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18 outubro

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Adeus Alvalade: Homenagem a Hilário reaproximou rivais

Nasceu na Mafalala, o mesmo bairro moçambicano de Eusébio. Em 1958, com 19 anos, chegou a Alvalade, e não conheceu outro clube enquanto jogador, terminando a carreira em 1973, após 331 jogos como leão na I Divisão. Este "Magriço" foi um defesa-esquerdo de eleição, mesmo "sem" pé esquerdo

Adeus Alvalade: Homenagem a Hilário reaproximou rivais
Adeus Alvalade: Homenagem a Hilário reaproximou rivais • Foto: João Trindade

Hilário é tido por muitos como o melhor defesa-esquerdo do futebol português. Nada mal para quem teve de aprender a usar a canhota: "Sempre ocupei posições na direita ou no centro, em Moçambique, mas quando cheguei ao Sporting, o treinador Enrique Fernandez precisava de alguém para ocupar o lugar do Pacheco, que estava de saída. Eu nem sabia rematar com o pé esquerdo mas ninguém reparou nisso."

A estreia em Alvalade, em 1958, é um dos momentos mais acarinhados: "Foi com o Belenenses de Matateu. Dias antes, tinha jogado na Luz, num particular, e ficara impressionado ao ver tanta gente nas bancadas. Mas agora estava mais calmo, porque os adeptos, em vez de me assobiarem, batiam palmas."

O Benfica surgiu no início e no fim: "Na minha memória de Alvalade, não posso ignorar a homenagem que me foi dedicada em 5 de Novembro de 1971. Sporting e Benfica estavam de relações cortadas mas a Direcção encarnada permitiu que os seus jogadores participassem na festa." E lá estiveram Eusébio, Simões, Shéu e outros, distribuídos pela Equipa da Solidariedade e selecções de jogadores nascidos em Moçambique e Angola. Hilário colocaria um ponto final na carreira dois anos depois.

Foram muitas as glórias vividas no estádio que agora vai abaixo, para grande pena sua. Entre elas, "o carnaval que fizemos em 1962, quando conquistámos o campeonato, num jogo ante o Benfica (2-1), que já estava fora da corrida mas haveria de ganhar, pouco tempo depois, a segunda Taça dos Campeões Europeus".

Ou a estrondosa vitória sobre o Manchester United, por 5-0, na Taça das Taças de 1963/64. "A sorte esteve connosco. Eles deram o pontapé de saída e, em 30 segundos, atiraram a bola ao poste. Foi o Dennis Law. Se tivessem marcado, a eliminatória poderia ter ficado perdida ali, pois levámos 4-1 em Inglaterra. Mas não, estávamos inspirados, sobretudo o Osvaldo e foi o que se viu."

Essa mesma campanha encerrou um dos episódios mais tristes da carreira, também ocorrido em Alvalade: "Por causa da final com o MTK Budapeste, antecipou-se o Sporting-V. Setúbal. Num choque com o Zé Maria, acabei por fracturar a tíbia. Ele não foi culpado, mas veio a minha casa pedir desculpa, no dia seguinte. Fiquei mesmo desmoralizado, mas os meus companheiros fizeram questão de me trazer a taça, mal aterraram no aeroporto. Com eles vieram 10 mil pessoas em cortejo e tive de ir à janela agradecer. Estive cinco meses parado mas nunca mais me lesionei."

O "João" que secou Mané Garrincha

Hilário destaca dois adversários nos duelos directos: Carlos Duarte (FC Porto) e José Augusto (Benfica). Mas o mais difícil foi Mané Garrincha: "Defrontei-o pela primeira vez num Sporting-Brasil, tinha e19 anos, e levei um baile tremendo. No dia seguinte, no barbeiro, um tipo entrou no estabelecimento e disse-me para ir ao Gomes Pinto. Sabia lá o que era isso! Ele explicou: "É um oftalmologista. Bem precisas porque ficaste com os olhos trocados." Dei-lhe uma bolachada."

O defesa-esquerdo voltou a encontrar o "anjo das pernas tortas" em 1962, desta vez ao serviço da selecção, em dois particulares realizados no Brasil. "O primeiro foi em São Paulo. A imprensa brasileira só queria saber quem era o "João" que ia levar baile, pois Garrincha chamava a todos os marcadores directos de "João". Fiquei nervoso e foi o miúdo Eusébio quem me acalmou. Deu-me confiança, disse-me que o Garrincha não ia ter hipóteses. Assim foi. Fiz o melhor jogo da minha vida. Dias depois, no Maracanã, repeti a dose. Recebi propostas do Vasco da Gama e do Flamengo. Mais tarde, Garrincha disse que o João mais difícil que encontrou foi o moçambicano Hilário. Ele era especial, não defrontei outro igual."

Quase convenceu o amigo Eusébio

Eusébio foi companheiro de Hilário nas jogatanas do "Arsenal", a equipa do bairro da Mafalala, de onde ambos são oriundos. "Era mais novo mas já era o melhor de todos." Por isso, não espanta que Hilário tivesse tentado convencê-lo a rumar a Alvalade, onde já se encontrava havia dois anos. "A Direcção do Sporting queria que fizesse testes e o Eusébio não vinha sem contrato assinado. Pelo telefone, disse-me que, sendo melhor que Seminário, a vedeta do Sporting na altura, não entendia porque tinha de fazer testes. Que personalidade! O Benfica foi mais directo e ficou com ele."

O avião está a arder!

Hilário acordou com os berros do guardião Octávio de Sá. "Acorda, o avião está a arder." Tinha 19 anos, estava a fazer a viagem de 22 horas que o levaria de Moçambique ao Sporting, em Portugal, era a primeira vez que voava. "Eu estava encostado à janela, por cima de uma das asas e vi labaredas a sair dos escapes dos motores a hélice. É claro que aquelas explosões periódicas não eram anormais naqueles aviões, mas caí que nem um patinho. Entrei em pânico e tentei fugir. Mas para onde? O Octávio, que era um brincalhão, ria-se e eu percebi que estava a ser vítima de uma partida." Hilário nunca se "vingou" do companheiro.

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