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23 outubro

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Mourinho e Peseiro: Encontro de alunos do ISEF

Dezassete anos depois de terem sido colegas no Instituto Superior de Educação Física, na Cruz Quebrada, José Mourinho e José Peseiro defrontam-se, amanhã, pela primeira vez em jogos oficiais e cumprindo, desde longo, o sonho que alimentavam nessa altura como alunos: serem treinadores da SuperLiga.

Esse encontro entre Mourinho e Peseiro coincidiu com uma reforma curricular no ISEF. Mourinho estava no quarto ano, José Peseiro no terceiro, mas essa reforma obrigou a que durante um ano se tivesse de juntar os alunos do terceiro, quarto e quinto ano e foi assim que se foram conhecendo.

As aulas práticas de futebol eram às segundas, quartas e sextas-feiras num campo pelado e tinham início bem cedo às oito horas da manhã. Enquanto José Mourinho chegava de carro ao ISEF, vindo de Setúbal, José Peseiro, nascido em Coruche, tinha no eléctrico da carreira 15 o seu meio de transporte, já que vivia num quarto alugado em Algés.

Nesse tempo, o ISEF tinha uma cultura diferente da de hoje com o ensino mais virado para a competição e no ano de 1984/1985, a Faculdade tinha uma equipa inscrita nos Campeonatos Distritais da II Divisão, mais conhecida como a UTL 81, da qual só José Mourinho fez parte porque José Peseiro jogava no Oriental (III Divisão) e por força dos regulamentos estava impedido de participar. "Era uma vida bem cheia de actvidade nessa altura. Os treinos no Oriental eram à noite, chegava a casa às 23.00 h e horas depois tinha de ir para o ISEF. Tudo isto utilizando transportes públicos."

Mourinho e Peseiro nunca chegaram a fazer parte do mesmo grupo de trabalho na Faculdade, mas, apesar de só hoje irem medir forças, avaliando os seus progressos de cultura estudantil, a verdade é que, segundo nos disse Peseiro, "continuamos a falar assiduamente. Mas esta semana não lhe vou ligar"...

Quem foi companheiro de Mourinho e Peseiro diz que os traços de carácter já estavam bem definidos nessa altura e foi o próprio treinador do Nacional quem se apressou a afirmar que uma "certa aparência de arrogância e vaidade de Mourinho não corresponde à verdade. Isso é uma necessidade ou uma estratégia que ele adoptou na relação com os 'media'. Ele até é bem divertido e já era assim nos tempos do ISEF".

Jorge Castelo: «Adeptos do futebol espectáculo»

Tendo herdado aquilo que considera uma "pesada herança de dois nomes pesados do futebol português", como Carlos Queiroz e Jesualdo Ferreira, Jorge Castelo, ainda hoje professor da opção de futebol na Faculdade de Motricidade Humana, admite que os seus antigos alunos, José Mourinho e José Peseiro, tenham sido influenciados por "algo de novo" aquando da suas passagens pelo ISEF e acentua que "isso mesmo está traduzido numa maneira diferente de estar e como eles são treinadores. Nesta vida para quem orienta equipas profissionais só faz sentido a vitória, mas independentemente disso, o Mourinho e o Peseiro gostam que as suas equipas pratiquem o futebol espectáculo e, aliás, isso confirma-se pelos conceitos que eles hoje têm quando estão à frente de equipas como o FC Porto e o Nacional da Madeira".

Sem querer estar a tomar qualquer partido pela influência que ele mesmo sofreu, Jorge Castelo diz que se identifica mais com os "pensamentos de Carlos Queiroz do que Jesualdo Ferreira" e diz que os seus antigos alunos da opção de futebol no quarto ano do ISEF já tinham nessa altura uma "opinião própria e um estilo crítico. Eram os dois bons alunos que queriam estar a esmiuçar os pormenores do futebol".

Sobre José Mourinho, que chegou a jogar na equipa do ISEF, Castelo recorda-se que ele "tinha uma personalidade vincada e poder de comunicação. Era uma pessoa que não se acomodava" e em relação a José Peseiro, que era titular no Oriental, então na terceira divisão, diz que se tratava de um "aluno bem organizado. Ainda tenho guardados os seus trabalhos".

Para o jogo de amanhã, nas Antas, Castelo diz que vão estar frente a frente duas equipas orientadas por pessoas que gostam de um futebol ofensivo. "Não creio que o Nacional entre para defender o resultado e sempre que tiver a bola é para criar embaraços ao FC Porto, que deve apostar num 4x3x3, ao passo que Peseiro pode fazer opções como seja o 4x4x2 ou o 4x4x1x1. Porém, tudo isto é muito relativo e um 4x3x3 não é rigido. Depende da amplitude que se quiser dar à defesa ou ao ataque."

Mais do que o prever o resultado deste encontro entre dois seus antigos alunos, Castelo prefere formular um desejo: "Que ganhe a equipa que melhor souber interpretar os sistemas organizativos do jogo."

Nelo Vingada: «As notas eram altas»

Nelo Vingada, actual técnico dos verde-rubros, tem uma grande amizade por José Peseiro e esse facto já ficou bem evidente aquando do "derby" entre Nacional e Marítimo, em que estes dois técnicos demonstraram grande "fair play" e o bom entendimento entre ambos. Curiosamente, Vingada foi professor de Peseiro, e do seu próximo adversário, José Mourinho. Aceitando o desafio do nosso jornal, o líder da turma maritimista, relembrou o tempo de estudantes destes seus ex-alunos.

"Fui professor de ambos na cadeira de futebol, no antigo ISEF, actual Faculdade de Motricidade Humana. Eram dois bons alunos, que vinham do meio futebolístico, pois ambos ainda jogavam na altura. Eram já então mais-valias e indiciavam que podiam enveredar e fazer carreira de sucesso no treino desportivo", começou por relembrar. E quanto ao seu comportamento como estudantes, Vingada foi claro: "Eram dois alunos universitários (21 ou 22 anos), com nível cultural e educacional próprio do local que frequentavam."

Hoje em dia, Peseiro e Mourinho são dois técnicos da SuperLiga e claro que o seu comportamento e temperamento poderá suscitar a dúvida. Já eram assim ou eram diferentes? "Conheci bem os dois. Algum do seu temperamento de então mantém-se e vem na linha daquilo que eram enquanto alunos", respondeu Vingada.

Recordando o tempo em que foi professor, o técnico do Marítimo reconhece que desde essa altura, o ambiente vivido era bom e as notas também. "Na altura havia um grande companheirismo entre todo o grupo. E as notas eram sempre altas, para cima dos 16 ou 17 valores. Seguramente que ambos tiveram notas acima do 16", finalizou.

Com o cunho do 'mestre' Queiroz

Nem foi preciso forçar a nota. O "mestre" Carlos Queiroz apressou-se logo a fazer a diferença entre os limites do bom e do excelente. "Quando digo que foram excelentes alunos, acho que digo tudo."

As referências do prof. Queiroz são a José Mourinho e a José Peseiro, antigos alunos no ISEF, no quarto ano na opção de futebol. Foi uma fase intensa das suas carreiras académicas e a apreciação de Queiroz vai ao ponto de elogiar as suas condutas enquanto estudantes. "Ambos revelaram nessa altura uma extrema paixão pelo futebol e por todas as componentes diferentes do treino. Eram argutos, inteligentes e dois excelentes alunos com boas notas."

E a complementar esta opinião, Queiroz refere que, apesar de ser sua obrigação ensinar-lhes, o respeito era mútuo. "Senti sempre uma correspondência biunívoca no nosso dia a dia, eu como professor e eles como alunos."

A finalizar, Carlos Queiroz também adverte para aquilo que esteve sempre presente na formação académica destes dois alunos, agora treinadores da SuperLiga: "Ambos investiram imenso nas suas carreiras no âmbito da própria pesquisa de elementos sobre o treino."

José Vasques: «Peseiro é inteligente a 'ler' o jogo»

José Vasques, hoje treinador do Abrantes, é amigo de Mourinho e Peseiro e nessa perspectiva gostaria que amanhã o Nacional ganhasse nas Antas e que o FC Porto fosse campeão nacional.

"Lembro-me desses tempos e quando era treinador do ISEF num jogo com o Unidos o nosso guarda-redes lesionou-se num jogo oficial e o Zé Mourinho ofereceu-se para ir para a baliza, sem qualquer problema", refere José Vasques que em relação a José Peseiro enaltece as suas faculdades de leitura de jogo. "É muito inteligente e tudo o que fez até agora é à custa do seu trabalho."

Nuno Jardim: «Mourinho já era líder por natureza»

Nuno Jardim, actual treinador do Maritimo B, foi colega de Mourinho e Peseiro no ISEF e recorda que nessa altura o actual treinador do FC Porto "já era um líder por natureza, revelando coragem e determinação, mantendo um relacionamento fácil com toda a gente. E num grupo de trabalho nem sempre é fácil agradar a gregos e troianos. Mas o Zé, mesmo nessas situações, saía-se a contento".

Sobre José Peseiro, Jardim diz que ele "é um indivíduo bastante organizado e acho que o futebol praticado pelo Nacional exprime tudo isso".

Investir bem cedo

José Mourinho começou a investir bem cedo na sua carreira de treinador e ainda miúdo ajudava o seu pai na observação de jogos. Depois foi para o ISEF, fez parte da equipa de futebol, treinou os juniores do V. Setúbal, passou a adjunto de Manuel Fernandes no E. Amadora, foi adjunto de Bobby Robson no Sporting, FC Porto e Barcelona (também com Van Gaal) e ascendeu a técnico principal no Benfica em 2000, seguindo-se a U. Leiria e agora o FC Porto.

Lesão antecipa carreira

Há dez anos, ainda José Peseiro ganhava a vida como jogador no União Santarém, mas uma lesão fez antecipar o início da sua carreira como técnico. Esteve depois em Montemor, comandou o Oriental durante três anos, depois de ter passado com distinção por Marvila (como jogador e goleador) e na sequência do trabalho foi chamado para o Nacional da Madeira.

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