Opinião
Na família Benfiquista usualmente chamamos de “Pai” a Cosme Damião, alguém que atingiu a eternidade através do Sport Lisboa e Benfica, elevado ao patamar da excelência. Contudo, a seu lado no Olimpo do SLB, em letras douradas, estará certamente Félix Bermudes.
Félix Bermudes, um enorme Benfiquista “tripeiro”, para além de ter sido Presidente e atleta de várias modalidades, no difícil ano de 1907, foi talvez a principal figura que permitiu que quase 120 anos depois, nos intitulemos do maior Clube do mundo em termos de sócios. Usando uma expressão sem parcimónia, “um homem maior que a vida”.
Desconhecido para alguns, aprendi a ver este nosso consócio eterno como modelo inspirador de Benfiquismo, recordando o entusiasmo de ler e ouvir gravações acerca do que fez pelo nosso Clube e pela Cultura em Portugal. Para mim, sem hesitação, um dos maiores da nossa História. Acresce que para além do muito que fez pelo nosso “Glorioso” foi também um escritor de mão cheia.
A este respeito, na última AG do nosso Benfica, tive oportunidade de fazer uso da palavra para, previamente à questão do regulamento eleitoral, falar de algo que considero essencial: o respeito. Parece-me bastante evidente que somos todos consócios e parte da mesma família. Podemos não estar de acordo, até discutir com paixão, mas há linhas que não devem (podem) ser transpostas … linhas vermelhas, aqui em duplo sentido, até literal…
O respeito e a decência têm de imperar no SLB, e os ataques cobardes e gratuitos entre sócios não podem ter espaço. Seja quem for. E pensar ou fazer diferente é desonrar os nossos valores e a nossa Gloriosa História.
Usando a este propósito as palavras de Félix Bermudes, partilho uma passagem de um texto que escreveu intitulado “Porque sou benfiquista?”
“Esse espírito de fraternidade uniu a Família Benfiquista num só bloco, em que o rico e o pobre, o iletrado e o culto, o poderoso e o humilde perdem de vista as diferenças que os separa, e se nivelam na mesma devoção a uma bandeira, a um emblema, a um símbolo, a um Ideal!
Sou Benfiquista porque, nesta família social, sinto retribuído por todos, o respeito que a cada um manifesto. Porque o lar benfiquista fechou a sua porta à indisciplina, à grossaria, à brutalidade, à insolência; e a harmonia da sua vida interna reflete-se luminosamente na sua missão externa”…
Tenho o privilégio de ter Amigos como candidatos a órgãos sociais em várias listas nestas eleições. A todos apresento os parabéns pela coragem e sentido de missão para se candidatarem e desejos de boa sorte caso sejam eleitos.
No entanto, não pode valer tudo para atingir objectivos eleitoralistas, seja quem for o visado. E se a questão foi tema na AG, perante o que tem sucedido recentemente, é (lamentavelmente) o principal tema.
Acredito que acima da questão de quem vença ou perca as eleições que se aproximam, se for este o rumo que escolhemos percorrer, poderá estar em causa a identidade de um Clube único, de um sonho eterno que tem de evoluir sem perder de vista o que o fez chegar aqui: a união dos seus associados e o respeitos por valores essenciais desde 1904. Sem isso, não haverá realmente vencedores, apenas um derrotado: o Sport Lisboa e Benfica.
Perante isso, cabe a todos nós pensarmos seriamente o caminho que queremos trilhar, e, individualmente, pensar no papel que queremos ter ou como futuramente pretendemos que a família nos recorde…
Quo Vadis Benfica?