Varandas sobre vendas e investimento: «Estamos a caminhar para depender menos da venda de jogadores»
- Formação ou investimento maior na próxima época?
"O Sporting não vai alterar a sua estratégia, a nossa forma de gerir o clube. O que sabemos fazer melhor é produzir jogadores. o primeiro mandato ficou marcado pelo investimento na Academia, tivemos de a requalificar e apetrechar das melhores pessoas. Hoje estou mais do que descansado. Não olho para o lado e invejo nenhuma academia. O investimento está aí, estamos pela primeira vez na final four da Youth League, tivemos na última convocatória dos sub-20 11 jogadores, esse é o caminho. Nem todos chegarão À equipa A, vão ter de pedalar muito, sabem da exigência do treinador, mas os que chegarem é porque merecem. Esse é o caminho do Sporting."
- Vender jogadores nucleares?
"O Sporting está numa posição bastante diferente do que estava quando chegámos em 2018. A forma como temos negociado e vendidos os jogadores não tem nada a vender. Chegámos com a corda ao pescoço, os nossos adversários sabiam. Foi muito complicado. Hoje não estamos assim, fruto do rumo de estabilidade que delineamos. Estamos numa posição mais confortável. Não é por acaso que 5 das maiores vendas da história do Sporting foram feitas neste mandato. O Sporting tem crescido. Obviamente que quando os jogadores saem é porque têm de sair. Ninguém tem prazer em vender, não é só o treinador, o jogador e o adepto que quer ganhar, o presidente quer ganhar. Sei que não é uma decisão popular. A necessidade de vender é do futebol português, o que não vai mudar, neste modelo de associativismo, nós, Benfica e FC Porto. Sabemos bem as receitas que temos, os custos que temos. É jogar com o equilíbrio."
- Receitas não dão margem para segurar jogadores fundamentais?
"O nosso trabalho é isso que temos feito, as dificuldades que muitas vezes não são visíveis para o adepto. Gostaria que há 10 anos, a administração que aqui estava tivesse investido não só na equipa, como nas infraestruturas na modernização do clube. Infelizmente não se fez e os nossos rivais fizeram e bem. Temo-lo feito de há 4 anos para cá de forma equilibrada e sustentada. Seria fácil para mim meter as receitas que temos e investir na equipa A. Era ótimo para mim porque era mais fácil ganhar amanhã, mas não é o melhor para o Sporting. Nunca vamos fazer o que é melhor para nós, mas sim o que é melhor para o Sporting. E o melhor é esta gestão. Ter de investir numa loja verde online nova, numa nova megastore. Fez com que o Sporting cresça de receitas e batermos recordes de receitas de merchandising, recorde de receitas de quotização, este ano posso dar a novidade: batemos o recorde de bilhética e gameboxs juntas num ano, na segunda época com maior assistência em Alvalade (a primeira foi 2019/20). O Sporting tem crescido como clube. É desafiante para quem gere ter de meter ovos não só no futebol como em áreas que vão fazer o Sporting crescer para depois não ter de vender jogadores."
- Consolidação da visão estratégica está patente no último Relatório e Contas?
"É esse trabalho de consolidar financeiramente o clube que temos de continuar a definir e decidir por esta estratégia. É por aqui que temos de continuar a percorrer o caminho. Estes resultados são fantásticos e encorajadores, mas obviamente não podemos agora virar a agulha e achar que está tudo bem, porque não está. Temos um trabalho para fazer. Nessa análise financeira também temos um aspeto importante da continuação da redução do passivo. Reduzimos em cerca de 24 milhões de euros o passivo, o que fizemos sempre exceto em período de Covid. Demonstra o trabalho de consolidação. Não estamos aqui para ganhar medalhes e recordes financeiros, estamos para ganhar. Mas só é possível ganhar com esta estabilização financeira. Quando analisamos e ficamos contentes com estes valores, é um trabalho de centenas de colaboradores do Sporting, mas há um peso importante do futebol. Jamais se conseguiria esta recuperação financeira sem o trabalho e mérito do treinador, diretor desportivo e todo o staff."Frederico Varandas e o projeto, nomeadamente obrigatoriedade de venda de jogadores para equilibrar resultados:
"Estamos a potenciar as nossas receitas e o orçamento precisa de receitas. Mas as receitas extraordinárias da Champions têm o peso. Se não vier a Champions, terá de vir mais num valor acima de vendas. O Sporting está muito mais bem preparado para ficarmos sem Champions, apresentamos resultados financeiros na linha do ano anterior, resultados operacionais melhores, este ano os segundos melhores de sempre. Isto demonstra que o Sporting está cada vez mais equilibrado a nível de custos e receitas. E a caminhar para depender cada vez menos de vendas dos jogadores. Acreditamos que só existe financeiro se houver sucesso desportivo. Mas também só haverá sucesso desportivo se houver sucesso financeiro. Se num ano decidirmos fazer um esforço enorme, não vender nada, ficar à pele com salários em atraso, no ano a seguir desbaratamos a equipa toda devido ao fair play financeiro. Se nao estivermos na Liga dos Campeões podemos precisar de vendas. O Sporting está mais bem preparado se ficar sem Champions. Ao termos resultados operacionais melhores, estamos a caminhar para depender menos de vendas. Mas ainda não estamos lá, temos de consolidar o nosso caminho. Só existe sucesso financeiro com sucesso desportivo. O facto de termos, após seis anos, resultados positivos é prova do caminho das pedras que passámos e da sustentabilidade da SAD para competir e isso é importante para o fair-play financeiro."