RECORD – Aguarda por uma posição dos sócios, mas a sua é clara: o Gil Vicente não retirará as queixas nos tribunais comuns no caso Mateus?
ANTÓNIO FIÚZA – Não tenha dúvidas: não recuo e vou até ao limite. Felizmente que o conluio que nos montaram está à vista de todos e já não oferece dúvidas nenhumas. Esta é a minha posição e será a dos sócios porque eles sabem que a verdade está do nosso lado e não podemos deixar de lutar pelos nossos direitos. Os sócios estão muito revoltados e não é de agora. Recordo o seguinte: há anos, o Gil estava a ganhar ao Maia por 2-0 e faltavam 14 minutos para o fim do jogo. Houve um apagão e tivemos de repetir o jogo. Quase na mesma altura, por uma situação semelhante, o Sporting só disputou os 2’ em falta de um jogo com o Chaves. No nosso caso, esse apagão foi forjado e nem assim vimos a verdade reposta. Fomos comidos, mas não o voltaremos a ser.
RECORD – Antes de recorrer aos tribunais não deveria, primeiro, esgotar todas as possibilidades no campo desportivo? No Conselho de Justiça, por exemplo?
ANTÓNIO FIÚZA – Não. Se fossemos para o Conselho de Justiça, o caso ainda hoje lá estava. Avançar para o tribunal com a providência cautelar foi a forma de utilizar o jogador.
RECORD – E se a FIFA suspender, como já ameaçou, os clubes portugueses das competições europeias? Não fica com um peso na consciência?
ANTÓNIO FIÚZA – Acredito que o Gil Vicente vai retirar as suas queixas porque o Supremo Tribunal Administrativo de Lisboa vai dar-nos razão e jogaremos domingo, em casa, frente ao V. Setúbal. Mas se não for assim, manter-se-á tudo igual e vamos até às últimas consequências, pois os causadores deste processo são os seguintes: FPF, Pedro Mourão, Frederico Cebola, Adriano Afonso e Conselho de Justiça liderado pelo doutor António Mortágua. Consciência pesada? Normalmente durmo tranquilo e só as cabalas é que me tiram o sono. Então o processo arrasta-se desde Janeiro e agora estão preocupados? Se estão entalados que descalcem a bota. Até posso ajudar a descalçá-la, mas primeiro coloquem-nos na Liga, que é o nosso lugar. Vêm agora com a ameaça da FIFA? Estão preocupados com os milhões de alguns clubes e os nossos? Ninguém tem pena de nós? Nenhum desses iluminados pensa nos nossos prejuízos e na desgraça de que poderemos ser vítima por causa de alguns sujeitos sem escrúpulos? Desde Maio que temos as receitas bloqueadas e ninguém se importa. Pensavam é que iam brincar com um clube pequeno, mas enganaram-se.
RECORD – O Gil Vicente é incorruptível e não cederá a pressões?
ANTÓNIO FIÚZA – Ninguém nos vergará e não vamos ceder, apesar das pressões políticas. Já fomos vilipendiados e, portanto, isto só parará quando os barcelenses em geral tiverem a certeza que a verdade está reposta. Se não houver uma decisão favorável ou um acordo que satisfaça as pretensões do Gil Vicente, o processo vai até ao fim.
RECORD – Que tipo de acordo?
ANTÓNIO FIÚZA – Não lhe posso responder. No contexto do futebol e da própria jurisprudência há muitos tipos de acordos. Mas não sei o que se vai passar.
RECORD – A verdade do Gil Vicente tem algum preço?
ANTÓNIO FIÚZA – O preço da nossa verdade é uma decisão dos tribunais com justiça.
RECORD – Admite receber uma indemnização e jogar na Liga de Honra?
ANTÓNIO FIÚZA – Calma lá! Só admito jogar na Liga. As instâncias desportivas é que criaram este problema, por isso é que a maioria das pessoas não acredita nelas. Quanto à Juventus, é um facto que retirou as queixas, mas a compra e viciação de resultados não é um caso desportivo? Esse caso girou sempre à volta das quatro linhas. O Mateus queria trabalhar, logo é um caso de direito ao trabalho. Quanto à indemnização, se isso se vier a colocar, terei de ouvir a minha direcção e os sócios.
RECORD – O secretário de Estado da Juventude e Desporto, Laurentino Dias, disse o seguinte sem pronunciar o nome do Gil Vicente: “Apelo ainda a todos os demais intervenientes, no sentido de defenderem as suas posições com bom senso e prudência, de acordo com os interesses gerais do futebol português.” Sente-se atingido?
ANTÓNIO FIÚZA – Não. O bom senso sempre imperou nas nossas posições. Não temos má-fé, só queremos a verdade e não adianta virem com pressões. Já viram a nossa fibra e enganaram-se se pensavam que estavam a falar para parolos. O problema é que o Belenenses é o clube do antigo regime e dos lóbis. Juntamente com a minha direcção tenho estado a lutar contra esses tubarões de Lisboa, embora a cidade não esteja em causa. São apenas alguns, já identificados, e que não terão perdão algum. Uns já são conhecidos, outros serão conhecidos na altura certa.
RECORD – Já disse que o Gil será incorruptível, pergunto-lhe agora se tem condições financeiras para suportar todo este processo?
ANTÓNIO FIÚZA – Temos um departamento jurídico do melhor que pode haver e desde a primeira hora que nos sossegaram quando nos deram razão. Além disso, e ainda recentemente, os doutores Cruz Vilaça e Alexandre Mestre ganharam uma causa contra a Federação Portuguesa de Karting. O processo era sobre a emissão de uma licença desportiva e foi considerado um acto administrativo susceptível de recurso à jurisdição comum. Ou seja, estamos com os juristas certos, verdadeiros crânios, e que também não iriam arriscar a sua reputação num processo que não ganhavam. Quanto ao dinheiro, estão contas abertas e há barcelenses sensíveis a esta causa. E vejam que foram eles que vieram ao nosso encontro e ainda hoje um adepto do Canadá me ligou a perguntar o número da conta para fazer um depósito.
RECORD – O risco do Gil Vicente ser suspenso ou mesmo acabar é real. O clube tem na formação mais de 300 miúdos e um plantel profissional em actividade. Pode acabar por ser acusado de irresponsável…
ANTÓNIO FIÚZA – Não me sinto responsável por aquilo que possa vir a acontecer. Irresponsável é a FPF que se vingou nos jovens ao suspender o clube nos campeonatos da formação e, depois, os juristas dizem que temos razão. Se é assim, vou lamentar-me de quê? Vou ter medo de quem? Podem responsabilizar-me por querer acabar com a podridão? Por amor de Deus. Se ninguém tem coragem, temos nós. Quem não está de má-fé só nos pode razão e orgulhar-se da nossa coragem por travar uma luta contra tubarões que pensavam ser impolutos.
RECORD – Está a imaginar o Gil Vicente a desaparecer?
ANTÓNIO FIÚZA – A nossa causa é justa e daí as manifestações de solidariedade. Estamos em actividade, mas há sócios que até falam num Barcelos Futebol Clube. Portanto, é sinal que os barcelenses estão connosco para nos ajudar na melhor solução.
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