O bebé chorão e “traquinas” deu lugar a um jovem, de 18 anos, que ambiciona um “lugar” no futebol português. Aos 14 anos deixou Barcelos, onde sempre viveu, e sozinho apostou num futuro em Lisboa, e no Sporting. A mãe chora quando fala do seu “menino” – “para mim ainda é assim”, desabafa –, mas os maus tempos de adaptação já lá vão. Hoje, Hugo Viana, uma das maiores esperanças leoninas, ri com satisfação e “espalha” simpatia
HUGO Viana, ou Miguel para os amigos e família, vive, aos 18 anos, um dos pontos altos da sua (ainda) curta carreira de futebolista. As recordações do bebé chorão e muito “traquinas”, que a 15 de Janeiro de 1983 chorou pela primeira vez e alegrou uma casa de Arcozelo e que, mais tarde, viria a tornar-se numa criança irrequieta, estão, agora, longe. Cada vez mais.
Quando há quatro anos deixou Barcelos, sozinho, tinha consciência que a sua vida seria uma incógnita. Mas então, com 14 anos, nunca esperou que hoje estivesse a viver momentos tão marcantes. O adolescente rapidamente deu lugar a um jovem, com uma maturidade invulgar para a sua idade.
“Fazer tudo sozinho desde os 14 anos, e estar longe da minha família, deu-me alguma maturidade, embora reconheça que ainda tenho de crescer mais”, confessa aquela que é uma das maiores esperanças do clube leonino.
Muito antes de imaginar – “nem estava à espera”, diz – foi chamado por Bölöni aos convocados da primeira equipa leonina, para o encontro particular com o Celta de Vigo. Mas é o dia 27 de Setembro que recordará como aquele que marcaria a estreia oficial com a camisola principal do Sporting. Então, o técnico chamou-o a substituir Tello, aos 80 minutos do encontro com o Midtjylland, a contar para a segunda mão da taça UEFA.
O que se poderia pensar ser “sol de pouca dura”, tornou-se, para já, numa realidade. Feliz, por sinal. No primeiro dia de Outubro, Hugo Viana saltou do banco, viu Paulo Bento sair, e viveu 22 minutos emocionantes, onde teve tempo para fazer um passe preciso para o quarto de cinco golos, com que o Sporting viria a golear o V. Guimarães. Jardel, autor do tento, agradeceu e o jovem “acumulava sensações”, ao estrear-se na I Liga.
Os maus tempos de adaptação a Lisboa parecem fazer, definitivamente, parte de um passado, apenas recordado quando é aberto o livro das recordações. E foi esse o livro que Record desfolhou. Os gostos, a infância, o crescimento e, sobretudo, as dificuldades que o “menino” viveu, desde que deixou os pais, até ao dia em que Bölöni o fez “viver um sonho.”
Modesto, e tímido ao primeiro contacto, não gosta de falar sobre si. O sorriso rasgado é uma constante num jovem que, por onde passa, vai ”espalhando” simpatia. Uma realidade muito diferente daquela que viveu há quatro anos.
“Foi difícil. Afinal, só tinha 14 anos e vim para Lisboa, sem ninguém. Com todas as diferenças que tive de ultrapassar, porque esta é uma cidade com uma grandeza que não se pode comparar a Barcelos”, recorda, invadido pela nostalgia.
Tudo mudou. Só um laço permanece inalterável e cada vez mais forte e estreito. Aquele que o liga a Maria Filomena: “A minha mãe é tudo para mim. Criou-me e deu-me a educação que tenho. Não consigo expressar o que sinto por ela.”
Esquecer lágrimas do primeiro ano
Desistiu da escola quando estudava Economia, no 10º ano. A Escola Secundária Alcaides Faria, em Barcelos, já só existia no seu imaginário e as recordações dos primeiros tempos em Lisboa não são boas.
“Chorava muito, porque não gostava do liceu e sentia muitas saudades dos meus colegas e da minha mãe. Mas fiz a opção e tive de superar os contratempos”, revela.
A adaptação acabou “por ser tardia”, mas tudo viria a mudar “com o apoio de colegas que tinham passado pela mesma situação.” “Acabei por gostar do ambiente e da família sportinguista”, diz.
Mas, afinal, o que se pode esperar de Hugo Viana? “É muito complicado. Não sei o que vai acontecer no futuro”, expressa, dizendo que se considera “um jogador normal”, que “joga para a equipa.”
Vaidoso? “Como todos”, afirma a rir, revelando que quando sai de casa, gosta de ver “o aspecto ao espelho”. A teimosia, admite, é o seu maior defeito e a sua faceta de guloso foi passando com o tempo: “Quando era mais pequeno, adorava bolos.”
“Dedicado aos amigos”, o jovem sportinguista não esconde que gosta de olhar para uma mulher: “A beleza interior é a mais importante e a que conta, mas a exterior acaba por ser um cartão de visita.”
Gosta de ir ao cinema e recorda “Braveheart”. Um dos livros que mais gostou foi o “Alquimista”, de Paulo Coelho.
Orgulho da mãe Filomena
Hugo Miguel Ferreira Viana nasceu há 18 anos e cedo Maria Filomena, teve de se resignar à realidade: o seu filho, único, então com cinco anos, estava destinado a ser jogador de futebol.
Miguel, como é tratado por toda a família, adoptou o nome de Hugo Viana para o futebol. Mas antes teve uma infância que é recordada com carinho por Maria Filomena, que não conseguiu evitar as lágrimas.
Chorão nos primeiros meses de vida, Hugo Viana começou a andar ainda com onze meses. “Foi no dia 6 de Janeiro”, recorda a mãe que nove dias depois viria a festejar o primeiro aniversário do jogador, onde lhe deu um palhaço chamado “Tété”, a sua primeira prenda.
Viria a revelar-se bom aluno, e só não gostava de ir à catequese. Mas anos mais cedo, Maria Filomena ouviu da boca de Hugo Viana a primeira palavra. “Anhã” (leia-se mãe). A ligação dos dois parece inabalável, e os quase 400 quilómetros que os separam, só servem para fortalecer uma amizade grande. “O Miguel nunca se deita, sem antes me ouvir a desejar-lhe as boas-noites”, afirma.
A paixão pelo futebol revelou-se cedo. Além de ser “rebelde e de bater muito nos primos” quando era criança, Hugo Viana espalhava o terror em casa, quando diariamente fazia bolas de meias para jogar.
Os bolos “da tia Céu” eram a perdição de um miúdo, que adorava salsichas, com ovos estrelados e batatas fritas. Os iogurtes estavam no topo das preferências, mas os anos passaram e o jovem “adoptou” como ponto fraco comprar roupa.
Os primeiros tempos sem o filho foram “duros” para uma mãe, que de 15 em 15 dias se deslocava a Lisboa.
“Quando me telefonaram do Sporting, disse que não o deixava ir, mas depois acabei por permitir.”
Hoje, a viver no T2 que o filho comprou, em Janeiro deste ano, em Barcelos, sonha com o dia que voltarão a estar juntos.
Ficam as lágrimas que deitou quando Hugo Viana se estreou pelo Sporting. “A minha família é ele.”
Avó materna lembra paixão pela bola desde cedo
Júlio Rente foi uma das responsáveis pelo crescimento da jovem promessa sportinguista. Com dias de vida, Hugo Viana foi para casa da avó materna e ali foi criado durante 14 anos, até à altura em que aceitou jogar no Sporting. A mãe do jogador só o ia buscar quando saía do trabalho.
Tanto Júlia Rente como o seu marido, Carlos, revelam um carinho especial “pelo Miguel”. Apesar do amor ser dedicado da mesma forma aos nove netos, “com este é diferente, porque está longe e cresceu sozinho, numa idade complicada”, diz o avô.
Hugo Viana é “bom rapaz”, afirma Carlos Rente, que tem como sonho ver o neto jogar ao vivo, num estádio de futebol. Enquanto problemas de saúde o impedem de sair de casa, vai-se limitando a vê-lo na televisão, tal como aconteceu frente ao V. Guimarães: “Senti-me feliz.” Enerva-se facilmente e, por isso, evita ouvir a voz do jovem ao telefone, porque já sabe que a seguir vai chorar.
A avó, por seu lado, fala carinhosamente dos primeiros anos de vida do neto, agora no Sporting. Nunca esperou que tão cedo se revelasse uma esperança do clube verde e branco, mas recorda que “já muito pequeno mostrava paixão pela bola”.
Os avós só conseguem ver virtudes em Hugo Viana. Concordam com a neta Maria João, quando esta diz que o primo é ”carinhoso, amigo, sincero e educado”, mas já não dão grandes palpites, quando é apelidado de ”vaidoso”, porque se preocupa com a imagem.
A prima recorda, com um sorriso, as idas ao cinema, um dos “hobbies” preferidos do jogador e os fins-de-semana em que saíam juntos para o “Vaticano”, a única discoteca de Barcelos e é aqui que revela: “O Miguel gosta de olhar para mulheres bonitas e atrai-as muito.”
A roupa é uma perdição do sportinguista, mas, curiosamente, a primeira vez que vestiu um fato foi há relativamente pouco tempo, quando a selecção de sub-16 foi recebida por Jorge Sampaio, depois de ter sido campeã da Europa.
Para já, os avós, os tios, primos, mas, especialmente, a mãe desejam-lhe sorte e aguardam as férias. A única altura em que a família volta a estar reunida.
O tio que acompanhou a carreira
“É como um filho”, diz, visivelmente emocionado Carlos Rente, o tio que acompanhou o crescimento e toda a carreira de Hugo Viana e que esteve em Alvalade, no dia em que o jovem assinou contrato de profissional.
A ligação de Hugo Viana à família é muito forte, sobretudo a Carlos Rente, a quem o jovem dedica especial carinho e atenção. Quando era criança, o jogador leonino não dispensava a paragem obrigatória, todos os dias, nas primeiras horas da manhã, na casa deste tio, irmão da mãe.
Era ali que tinha que tomar o pequeno-almoço e Maria Filomena, a mãe, que o levava para escola, antes de ir trabalhar, já sabia o que lhe estava destinado.
“É o orgulho de todos os tios”, revela Carlos Rente, que lhe quer “dar os melhores conselhos possíveis”, principalmente que “nunca deixe ficar mal a familia, que o adora e é muito unida.”
A união entre os dois é muito forte e evidente quando se começa a falar dos últimos anos, principalmente a partir do dia em que o jovem partiu para Lisboa. Hugo Viana consulta sempre o tio e não dá um passo sem saber a sua opinião. “Em média falamos quatro vezes ao dia. Mas, às vezes telefono-lhe mais”, afirmou Carlos Rente.
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