Futuro treinador do FC Porto confessa-se fã de Bielsa e fala da exigência de treinar um grande clube numa entrevista de 2023
Martín Anselmi, futuro treinador do FC Porto, está prestes a deixar o Cruz Azul para rumar ao Dragão, mas, ao longo do seu trajeto, especialmente no Independiente del Valle, foi despertando o interesse da imprensa do seu país, a Argentina, com destaque nos tempos em que orientou a equipa equatoriana, pela qual venceu quatro troféus, incluindo a Taça Sul-Americana.
Em entrevista ao jornal Olé, da Argentina, me 2023, o técnico detalhou a sua forma de olhar para o futebol como um fenómero transversal. Em baixo transcrevemos alguns excertos dessa conversa, na qual Anselmi, onde outros temas, fala sobre a sua admiração por Marcelo Bielsa, a forma como prepara os jogos e a receita para ter sucesso em contextos de alta exigência.
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Sonho de treinar
"Nunca sonhei ser futebolista, não tinha condições para isso. Joguei, claro… Mas o sonho sempre foi treinar, conduzir uma equipa. Sempre fui assim, um pouco líder, na escola primária, na secundária. Acabava por me impor, mas nesta profissão não há uma questão de imposição, há uma proposta e um trabalho para convencer quem está connosco. Com 15 anos disse ao meu pai que ia ser treinador. Ele disse-me que era impossível, porque não era jogador, mas disse-lhe: ‘Vou ser treinador de futebol’".
O curso de treinador
"Apanhava o autocarro para fazer o curso de treinador, era 1h20 de viagem, três vezes de semana. Eu não gostava da viagem, disse a um amigo que não dava mais, estava farto… Então ele desafiou-me a comprar uma mota. Eu sempre tive algum receio, mas até que me convenceu. Era uma scooter que tinha travões de bicicleta. Era má, mas em vez de demorar 1h20, passei a demorar 35 minutos, cumpria a função. Mas um dia cheguei a cair de mota e percebi que tinha de mudar. Acabei por vender a moto, o que me ajudou a costear a minha estadia em Espanha."
Contacto com Marcelo Bielsa
"Não o conheci, vi-o, encontrei. Tive a oportunidade de ver um treino dele, que na altura ele treinava de portas abertas no Ath. Bilbau. Vimos o treino e, depois, como jogou a final da Copa do Rei, em Madrid, a equipa foi para lá e nós também fomos. No dia anterior, no reconhecimento ao Vicente Calderón, esperei-o à porta do hotel e aí deu-me um autógrafo numa camisola."
Influências
"O que aconteceu comigo é como os livros: os livros põem nomes às coisas que tens na cabeça. Quando treinei a minha primeira equipa, que foi a equipa dos meus amigos, não me senti influenciado por outros treinadores, eu só queria dizer ‘passem a bola de certa forma’. Mas não tinha ideia de conceitos ou nomes. Depois naturalmente quando vais tendo conhecimento e pões nomes às coisas, aí há treinadores que te marcam o caminho. O Marcelo Bielsa marcou-me e eu defendo-o, somos assim, os ‘Bielsistas’, defendemos Marcelo. Sou adepto do Newell's Old Boys e para nós Bielsa é tudo. Entendi o que é futebol através das equipas de Bielsa e do Newell’s campeão. Tinha quatro anos e sabia a equipa de memória. Foi a primeira coisa que consegui memorizar. Eu gosto de atacar e acho que aí Bielsa me influenciou implicitamente. Depois tens outros treinadores que te inspiram noutras coisas e vários me marcaram ao longo da minha carreira, que é curta."
Sucesso
"Eu não sei o que é o êxito. Para a sociedade e para o mundo, ganhar é êxito. E eu não quero ser um romântico, mas… Há que ganhar para perceber que o mais lindo é tudo o que viveste para ganhar."
Ser treinador sem ter sido jogador
"Jogar futebol para treinar é uma ideia que prescreveu… É incoerente. Quem dirige uma equipa de Fórmula 1 não sei se alguma vez conduziu um carro a 300 kms por hora. Estão nas boxes, atrás dos comandos, a dar indicações a um piloto que ganhou o campeonato do mundo 7 vezes. Ser treinador, para mim, implica ter uma ideia, um modelo de jogo, uma metodologia de treino que respeite isso e, depois, crer no que se faz para o propor diante de um grupo e que ele seja capaz de o levar a cabo, com os matizes que podem aparecer pelo caminho. E, por fim, que essa planificação triunfe. Portanto, ter boas ideias, ter capacidade de convencer e ter a flexibilidade de entender que, se por algum momento não for por ali, pode ser um pouco mais ao lado. Quando faço um plano de jogo, penso nos intérpretes, em como eles vão sentir-se, no que lhes vou a pedir. Quando penso na equipa penso no lugar de cada um, ponho-me no lugar deles. Porque amanhã posso pedir a um extremo que jogue a lateral e, mesmo que a ideia possa ser má, tenho de saber como o convencer. Não sei se ter jogado ao futebol me ajudaria, talvez sim, mas podemos chegar a uma solução."
O que sente durante uma partida
"Depende da partida, mas tudo. Tento que as emoções não me afetem, o que é difícil, pois no final somos seres vivos, sentimos. Alegria, medo, ira, adrenalina, satisfação… Mas a fase que mais ansiedade me dá é a preparação, é ter a ideia, a estratégia, tudo treinado, se saiu ou não saiu."
Exigência num grande clube
"Nós etiquetamos tudo. Podes dizer que o meu estilo de jogo é complexo e complexidade é igual a muita necessidade de compreensão e isso é igual a tempo e nessas equipas não há tempo… Creio que parte disso então é ganhar tempo, é natural que algo novo requeira tempo. Para que esteja bem, é preciso tempo para o construir, não estou a falar de mim nem das minhas ideias, estou a falar de tudo na vida. É como um edifício, com passar do tempo vais vendo um novo piso, depois noutra semana outro e depois outro. Se passar um mês e não vês nenhum piso novo, aí então algo está mal. Agora, quando tens um clube alinhado, como tenho [tinha] no Independiente del Valle, a progressão é mais rápida."
Pressão dos resultados
"Algo chave é minimizar os erros. É dizer: ‘o que vamos construir juntos?’, ‘o que queremos fazer?’… São um monte de situações que se põem em cima da mesa. No futebol argentino o ruído é muito alto e o adepto é muito impaciente, além de que temos presidentes que têm eleições. E precisam de ganhar. No entanto, o custo político dos resultados pagam-no todos: presidente, treinador e jogadores."
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