Em declarações exclusivas a Record, o presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sporting, João Palma, fundamenta a decisão de indeferir o requerimento de um grupo de sócios, que pretendia incluir na ordem de trabalhos da próxima AG um ponto relativo à alteração do regulamento da AG. O objetivo de fundo do movimento "Sporting com voto nos núcleos" seria introduzir a descentralização do voto em 7 núcleos, representativos das principais regiões do País, e eliminar totalmente o recurso a suportes eletrónicos, promovendo o regresso ao papel.
RECORD – Por que indeferiu o requerimento do grupo de sócios, que pretendia incluir um ponto adicional na ordem de trabalhos da próxima Assembleia Geral, com vista à alteração do regulamento da AG e consequente supressão do voto eletrónico e alargamento do voto a um conjunto de núcleos/regiões?
JOÃO PALMA – Desde logo porque o requerimento não tem cabimento ao abrigo da disposição estatutária que os requerentes invocaram para o apresentar, os números 2 a 4 do artigo 47.º dos estatutos. Estas são as razões formais. Depois porque a matéria que eles pretendem ver discutida, a questão da alteração ao regulamento da Assembleia Geral, é reservada pelos estatutos à própria Mesa da AG. Só a AG tem competência para proceder a alterações ao regulamento da AG e tem de ser a Mesa a elaborar, apresentar e submeter esse documento à aprovação dos sócios.
R – Para lá das questões mais formais, a Mesa da AG concorda com a essência do que é proposto (fim do voto eletrónico e voto descentralizado presencial nos núcleos)?
JP – Sinto-me legitimado para pronunciar-me sobre o mérito das propostas, digamos assim, porque são matérias que dizem respeito ao funcionamento da Mesa. Uma delas é acabar com o voto eletrónico presencial, que tem dado provas de bom funcionamento e já existe desde antes de 2018; não há nenhuma razão para o alterar. Além disso, há o sentimento dos próprios sócios. Na AG de outubro, a proposta do Conselho Diretivo relativa ao iVoting foi votada por 3.771 sócios: 69,80% dos votantes, correspondentes a 71,65% dos votos, foram a favor do iVoting, ou seja, do alargamento do voto eletrónico, presencial e remoto, com o qual este grupo de sócios pretende agora terminar. Apesar de a proposta não ter sido aprovada, porque exigia uma maioria qualificada (75%) de votos e votantes, não faz nenhum sentido que se tente aqui voltar atrás, quando os sócios foram maioritariamente noutro sentido, da modernização do clube, que é aquilo que os órgãos sociais, e nomeadamente a Mesa da AG, pretendem fazer. No fundo, era andar para trás.
R – A proposta falava em descentralizar para os núcleos, indicando regiões e não núcleos específicos…
JP – Um dos problemas que se coloca é exatamente esse. Nós queremos unir o Sporting, que tem um passado com imensas vicissitudes, sobretudo com muitos conflitos internos. Neste momento, fruto do trabalho de consolidação financeira do Conselho Diretivo e de vitórias, queremos contribuir para que os sportinguistas se sintam cada vez mais unidos e envolvidos neste projeto. Se esta proposta fosse aceite, levaria a escolher alguns núcleos, necessariamente preterindo outros e, portanto, ajudaria a criar clivagens dentro do universo sportinguista e dos próprios núcleos, que é tudo aquilo que nós queremos evitar, por bom-senso. Depois, há a questão prática. É impossível fazer umas eleições com mesas de voto nos núcleos. A AG tem um presidente, um vice-presidente e três secretários, somos cinco membros efetivos. Como é que os membros da Mesa, que têm de estar presentes no ato eleitoral, poderiam desdobrar-se por tantos locais? Era impossível. Se o que se quer é dar mais segurança ao voto, temos reparado, até em clubes congéneres, em situações verdadeiramente caricatas, de transporte de urnas fora de horas e sabe-se lá por quem… Era criar balbúrdia onde a balbúrdia não existe.
R – Está no horizonte voltar ao tema do voto eletrónico remoto eventualmente ainda neste mandato?
JP – A minha opinião, como sócio do Sporting e presidente da Mesa, é que o voto eletrónico presencial e remoto, à distância, a partir de qualquer local onde se encontre um sportinguista, seria um salto muito importante na democratização do clube, porque permitiria que todos os sócios pudessem participar ativamente na vida do clube, sobretudo nas assembleias gerais eleitorais, e isso seria uma conquista muito importante. Agora, o voto eletrónico, que eu efetivamente defendo e gostaria de ver implementado, não é uma iniciativa da Mesa da AG nem do seu presidente. Foi, já em outubro, uma iniciativa do Conselho Diretivo, e o próprio dr. Frederico Varandas, logo no momento dessa AG, anunciou que voltaria ao tema, até em função da maioria expressiva que votou a favor. Portanto, é uma iniciativa do CD, não só quanto à sua apresentação como quanto à oportunidade.
R – Sem o referido ponto adicional, confirma que a próxima AG terá lugar no dia 30 e será destinada a votar o orçamento para 2024/25 e as contas consolidadas de 2022/23?
JP – Sim, a convocatória já seguiu para publicação, que será feita na 5.ª feira. Confirmo que será no dia 30 de junho, com os pontos que refere em discussão, o orçamento e as contas consolidadas. Os documentos vão ficar disponíveis para os sócios, quer no balcão de atendimento, no estádio, quer pelos meios habituais.
R – Está numa posição que obriga a equidistância, mas que avaliação faz à época do Sporting e ao que se segue, tanto no futebol como nas modalidades, após a conquista de títulos em todas as frentes? Como avalia o momento do clube?
JP – O que eu sinto é representativo daquilo que sentem todos os sócios do Sporting, uma grande alegria em função da performance desportiva, quer no futebol, quer nas modalidades, com êxitos atrás de êxitos, que nos enchem de orgulho.
R – No futebol sente que foi reduzido ou eliminado o tal fosso que se falava para os rivais?
JP – Eu acho que a época que terminou era decisiva para quem ganhasse o campeonato. Felizmente foi o Sporting, e conseguimos ganhar com todo o mérito, que foi indiscutível. Isto traduz-se na consolidação de um caminho que, mesmo em relação aos nossos mais diretos rivais, nos traz maiores possibilidades de êxito no futuro. A estabilidade do clube é um valor pelo qual faço questão de lutar. A união e a consolidação financeira têm permitido estes resultados. Nada faz prever que este caminho se altere. O Sporting está em condições de ter um futuro que encha os sócios e os adeptos de orgulho e alegria.
Por Vítor Almeida Gonçalves