FC Porto, nem o Benfica, nem o Sporting. E já agora nem o Real Madrid, nem o Atlético de Madrid. Porque desde que a Troika entrou em Portugal, os bancos não podem emprestar dinheiro aos clubes. Se pudessem, eles emprestavam, mas ficaram proibidos. Portanto, nós temos esta dívida que é muito vinculativa e o FC Porto tem pago sempre esta dívida."

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Pedidos do presidente: "O que é que aconteceu nestes últimos anos? Nos últimos anos nós deixámos o regime do Fair Play financeiro, porque as contas estão em ordem. O nosso passivo e os nossos ativos estão sensivelmente um bocadinho melhores do que há quatro anos. É curioso que há quatro anos não houve grande barulho pelas contas e as contas hoje são melhores. E o que nós vamos fazer, o sr. presidente me pediu e me deu instruções nesse sentido, foi para fazer duas coisas: que o nosso serviço de dívida, nós gastamos 25 milhões de euros em juros por ano, para baixarmos para 10 milhões. E estamos a negociar com vários fundos que têm muito interesse no FC Porto, para baixarmos a taxa de juros que nós pagamos. E isso nós sabemos que vamos fazer. E em segundo lugar, nós queremos aumentar as receitas. O nosso objetivo é, em três anos, dobrar as receitas do clube. O que é que isso significa? Aumentar 25 % cada ano. Portanto, com o efeito do aumento de capital, chegamos ao dobro ao final de três anos. E como é que nós vamos fazer isso? Nós temos um plano, primeiro, para aumentar receitas televisivas. Nós queremos aumentar e vamos aumentar sponsorship."

Bilhética: "Os nossos patrocinadores vão pagar mais. Nós vamos aumentar as receitas de bilheteira, que, já agora, ao contrário do que muitos dizem, a nossa receita de bilheteira está muito em linha com a receita de bilheteira de outros clubes portugueses. Falavam em 15 milhões, 20 milhões. A nossa receita de bilheteiras, incluindo camarotes, é 30 milhões de euros por ano. Portanto, dizem -se muitos disparates hoje em dia. Nós entendemos que são tempos de eleições, mas a verdade é que são 30 milhões. E vamos aumentar também..."

Objetivo de 300 mil sócios ativos: "Mas, para além disso, nós temos como objetivo tornar os sócios, os adeptos do FC Porto, o centro do clube. E nós queremos transformar cada sócio também numa fonte de receita para nós, mas também para os sócios. Um dos nossos pontos mais interessantes, eu acho, do nosso programa, nós queremos criar um banco digital a partir da base de adeptos e de sócios que temos no FC Porto. O que nós estimamos é que daqui a três anos vamos ter 300 mil sócios ativos. E com 300 mil sócios ativos é uma base muito interessante para termos cartões de sócio, que também são cartões bancários, e vamos ganhar dinheiro com os sócios. Eles também vão ganhar dinheiro ao longo do seu dia, da sua vida. Ao fazerem pagamentos, ao pagarem hotéis, ao pagarem gasolina, ao pagarem mercearia. Nós queremos criar um ecossistema que valorize não só os adeptos, mas também valorize o clube. Portanto, nós temos esse plano."

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Internacionalização da marca: "O FC Porto hoje é tão seguido em Angola e em Moçambique como em Portugal. À segunda-feira em Angola só se fala em futebol português, não se fala em futebol angolano. Angola tem 40 milhões de habitantes e nós queremos ter um pé na África lusófona, queremos ter um pé no mercado da saudade, queremos criar academias em todos esses países, queremos aceder à publicidade inversa, mas também queremos fazer uma coisa muito importante, que é aceder também a esses campeonatos. Portanto, queremos tornar o clube maior, ser uma marca mais respeitada, mas ser também uma marca que tenha mais valor."

Sócio como o centro do clube: "Uma das coisas mais importantes para esta candidatura é tornar o sócio, que já era, mas torná-lo ainda mais o centro do clube. Uma das medidas que nós achamos mais importante é a experiência do adepto e do sócio dentro do estádio. Seguindo a premissa que os lugares mais caros do estádio são os que estão vazios, queremos ter uma experiência de estádio sempre cheio. Isso também tem a ver, não tanto com jovens, mas com as casas do FC Porto, que vão ter um papel muito importante para o estádio estar sempre cheio. Queremos que a experiência no estádio seja sempre espetacular e isso só acontece se a lotação do estádio estiver a cima dos 95 por cento. Não é uma coisa fácil, mas é algo que queremos fazer, com medidas mais atrativas para os mais jovens."

Cartão 'loyalty': "Queremos cada vez mais sócios e se queremos chegar rapidamente durante o mandato a 300 mil sócios, teremos de ter uma política digital muito ativa e atrativa para os sócios entraram. A ideia que já foi lançada por clubes como o Man City e que o FC Porto vai lançar é lançar um cartão 'loyalty', ou seja, o cartão de sócio vai ser também um cartão que vai dar a cada uma das pessoas que entram no clube. Queremos que quem seja sócio, não o seja só para ver, mas que também perceba que tem vantagens não só emocionais, mas também económicas. Queremos aumentar a nossa comunidade. Há experiências bastante interessantes, não só na Europa, como por exemplo no Flamengo, que estava completamente depauperado e falido e agora tem sistematicamente resultados positivos, no sentido de aumentarmos cada vez mais a comunidade. São coisas que estão mapeadas e que vamos elencando ao longo da campanha, embora o processo não esteja todo fechado. A ideia é muito rapidamente avançarmos para isso, porque queremos mesmo aumentar as receitas, porque mesmo clubes que estão em dificuldades financeiras estão permanentemente a investir. É essa a mensagem que o presidente Pinto da Costa quer passar.

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Por José Miguel Machado
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