LAURETA sabe do que fala mas não conta tudo aquilo que viveu ao longo da carreira. São histórias proibidas para mais tarde "segredar aos netos". Ex-jogador do FC Porto e do Gil Vicente, produzido na "cantera" do V. Guimarães e com uma passagem de quatro épocas pelo Sp. Braga, Laureta foi profissional durante 17 anos e essa vivência, até por força do envolvimento num caso de tentativa de suborno, concebeu-lhe um curso superior nos meandros do futebol. Não estranha que, mesmo sabendo que os dragões não dependem apenas da vitória em Barcelos, garante que o FC Porto será mesmo campeão. "Se o título dependesse do jogo de Barcelos já estava entregue.

Conheço por dentro as Antas. Os dirigentes são os mesmos e sei que tudo será tratado ao mais ínfimo pormenor", alerta.

Com 39 anos, aquele que é agora colaborador de Paulo Futre em Portugal, armazena um rol infindável de histórias hilariantes e duas das quais têm o selo das suas passagens pelo FC Porto e Gil Vicente. Curiosamente, na última vez em que o campeão nacional foi encontrado na última jornada do campeonato, Laureta era jogador do FC Porto. Foi exactamente em 85/86 e os dragões precisavam de vencer em casa o Sp. Covilhã, entretanto despromovido à II divisão. "O dia foi terrível. Estivemos a perder por duas vezes mas lá conseguimos ganhar, embora até não fosse preciso porque o Benfica perdeu o jogo com o Boavista. Mas nas Antas o ambiente era tão tenso... o Artur Jorge tinha um grave problema com o Vieira Nunes que treinava o Sp. Covilhã e por orgulho pessoal nenhum deles queria perder", recorda.

De 91/92 lembra-se do jogo "mais longo da carreira" na penúltima jornada. O Gil Vicente, orientado por António Oliveira, recebia o FC Porto e só a vitória interessava para evitar a descida. Mas um triunfo dos dragões ajudava o Salgueiros na mesma luta. Os gilistas venceram com um golo de Morato, mas na época contaram-se episódios pitorescos sobre os movimentos que contornaram o jogo.

Laureta sorriu com a recordação proposta por Record e contou alguns pormenores. "O golo do Morato não foi nenhum frango do Vítor Baía, apesar de a bola ter passado por debaixo das pernas. O problema é que a equipa do FC Porto estava dividida e já se sabia que o Octávio Machado estava de saída do clube. Além isso tinha grandes problemas com o António Oliveira. E foi por causa dessas relações que algumas pessoas tentaram influenciar o jogo até porque estava em discussão a descida de uma equipa da AF Porto. O Octávio lançou a confusão na chegada ao estádio com supostas agressões. O FC Porto não facilitou e só os deuses nos salvaram."

Embora não negue que as relações entre os dois clubes desde há muito tempo que são pautadas por fortes laços de amizade, Laureta não tem dúvidas que vai imperar a verdade desportiva e que o campeão será encontrado dentro das quatro linhas. "O FC Porto será campeão nacional sem fretes e o passado em nada vai influenciar este jogo. Conheço o adversário e sei que o Gil Vicente não vai facilitar em nada porque no futebol a última imagem é a que fica. Os jogadores querem dar o salto e farão a vida cara ao adversário."

CHAVE DO SUCESSO NÃO FAVORECE O SPORTING

Laureta é da opinião que o Sporting dá-se melhor com os jogos extramuros, mas defende que a discussão do título passa em primeiro lugar pela atitude dos jogadores do Salgueiros. "A pressão é o aspecto que vai desequilibrar a balança. O Salgueiros precisa de um resultado positivo e o Sporting, mesmo sendo favorito, vai ter de controlar a grande emoção dos jogadores adversários. Depois há ainda o problema do terreno de jogo que beneficia claramente a equipa da casa", sustenta. O antigo jogador está a torcer pelo FC Porto e diz que o Sporting não aproveitou contra o Benfica a sua última grande oportunidade. "O problema residiu essencialmente nos jogos em casa por via da pressão que se instalou na equipa. Mas convém esclarecer que o Sporting poderia sagrar-se campeão contra o Benfica se fosse mais arrojado. A equipa teve medo e não se portou à altura daquilo que se exigia", acusa. Apesar de tudo, Inácio merece um elogio: "Lutar até ao fim é um feito do qual se pode orgulhar bastante."

CRÍTICA AOS ÚLTIMOS REFORÇOS DO FC PORTO

O FC Porto continua a recomendar-se mas não está tão bem como Laureta desejaria. Expressa por alguém que conhece a "máquina", a análise pode considerar-se avalizada. "É preciso injectar sangue novo. Não é necessário uma revolução ou uma limpeza de balneário, mas acho que nesta fase será importante uma operação à espinha dorsal. O clube sabe como deve proceder nestes casos, porque há jogadores com mística e que são intocáveis", observa. O problema, segundo o ex-dragão, está exactamente na mentalidade de alguns dos últimos reforços. "O FC Porto é um autêntico TGV e nos últimas épocas nota-se que alguns jogadores não têm conseguido acompanhar a sua velocidade. Mais recentemente veja-se os casos do Argel, Alessandro, Rubens Júnior e o Caju", acusa. Mas a culpa não é só dos atletas. É que os responsáveis não estão isentos. "O Sporting adiantou-se em Dezembro quando se reforçou com três atletas de qualidade e o FC Porto não apostou nem se preocupou com esse tipo de mais-valias."

MARCO AURÉLIO