Em entrevista ao podcast 'Pró-Desporto', Adélio Cândido, um dos adjuntos da equipa técnica liderada por Rúben Amorim, abordou os pontos-chave para o sucesso do Sporting durante a época de 2023/23 e não esqueceu os momentos positivos mas, sobretudo, as fases de menor fulgor dos leões. Na prática, ao recordar os momentos mais marcantes do trajeto dos verdes e brancos nesta época que resultou na conquista do título, o jovem adjunto - 27 anos - apontou algumas derrotas, entre elas o desaire ao cair do pano (1-2) na visita ao Benfica, no campeonato.
"Guardo muito mais os momentos maus do que os bons, ficam mais a remoer. A derrota na Luz foi horrível. Dormi bué mal e durante bué tempo. A derrota na Luz foi dura, porque o jogo esteve na nossa mão durante muito tempo", apontou, na entrevista o podcast, antes de lembrar a eliminação face ao Sp. Braga, nas meias-finais da Allianz Cup, em Leiria: "Quando perdemos a meia-final da Taça da Liga, pensámos como equipa téncnica que era a nossa prova e era especial. Quando caímos com o Sp. Braga, doeu muito, porque podia ter dado de outra forma."
De igual forma, Adélio não esquece os momentos positivos de leão ao peito e, ao puxar a fita atrás até à época de 2020/21, na qual ajudou o Sporting a conquistar o primeiro campeonato nestas últimas quatro épocas, destaca a vitória (1-0) suada diante do Sp. Braga, na Pedreira, com Matheus Nunes a apontar o único golo, num lance estudado com Porro.
"O momento de campeão? Celebrei mais este ano do que no primeiro ano. No primeiro ano onde celebrei mesmo foi quando ganhámos em Braga. Estive o jogo todo tranquilo, mesmo depois da expulsão do Inácio, mas quando fizemos o golo, foi sofrer e sofrer. O Rúben estava lá em cima comigo e foi sofrer. Nem me conseguia sentar e tinha vontade de ir à casa de banho. Entrámos no balneário tipo malucos", recordou, entre risos.
Atualmente ao serviço do clube de Alvalade, numa equipa técnica liderada por Rúben Amorim, Adélio não deixa de lado, porém, os primeiros passos que deu na carreira de treino no futebol, sublinhando o marco importante de ter chegado ao Casa Pia numa fase ideal. "Quando estava nos sub-17 do Casa Pia, pedi para fazer um estágio com a equipa A, onde estava o míster Tiago Zorro. Mandei uma mensagem no facebook a pedir naquela só de fazer o estágio e ter o primeiro contacto com seniores. O trabalho nos seniores é muito diferente do que se faz na formação. Comecei a fazer análise e ajudar no vídeo. Aprendi muito com o Tiago Barreiro", aponta, completando depois a trajetória com Amorim ao leme. "O Rúben começa a carreira no Casa Pia, depois seguimos juntos. Fomos para a equipa B do Sp. Braga, depois principal e Sporting. Isso tudo aconteceu muito rápido. Uma pessoa nem se apercebeu, de repente estávamos no Sporting. Foi muito rápido", defendeu.
O impacto de Gyökeres e o exemplo de Gonçalo Inácio
Na hora de abordar alguns dos segredos de Rúben Amorim para manter a maioria dos jogadores focados no dia-a-dia do Sporting, mesmo que alguns deles não tenham tantos minutos de utilização, Adélio lembrou a confiança que deve existir entre as partes. "No fim ao cabo, a relação é o mais importante no futebol. Se houver respeito com os jogadores, eles também nos respeitam", deixou claro, dando depois o exemplo de jogadores que evoluíram sob a liderança do técnico de 39 anos.
Um dos melhores exemplos no Sporting, garante o adjunto, foi o caso de Gonçalo Inácio, chamado por Amorim antes do arranque da época de 2020/21 e que foi subindo a pulso dentro do plantel principal, ao ponto de conquistar a titularidade a partir da segunda metade da temporada do título.
"O Inácio não tinha muito jogo quando o Rúben o foi buscar. No nosso primeiro meio ano, cresceu mesmo muito. É um bom caso. O Nuno Mendes já era um jogador feito, o Inácio cresceu e é um jogador especial", explicou Adélio, colocando a exigência alta para jovens que queiram singrar: "Temos de estabelecer os nossos limites bem alto. Nunca se impeçam de sonhar. É importante não deixar os miúdos cair. A resiliência é muito importante. Podem sonhar e pensar que conseguem chegar ali."
Além disso, o adjunto do Sporting explicou, de certa forma, como Amorim procede no momento de fechar uma contratação ou definir um alvo prioritário a atacar no mercado. "O Rúben é de feelings. Quando diz que quer um jogador e diz ‘é este’ já nem vê mais. Quando é assim, acerta muitas vezes", justifica, com o exemplo de Gyökeres a ser provavelmente o mais conhecido (e com frutos) na realidade leonina.
O avançado de 25 anos, que foi contratado pelos verdes e brancos ao Coventry a troco de 20 milhões de euros fixos (mais 4 M€ por objetivos), pegou de estaca no Sporting e acabou por ser uma peça-chave para o clube de Alvalade, tal como assume Adélio. "Era a peça que faltava no ataque. Deu-nos coisas muito diferentes, é um jogador diferente do normal, fisicalidade e ataque à profundidade. Foi um achado do scouting, gostámos muito quando o vimos. A nossa forma de atacar melhorou mesmo muito com ele. O Morten [Hjulmand] é um senhor 6 e foi uma grande contratação. Tem que se tirar o chapéu. Ajudaram-nos muito", sublinha, sem esquecer o papel importante dos outros futebolistas da equipa principal em 2023/24. "Tivemos um grande plantel esta época: o Paulinho foi gigante... Tivemos muitas soluções. Qualquer jogador no banco podia estar a jogar facilmente", conclui.
Por Filipe Balreira