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15 dezembro

Estrela

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Loucura em hora de ponta

Loucura em hora de ponta
Loucura em hora de ponta • Foto: Paulo César

José Mourinho não esteve na festa. Não fez falta, mas os adeptos registaram a sua ausência. Outros foliões de uma época memorável saudaram a multidão que os acompanhou toda a noite e princípio da manhã. Os heróis aterraram às 6.06 horas no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, mas o treinador rumou de imediato a Lisboa, aproveitando uma ligação aérea. Sem o "mister", o cortejo avançou numa atmosfera embriagante que entupiu acessos e saídas. Uma loucura, logo ao amanhecer que aliviou o "stress" das horas de ponta. Record cumpriu todo o trajecto lado a lado com os novos campeões europeus.

Costinha, à chegada às Antas, não resistiu ao descrever a recepção de "coisa linda", mas Carlos Alberto havia sido o primeiro a dar o mote para uma noite arrepiante quando deixou um agente da PSP eufórico ao oferecer-lhe um chapéu. O aeroporto estava em estado de sítio, mas Alenitchev, o primeiro jogador a sair, esquivou-se por outra porta rumo à Rússia. Os fãs nem o viram. Jorge Costa e Vítor Baía saíram juntos, sorrindo para o troféu. A maioria dos portistas enlouqueceu com o brilho, mas, realmente, nem todos. "Lembro-me da outra festa, mas parece que a outra [1987] taça não reluzia tanto como esta", detecta, em conversa com Record, alguém que dizia chamar-se António, perdido de bêbado, mas feliz pela nova conquista.

Todos a acordar

As sete horas da manhã já lá iam e os motores do trio eléctrico, imponente cavalo do asfalto que debita som de qualidade, prepara-se para arrancar rumo ao Estádio do Dragão depois de mais de seis horas de animação com a chancela da Áudio Veloso e da Companhia do Som. Ao longe, o IC 24 mostra-se engarrafado. Alguns passageiros, petrificados, olham ensonados para a alegria dos dragões. "Toca a acordar. Ninguém dorme", pede o galhofeiro Carlos Alberto. Os recentes arranjos do trajecto facilitaram o andamento, embora lento. Os "motards" pediam cerveja e os jogadores ofereciam. Deco fazia bem pior, mas sem maldade: despejava a lata no troféu e molhava os seguidores em festa.

O cortejo complicou-se ao largo de Matosinhos, nomeadamente no viaduto da denominada "rotunda dos produtos Estrelas", onde centenas de pessoas esperavam em delírio a comitiva. O trio eléctrico foi obrigado a parar para depois prosseguir a viagem. Ninguém se magoou, pois Carlos Alberto auxiliava os companheiros. "Cabeça!", gritava.

Costinha, o anti-lampião

Com as ruas engalanadas, Costinha assume-se um contestatário de que tudo aquilo que é vermelho. "Benfiquista, esta é nossa", gritou, pegando na medalha. "Trabalha mais, malandro. Isso é dor de coto", ironizou. Carlos Alberto dava "show" de animação e nas nuvens quando o "Dj" de serviço colocou a tocar a banda brasileira, Revelação. Foi um pandemónio e um quarteto de luxo (Carlos Alberto, McCarthy, Costinha e Deco) exibia dotes dançarinos dignos dos melhores palcos.

A comitiva saudou com respeito uma bandeira do Boavista no renovado Nó de Francos e entrou na VCI. UFF! Aí sim, foi o fim do Mundo. Quatro faixas de rodagem em acção e uma para assistir às celebrações. No sentido contrário, em direcção à Arrábida, o trânsito estava bloqueado. "Você é do Benfica? Não? Então abra o vidro! Não abre? Vi logo", disse Costinha. O executivo, sisudo, dirigia um Saab 9000 e nem abriu a boca. "É um dia terrível para os benfiquistas", insistiu o médio. Costinha estava em êxtase. "Esse vermelho é de lampião. É um azar do..."

Com as Antas mais perto, Jaunkauskas mostrou-se ao povo depois de uma soneca nos interiores. Por lá continuaram Vítor Baía e Jorge Costa. Serenos, entre dois dedos de conversa, depois de também eles terem "passado pelas brasas". Não assistiram, pois, a episódio curioso. O BMW que transportava a comitiva do empresário Jorge Mendes já tinha passado pelas Antas e regressava em sentido contrário ao dos campeões. O bólide estava bloqueado e alguns dos jogadores por si representados não hesitaram em arremessar lá do alto, em brincadeira, umas latas de cerveja. Uns metros à frente, Costinha pedia às alunas da Escola Preparatória de Paranhos para não faltarem às aulas e, mais à frente ainda, num jardim do Conde Ferreira, alguns dos internados batiam palmas. Deco não resiste e, depois de levar a mão ao peito, oferece a gravata a uma jovem com olhar cândido e cabelos ao vento.

Pornografia

Batiam as 8.30 horas e a intervenção da PSP desbloqueou a passagem de uma ambulância do INEM. O viaduto que se seguiu, perto do Nó das Antas, viu uma das placas de informação (Circunvalação/Areosa) sair danificada. A comitiva penetra na Avenida Fernão Magalhães e, pasme-se, eis que uma jovem, nua, saúda os campeões. Sim! Nua. Estava à janela e os campeões apreciam. "Ei lá", disse Costinha.

Já se avistava a Alameda e um mar de gente em transe, testemunhado por Pinto da Costa por volta das 7.30 horas. Ecoa a música "Filhos do Dragão". A comitiva arrepia-se, benze-se junto à Igreja das Antas e Costinha, quem mais poderia ser, deixou novo aviso. "Minhas senhoras, têm de dar as aulas de catequese. o pároco está a ver", brincou. Fitou a Alameda de alto a baixo e não resistiu a um desabafo: "Está provado que o país é azul e branco."

Olé Mourinho

E se é como Costinha sentencia, Mourinho tem uma quota-parte significativa. Não se juntou ao grupo, mas ninguém se esqueceu dele. "Olé Mourinho, olé", exclamou, chamando Baía para ver, numa varanda, um sósia de Scolari. O trio eléctrico encostou à "boxe" para as vénias. Estourou o fogo, mesmo de dia, e os jogadores recolheram ao Estádio do Dragão. Derlei, Costinha, McCarthy e Vítor Baía foram os últimos, escoltados pelo corpo de segurança privado do FC Porto. A comemoração estava a terminar e a última escolta protegeu a Taça da Liga dos Campeões. Eram 9.36 horas, quando ficou segura e a salvo de qualquer imprevisto.

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