Em 1984, o FC Porto começou o mês de Maio vencendo a Taça de Portugal precisamente no dia 1 desse mês: 4-1 ao Rio Ave, que era treinado por um senhor chamado José Mourinho Félix, o pai do actual treinador portista. Então ainda se falava pouco ou nada de dragões - os prémios do clube com esse nome só foram criados nesse ano em parte pelo empurrão dado pelo falecido Armando Pimentel, então vice-presidente do clube.
Basileia, a 16 de Maio, foi o primeiro grande exame europeu: a final da Taça das Taças com a Juventus. A vitória foi para os italianos por 2-1 (Vignola, António Sousa e Boniek) num jogo que acabou mal: o árbitro, o alemão-oriental Adolf Prokop, validara um golo em que podia ter marcado falta de Boniek e dois lances na área italiana deixaram muitas dúvidas. O guarda-redes Zé Beto foi depois suspenso por um ano das competições europeias por ter mesmo agredido um dos assistentes.
A Juventus era a selecção italiana, que vencera o Mundial 82, em Espanha, mais Platini e Boniek - só eram admitidos dois estrangeiros por equipa, em Itália. O FC Porto começou com onze portugueses e só depois entrou o irlandês Mick Walsh (só havia duas substituições). A equipa tinha um grande "handicap": o treinador José Maria Pedroto adoecera gravemente e foi já o seu adjunto, António Morais, que foi para o banco.
Em 1987, o FC Porto tinha juntado uma enorme quantidade de estrelas no seu plantel. De tal modo que, a 27 de Maio, em Viena, sem Jaime Pacheco, Eurico, Lima Pereira e Fernando Gomes, todos lesionados, e com o internacional brasileiro Casagrande no banco porque saíra recentemente de uma lesão, o FC Porto apresentou uma equipa recheada de internacionais. Futre e Madjer eram os grandes nomes, mas depois havia o capitão João Pinto, Augusto Inácio, António Sousa, Frasco, o guarda-redes Mlynarczyk ou o defesa-central Celso. E também Juary, um pequeno brasileiro rapidíssimo e que foi decisivo na segunda parte.
Em Viena, o FC Porto jogou com o seu equipamento tradicional (em Basileia não o tinha feito, jogara todo de azul por imposição da UEFA). Naquele tempo os clubes não inventavam equipamentos novos todos os anos e comprar camisolas era coisa que os adeptos não faziam e o "merchandising" era uma actividade desconhecida nos clubes.
A grande façanha foi, nessa época, eliminar o Dinamo de Kiev. Octávio passou uma semana na Ucrânia (então parte da URSS) a estudar a fantástica equipa que era a base da selecção soviética. Ganhou 2-1 nas Antas e em Kiev.
Viena foi outra coisa. Os alemães dominavam completamente o estádio porque poucos milhares de portistas puderam fazer a viagem. Os bávaros tinham Mathaeus, Brehme, Michael Rummenigge, Augenthaler, Dieter Hoeness, mas o FC Porto tinha melhores jogadores e virou o jogo. "O Porto afundou o Bayern", era o título da primeira página do "L"Équipe" no dia seguinte e o calcanhar de Madjer ficou para a história.
Uma tradição de jogar bem
O FC Porto não ganhou todas as suas grandes finais, mas é um facto que deixou sempre uma marca de belo jogo. A começar por 1984 - ainda há dias ao "JN" Boniek dizia que "o FC Porto era a melhor equipa do mundo sem golos". O que, sendo uma crítica, deixa também esse sabor.
Fernando Gomes, que esteve em Basileia mas falhou Viena por se ter lesionado pouco antes, afirma que "ainda hoje, quando falo sobre esse jogo ou sobre a final da Taça dos Campeões com amigos meus por essa Europa fora, eles se recordam da marca do jogo do FC Porto". Era o jogo à Pedroto no seu melhor e, em 1987, potenciado com Futre, Madjer e outros e também outros graus de profissionalismo.
A final do Prater marcou, em 1987, uma viragem em relação aos maus jogos que nos anos anteriores se viram em finais da então chamada Taça dos Campeões Europeus. E mesmo nos dois jogos da Supertaça Europeia (vitórias sobre o Ajax por 1-0, em Amesterdão e nas Antas) ou no impossível tapete de neve de Tóquio, frente ao Peñarol, na Taça Intercontinental (vitória portista por 2-1 com um memorável chapéu de Madjer) o FC Porto deixou um inegável perfume futebolístico. Nessa aspecto, a equipa que Mourinho leva a Sevilha não fica nada a dever a qualquer das outras, embora não tenha as mesmas figuras de 1987.
Antes de Viena falou-se muito da arrogância alemã. No dia do jogo, o "Bild" tinha uma análise das duas equipas pela pena da antiga estrela Paul Breitner em que o título era: "O Porto tem melhor ataque, mas o Bayern vai ganhar". Breitner dizia que tinha visto quatro cassetes que lhe tinham sido emprestadas por Udo Lattek, o treinador do Bayern, e falava da qualidade de Futre e Madjer e das dificuldades que a defesa alemã iria ter.
«Quanto dão? Quanto dão?»
Quando chegou à Suíça para a final com a Juventus, o FC Porto era um clube sem experiência destas coisas e tomou poucas precauções. Por exemplo, nas horas que antecederam a partida os jogadores discutiam ainda contratos com marcas desportivas.
"Tínhamos pouca experiência, recorda Inácio, que ficou no banco porque tinha sido operado ao menisco. O que se ouvia era: quanto dão? Quanto dão? Era a Adidas, a Puma, a Tiger a quererem fazer contratos. Não sei se houve algum que tenha jogado com uma bota de cada marca, ou com o par de uma marca na primeira parte e de outra na segunda. Acho que houve... Eu? Eu dinheiro não tive mas ainda consegui algum material...".
Em 1987, uma das preocupações dos dirigentes foi isolar os jogadores, que ficaram fechados no Hotel City-Club, longe do centro de Viena. Artur Jorge, ao contrário de outros treinadores, como Eriksson, por exemplo, achava que os jogadores deviam ficar quase em clausura e pensarem unicamente no jogo.
O prémio por vitória seria de 600 contos (3000 euros), enquanto três anos depois Pinto da Costa terá presenteado os seus rapazes com 1500 contos cada (7500 euros). O deste ano deve andar, para os que jogaram mais ao longo da Taça UEFA, umas dez vezes maior em caso de vitória.
A festa de Basileia
O Estádio de Sankt Jacob de Basileia viveu uma noite de festa. Os italianos eram muito mais numerosos - a Itália é ali ao lado - mas mesmo assim havia uns milhares de portugueses. Fernando Gomes, que no ano seguinte seria Bota de Ouro, lembra a "festa, o bom jogo que fizemos e a sensação de que podíamos ter ganho".
Presidente no chão
Um dos homens que ajudou a dar o salto entre 1984 e 1987 foi Luciano d"Onofrio. Nascido em Itália mas com raízes na Bélgica onde viveu quase sempre, foi futebolista - chegou a jogar no Portimonense - e tornou-se depois empresário. No Verão de 1984 trouxe o brasileiro Juary para as Antas e foi ele que adiantou os 20 mil dólares que custava o avançado que viria a marcar o golo da vitória em 1987. Luciano lembra uma história de Viena: "Já à entrada do balneário, depois de toda a festa, o presidente caiu. Não sei o que aconteceu, mas era toda aquela emoção. Chamámos o médico e ele recuperou logo. Sofreu-se um ano inteiro e depois o prazer é pensar em todo aquilo que sofremos."
Três mosqueteiros
Para além de jogadores e dirigentes bem conhecidos, há outros elementos do FC Porto que cobrem todo este período de grandeza do clube, que estiveram também em Basileia e Viena e vão estar em Sevilha. Luís César é o homem do gabinete. Foi jornalista, na rádio e nos jornais, é o homem do gabinete que controla tudo o que tem a ver com estatísticas, deslocações, quadros sobre utilização de jogadores e por aí fora. José Luís é um dos massagistas e também um dos elementos que há mais tempo está nas Antas. O mesmo se passa com Fernando "Moreno", o técnico de equipamentos. Foi jogador de básquete das camadas jovens do FC Porto e aos 48 anos está há três décadas no clube, dos quais 24 directamente ligado ao futebol sénior.
Uma outra UEFA
Em 1984 e 1987, o secretário-geral da UEFA era ainda Hans Bangerter. Dois anos depois da final de Viena o seu lugar foi ocupado por Gerhard Aigner, que ainda se mantém mas agora como director-executivo. Aigner vai sair em breve, mas a organização da UEFA é hoje completamente diferente. A confederação europeia foi sempre rica, mas agora é de longe a mais rica do mundo com a Liga dos Campeões. Diz-se que Aigner alargou a fase final de oito para 16 selecções porque era a única forma de renegociar o contrato de TV.
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