SEM honra, sem orgulho, sem personalidade. Os jogadores do FC Porto voltaram a dar uma imagem lamentável num jogo que tinha de ser encarado como uma grande final. Os dragões entraram mal, encolheram-se perante o futebol físico e directo dos checos e nunca conseguiram fazer o que José Mourinho tanto tinha proclamado no dia anterior, ou seja, garantir a posse de bola. A segunda parte foi medonha.
Quem tivesse visto o treino do dia anterior rapidamente percebia que as ideias do técnico não estavam a ser bem interpretadas pelos jogadores. Ao invés de a bola chegar rapidamente aos extremos para estes romperem em velocidade, repetiam-se os safanões para o ar que não pregaram mais do que um par de sustos a uma defesa checa permeável.
Tivesse o Real Madrid marcado mais um golo em Atenas e a humilhação teria sido sem precedentes. Se dúvidas houvesse sobre a necessidade de uma vassourada no plantel azul e branco, as mesmas dissiparam-se por completo nesta última jornada da Liga dos Campeões. Quando se esperava uma atitude de dignidade, entrega e luta até ao último minuto, surgiu o conformismo. A falta de ideias foi gritante e a partir desta noite a palavra crise vai estar mais presente do que nunca no vocabulário portista. Hoje vai haver treino à porta aberta, mas se calhar nem esse tipo de choque que José Mourinho está a tentar provocar em hábitos antigos produz a os efeitos pretendidos.
Só a perder por dois a zero é que o FC Porto procurou arriscar, quando já era tarde para salvar a honra do convento. Quem não soubesse de nada, ao assistir ao jogo pensaria que o Sparta estaria a lutar pela presença nos quartos-de-final e que os rapazes de azul e branco já tinham o destino traçado. A diferença em relação ao jogo que os portistas fizeram em Praga em 1999 foi gritante. Na altura, apesar de ser a primeira jornada, os dragões transcenderam-se e assumiram as rédeas da partida desde o primeiro momento. Falhando oportunidades mas mantendo a clarividência que permitiu resolver a questão na recta final.
Desta vez foi perceptível que as intenções de José Mourinho estavam a ser frustradas. A equipa parecia partida, desconjuntada até. O técnico pretendia um bloco capaz de recuperar a bola, jogá-la para a velocidade dos alas e com capacidade para finalizar. Viu-se foi pontapé para a frente, hesitações e recuos constantes de Capucho e Clayton, que ao receberem de costas para os defesas eram facilmente desarmados. Muita gente a esconder-se, pouca coragem para assumir responsabilidades.
Nem quando o Sparta dava barraca lá atrás o FC Porto conseguia o tal golo que pudesse dar alguma tranquilidade. Postiga esforçou-se, mas foi inconsequente. Deco apareceu isolado diante de Cech, mas falhou.
Mourinho mandou Pena aquecer, mas a entrada do brasileiro para o lugar de Postiga não aqueceu e se calhar até arrefeceu. Só a manutenção dos dois avançados em campo poderia ter realmente mudado alguma coisa. Assim, só durou escassos momentos a sensação de que o puxão de orelhas ao intervalo tinha causado algum efeito. A tentativa de avançar no terreno redundou na abertura de espaços na retaguarda. Era o que Sionko precisava para fazer das suas, trocando as voltas a Jorge Andrade para destroçar o que restava da compostura portista. O mesmo checo que tinha aberto a crise nas Antas com a ajuda de Paulo Santos sentenciava as derradeiras esperanças quase em simultâneo com o segundo tendo do Panathinaikos. O golo de livre directo de Hartig só confirmou o descalabro.
Os jogadores do FC Porto abandonaram o terreno de jogo cabisbaixos. Os adeptos portistas aplaudiram os jogadores do Sparta Praga quando estes deram uma volta de honra ao relvado. Os checos foram os verdugos dos dragões na Liga Milionária, roubando seis pontos aos dragões e deixando-os no último lugar do grupo.
O alemão Wolfgang Stark passou despercebido e julgou quase tudo bem.
Um pálido recorde de jogos na Europa
O FC Porto encerrou a sua participação na Liga dos Campeões 2001/2002 estabelecendo um novo máximo de 16 jogos europeus na mesma época. Longe vão os tempos em que bastavam nove encontros para atingir o título europeu e os dragões desgastaram-se naquilo que seria quase meia época para uma equipa do meio da tabela do campeonato português e nem conseguiram atingir os quartos-de-final.
A bravura com que os portistas garantiram na Suíça a entrada na fase de grupos da Liga milionária, superando o Grasshopper, foi um desfile de predicados raramente repetido ao longo da época. Mesmo assim, bons jogos contra Juventus, Celtic e Rosenborg bastaram para o importante objectivo desportivo e financeiro da passagem à segunda fase de grupos.
Ao empate em Atenas seguiram-se três derrotas consecutivas. O triunfo sobre o Panathinaikos alimentou esperanças mas tudo terminou em Praga. Depois dos 14 jogos em 99/2000, o FC Porto estabelece um recorde pálido.