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19:15

05 outubro

Sp. Braga

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Iordanov: «Hoje sou feliz»

IVAYLO Stoimenov Iordanov, quase 32 anos (22-4-68), natural de Samakov, na Bulgária, casado, pai de uma menina de cinco anos, de nome Maria. Profissional de futebol, 49 vezes internacional A pelo seu país, joga desde 1991 no Sporting, clube ao qual se afeiçoou a ponto de revelar uma “verdadeira paixão”. Iordanov não é “mais um estrangeiro” no futebol português, mas uma referência do Sporting, onde assume responsabilidades de capitão de equipa. Os infortúnios que lhe têm batido à porta revelaram um carácter determinado, que o torna no “ai Jesus” da “afición” verde e branca. Dentro das quatro linhas, jogando muito ou pouco tempo, entrega-se de forma insuperável e pode ser visto, com igual disponibilidade, a actuar como defesa-central, trinco ou líbero. “Se tenho só dez minutos para actuar, que vou fazer? Dar tudo o que tenho para ajudar a equipa, é claro”, diz o jogador búlgaro com simplicidade e convicção.

Atingido por uma esclerose múltipla em 1997, Ivaylo Iordanov esteve à beira de abandonar o futebol. Sofreu, chorou, mas lutou, qual leão indomável e acabou por dar a volta por cima. Aprendeu, também, a viver o presente, com uma alegria e sofreguidão comoventes. “Hoje sou feliz, não sei o que vou fazer amanhã, ou daqui a dez anos...”, diz Iordanov que revela ter aprendido a viver com a doença crónica que o afecta. Mas, de todo o discurso do capitão do Sporting, mesmo quando recorda os momentos mais dramáticos por que passou, resulta uma ideia forte: “Não quero que tenham pena de mim. Só quero continuar a jogar enquanto puder e nunca por outras razões”, afirma com o orgulho de quem foi obrigado a aventurar-se numa viagem ao Inferno e não só sobreviveu como saiu com o espírito mais forte...

- Sente-se em condições de continuar a jogar no Sporting?

- Hoje, dia em que estou a dar esta entrevista, sinto que tenho condições para continuar a jogar. No mais, devo apenas referir que tenho confiança na Direcção do Sporting.

- O dinheiro, a mais ou a menos, não será obstáculo a uma renovação?

- Provavelmente tenho uma mentalidade antiquada e entendo que o dinheiro não é tudo na vida. Não sou hipócrita, nem daqueles que dizem que o dinheiro não é importante. Mas nunca andei atrás dele. Dei sempre o máximo, quer no Sporting quer na selecção e não o fiz pelo dinheiro. Aliás, já tive propostas para sair do Sporting em condições financeiras mais vantajosas e não as aceitei.

- O Sporting tem feito passar a mensagem segundo a qual, como jogador ou no desempenho de outras funções, haverá sempre lugar para si no clube...

- O nosso presidente já disse que ainda não é esta a melhor altura para falar dessas matérias. Por mim, estou à vontade e tenho confiança nas pessoas.

O SPORTING E A DOENÇA

- O seu futuro, tal como o deseja, passa sempre pelo Sporting?

- Sinceramente gostava. Foi em Portugal que formei a minha família, a minha filha nasceu cá e sempre fui tratado, pelo Sporting, como um filho, tanto no acidente como depois na doença. A minha vida é aqui e devo tudo ao Sporting; também dei alguma coisa ao clube, mas o Sporting deu-me tudo. O que consegui, mesmo a nível da selecção búlgara onde estive em dois Mundiais e um Europeu, fi-lo como jogador do Sporting.

- Sente-se completamente integrado na sociedade portuguesa?

- Eu e a minha família estamos aqui como se fôssemos portugueses.

- A sua filha já está na escola?

- Sim, frequenta um colégio...

- E fala português perfeitamente?

- Com mais correcção do que eu. Sei mais palavras, mas ela aplica-as melhor. Também a minha mulher fala perfeitamente português.

- Você casou na Bulgária ou já cá em Portugal?

- Vivíamos juntos na Bulgária e ainda mantivemos essa situação em Portugal durante três anos. Casámos cá no dia 16 de Maio de 1994. Nesse mesmo ano nasceu a nossa filha.

- A família foi o seu grande suporte ao longo do calvário por que passou?

- Repare, para um futebolista estrangeiro o apoio da família é fundamental. No meu caso, apesar do carinho dos colegas, dirigentes, médicos e sócios, que me ajudaram bastante, o que recebi da família aguentou-me de pé em muitos momentos complicados. Especialmente da minha mulher, já que quando tudo aconteceu a minha filha ainda não percebia o que se estava a passar...

- Nessa altura teve medo de deixar de jogar?

- Quando tive o acidente de viação em 16 de Julho de 1995 e o dr. Fernando Ferreira me foi buscar à Bulgária de avião, disse-lhe: “Vou voltar a jogar.” Ele viu a minha vontade, viu que eu já conseguia mexer a perna e, apesar de haver uma previsão de só voltar aos relvados no ano novo, incentivou-me e acabai por regressar no dia 14 de Dezembro, contra o Felgueiras, jogo em que vencemos por 4-0.

- E no momento em que se declarou a sua doença?

- Aí foi mais complicado, porque eu não sabia nada daquela doença. Quando o doutor me comunicou que eu sofria de uma doença grave e que podia acabar para o futebol, o que lhe disse foi: mais cedo ou mais tarde vou acabar, não posso jogar até aos 50 ou 60 anos (o tempo do Stanley Matheews já acabou) e se tenho de deixar de jogar aos 28 anos, assim seja. Se continuar a jogar, melhor... Mas deixei claro o meu grande desejo de poder ir ao Mundial de 1998. Afinal, 1998 foi mesmo o meu melhor ano no Sporting.

SEMANA DE DÚVIDAS

- Onde é que foi buscar forças para, apesar da gravidade da doença, continuar a lutar e a jogar futebol? É religioso?

- Sou, acredito em Deus. Mas tive o apoio da família que foi fundamental. Não desejo a ninguém o que passei naqueles dias de incerteza, em que não se sabia exactamente o que tinha de mal. Durante uma semana pensei que ia morrer. Foi uma semana terrível, de angústia. Depois o doutor chamou-me, disse-me que já não corria risco de vida e a partir daí o meu único pensamento virou-se para voltar a jogar. O papel da minha mulher nesses dias foi decisivo. Deu-me sempre força e só me dizia: “Tu vais voltar a jogar, vais voltar a jogar.” Da Bulgária também me chegaram manifestações de apoio e os sócios do Sporting e os meus colegas foram fantásticos no carinho com que me trataram .

- O apoio dentro da cabina era absoluto?

- Sempre foi fabuloso. Repare, naquela fase era preciso que se criasse à minha volta um ambiente que me animasse e fizesse acreditar na recuperação e até a Imprensa me ajudou bastante.

- Quer revelar como começou o “pesadelo”?

- Estava em estágio para jogar pela Bulgária contra a Rússia e nos treinos comecei a sentir-me esquisito.

- Esquisito como?

- Ainda durante o estágio sentia que a minha perna não era minha. E avisei Bonev, o treinador. Ele mandou-me treinar devagar e fazer massagens porque precisava muito de mim naquele jogo decisivo para o apuramento do Mundial de França. Quando chegámos à palestra, o meu nome estava na equipa e eu disse-lhe que não estava em condições. Senti e disse, porque não podia estar a arriscar e prejudicar o meu país. Eu era o cinco, saí e entrou o número treze. Foi a primeira vez que uma selecção búlgara não actuou, na fase de apuramento, de um a onze...

- O que fez a seguir?

- Liguei imediatamente para o dr. Fernando Ferreira a dar-lhe conta do sucedido. Regressei (a Bulgária tinha ganho por 1-0) e devia jogar a seguir em Guimarães. Mas já não fui e iniciei uma série de testes para descobrir o que me afectava. Fiz todos os exames que se possa imaginar e toda a gente pensava que eu tinha algum problema na coluna, derivado do acidente de viação de 1995. Infelizmente não foi a coluna, que seria operável.

- Continua periodicamente a fazer exames?

- Sim, de ano a ano e agora sinto-me bem. Mas gostava de revelar uma coisa, a propósito da minha forma de encarar a vida. Quando tive o acidente de viação, pensei: “Nunca mais vou guiar, nunca mais pego num carro. Passo a andar de táxi.” Foi traumatizante. Mas o doutor fez-me ver o contrário e incentivou-me a voltar a guiar, ajudou-me a perder o medo...

FERNANDO FERREIRA

- O dr. Fernando Ferreira é uma pessoa importante na sua vida?

- É. Muito importante mesmo. Mas durante muito tempo não falei do acidente. E fiz mal porque é uma coisa que me afectou e faz parte da minha vida. Com a doença é a mesma coisa. Foi um mal que me bateu à porta, com o qual tenho de viver e que combato o melhor possível. Faço desporto, que é o que mais gosto na vida, e o resto vem da minha paixão pelo futebol.

- Não faz nenhum tratamento especial?

- Não, nada, apenas os exames que referi, para ver se a doença evolui ou está em “stand by”.

- É manifesto que tem vontade de continuar a jogar...

- Hoje sim. Hoje estou com vontade de continuar a jogar e sinto-me em condições. Mas sei que esta é uma doença crónica que pode evoluir de um dia para o outro. Daqui a três meses, um ano, seis meses, ninguém sabe, pode piorar...

- E consegue viver bem com essa incerteza?

- Sim. Estou preparado para deixar de jogar. A cada momento. Mas a minha vontade é continuar até poder...

- Tem muita força interior?

- Tenho e sei que é preciso andar para a frente. Que é que vou fazer? Chorar? Não digo que já não tenha chorado. Também chorei, mas ninguém viu, nem ninguém vai ver.

- Qual foi a importância da sua mulher ao longo de todo este processo verdadeiramente dramático?

- Fundamental. Espero que ela não venha a pagar mais tarde a factura porque a verdade é que a minha mulher não mostrou, nem depois do acidente, nem durante a doença, nem por um segundo que não acreditava que eu voltaria a jogar. E as pessoas devem perceber a importância que teve para mim receber um apoio deste tamanho, vindo de quem vinha. Dizia-me muitas vezes: “Tu vais voltar.” E cada vez que me começava a ir abaixo, era ela que me apoiava e ajudava a erguer. Foi extraordinária.

- É feliz?

- No aspecto familiar sou muito feliz. A vida deu-me uma família de que gosto muito e com o que tenho hoje sou feliz. Não sei o que vou ser amanhã ou daqui a 10 anos. Hoje estou feliz.

- Na Bulgária, apesar da doença, continuou a ser seleccionado...

- Sabe, eu não sou conflituoso, não gosto de armar confusões; respeito as pessoas. Por isso, quer na selecção quer com a Imprensa do meu país, tenho tido as melhores relações.

POLIVALENTE

- Ponta-de-lança, trinco, defesa-central, de onde lhe vem essa disponibilidade para ser “pau para toda a obra”?

- E talvez um dia ainda jogue a guarda-redes... Quando cheguei ao Sporting era avançado e tinha sido o melhor goleador da Bulgária. Acontece que na selecção formou-se, no ataque, um trio-maravilha composto por Kostadinov, Penev e Stoitchkov e eu deixei de ter hipótese de jogar na frente. O seleccionador começou a recuar-me, a recuar-me, até defesa-central. No Mundial de 94 joguei a central e a trinco, e no apuramento para o Mundial de França actuei sempre a central.

- Na nona época em Alvalade, que balanço faz do Sporting?

- Sinto uma grande frustração por não termos conseguido ganhar o campeonato. Desde que cheguei sempre acreditei que era possível ser campeão e hoje tenho a certeza de que o Sporting está à beira de conquistar o título. E mais: quando o Sporting começar a ganhar, nunca vai parar. Já metemos respeito a toda a gente. Na época passada, por erros nossos e erros dos árbitros, não conseguimos chegar ao título, apesar de praticarmos um excelente futebol. Este ano a equipa tem mais soluções e mostra-se forte e competitiva.

- Mas a equipa de Bobby Robson e Carlos Queiroz, em 1993-94, não era melhor que esta?

- Tínhamos, de facto, grandes jogadores e perdemos o campeonato num dia apenas, o dos 6-3 com o Benfica. Diz-se que é o Natal que “acaba” connosco, mas isso é uma brincadeira. Naquele ano perdemos o campeonato já quase no fim da época, nesse jogo.

- O Sporting tem sido um clube difícil para os treinadores?

- Há uma responsabilização grande e quando a equipa não ganha a culpa é do treinador. Mas esse não é um problema exclusivo do Sporting.

- Mas já tiveram anos de cinco treinadores...

- Foi só uma vez, com o Cantatore, o Carlos Manuel ...

- É uma “confusão” para os jogadores?

- É um bocado. Trabalha-se com um que tem determinados métodos, quando estamos habituados aparece outro e muda tudo e as coisas complicam-se. Mas temos de estar preparados para respeitar as decisões da Direcção e trabalhar sempre o melhor possível.

LUTA PELO TÍTULO

- Vê neste Sporting um espírito ganhador?

- O pensamento da nossa equipa é de ganhar todos os jogos, um a um e não estar já a pensar em quem vamos defrontar daqui a um mês ou dois.

- Mas qual é o “feeling” quando entram em campo?

- Quando subimos ao relvado vamos dispostos a dar tudo, até comer a relva, com os olhos postos na vitória. É impossível ganhar sempre, não há equipa nenhuma no Mundo que vença sempre, mas temos uma força interior que nos ajuda, quando as coisas não começam a correr bem, a virar os jogos.

- Quer dar exemplos?

- Em Setúbal, ao intervalo, no balneário, falámos uns com os outros e todos diziam: “Vamos ganhar, vamos dar a volta ao jogo.” Na segunda parte a vontade que tínhamos e a forma como nos apoiámos e ajudámos levou-nos à vitória.

- E nesta mística, onde se situa o capitão do Sporting?

- Não gosto de falar de mim. Apenas digo que faço o meu melhor e quero ganhar. Quero ganhar o campeonato. A minha cabeça está virada para a vitória no campeonato.

- É uma obsessão...

- Vou confessar uma coisa. Quando cheguei, não sabia quase nada do futebol português e conhecia mal o Sporting. Mas a pouco e pouco, e isto é uma coisa que, sinceramente, não sou capaz de explicar, começou a crescer em mim uma paixão pelo Sporting.

- Mas essa paixão vai para além do profissionalismo?

- Tenho e quem me conhece sabe que nunca minto. O Sporting, para mim, é tudo.

- Não lhe passa pela cabeça jogar noutro clube?

- Não. Se no fim da época o Sporting não quiser renovar comigo e me surgirem propostas de outros lados, não as aceitarei. Vou acabar a carreira no Sporting. Seja quando for, agora, para o ano, daqui a dois anos, acabarei a carreira no Sporting. E não há quem seja capaz de me tirar isto da cabeça. Confesso também que não quero deixar de jogar sem ser campeão pelo Sporting.

- Há também muito de gratidão ao clube, nessa sua decisão, pela forma como foi tratado nos momentos maus?

- Sim. Mas o apoio não foi só a mim, mas também, por reflexo, à minha família.

- No dia em que deixar de jogar, que tipo de ligação gostaria de manter com o Sporting? Treinador, relações públicas, embaixador do clube, olheiro? - Sinceramente ainda não sei. Quando chegar a altura logo se vê. Os responsáveis pelo clube têm uma palavra decisiva a dizer e eu, que sou por natureza confiante, confio neles.

- Tem uma boa relação com José Roquette e Luís Duque?

- Espectacular.

- Sente que o Sporting está diferente, mais organizado?

- O clube está a crescer, sente-se uma dinâmica extraordinária...

- Como é que os jogadores vêem a adesão cada vez maior dos sócios no apoio à equipa?

- Não me surpreende. O Sporting tem a melhor massa associativa do Mundo. O clube não ganha o campeonato há 18 anos, mas os sócios nunca faltaram com o apoio. Nos outros rivais, quando não se ganha os estádios ficam vazios. Os nossos adeptos estão sempre presentes. E se assobiam porque não jogamos bem, devem ter presente que ninguém fica mais chateado por perder ou empatar que nós. Custa-nos mais que a qualquer outra pessoa.

- Tem mau perder?

- Tenho, nos jogos, nas peladas dos treinos e até a jogar às cartas com a minha mulher. Não gosto de perder, a nada. É o meu feitio e não o posso mudar.

- Até ao fim do campeonato serão mais 13 finais?

- Sim, mas encaradas com a filosofia jogo a jogo que há pouco referi.

- O Gil Vicente é mais difícil que o FC Porto?

- É, porque é o adversário que se segue.

AINDA SIMÕES DE ALMEIDA

Depois de se ter declarado a esclerose múltipla de Iordanov, um manto de silêncio caiu sobre a situação clínica do jogador. O Sporting limitava-se a dá-lo indisponível e da parte dos “media” houve, também, uma compreensão alargada sobre a situação, ajudando a uma tranquilidade que o próprio jogador reconhece ter sido importante no seu processo de retorno ao futebol. Uma voz, porém, surgiu dissonante a anunciar o fim da carreira do búlgaro. Foi Simões de Almeida, então “big boss” do futebol leonino quem, num núcleo sportinguista nos Estados Unidos, meteu os pés pelas mãos.

- Só Simões de Almeida “desafinou” ao falar da sua doença...

- Não quero voltar a falar muito desse episódio, mas vou revelar uma coisa pela primeira vez: o que ele disse deu-me mais força. Tratei de mostrar que ele estava errado. Aceito que tenha sido um deslize da sua parte, mas aquele era um momento delicado em que devia ter ficado calado. Especialmente porque não estudou para médico. Pode ser doutor mas não é médico e não sabia nada desta doença.

Mais uma coisa. Naquela altura eu estava quase apto para jogar e o treinador disse-me que se soubesse que ia sair aquela notícia tinha-me colocado na equipa logo nessa semana.

- Mas a sua reacção foi a de ficar mais forte psicologicamente, para mostrar que Simões de Almeida estava errado...

- Deu-me mais força. Porque eu sabia que podia voltar a jogar. Da mesma forma como, quando a doença apareceu, também ter sido eu a perceber que não valia a pena insistir.

«ACREDITO NAS COISAS E LUTO POR ELAS»

Não é por acaso que Iordanov protagonizou a extraordinária recuperação que o devolveu aos campos de futebol. O jogador búlgaro move-se com uma fé muito própria, capaz de mover montanhas. É essa a sua maneira de estar também na profissão que escolheu.

- Acredita mesmo que este ano é que é, quanto ao título?

- Se não acreditasse não o dizia. Eu acreditei que ia ao Mundial de 1994. Depois acreditei que ia recuperar do acidente, da doença, que iria ao Mundial de 1998. Eu acredito nas coisas e luto por elas, até à última. E sou mesmo capaz de chegar ao fim da linha e ainda ter vontade de dar mais um passo. É uma força que vem de dentro de mim e me faz acreditar nas coisas.

- Já me disse que era religioso, vai à Igreja com regularidade?

- Eu sou Cristão Ortodoxo e não há templos em Portugal. Só no Natal é que alugam os espaço para as celebrações.

- E nessa altura participa?

- Sim, estou presente.

- Como é que passa os tempos livres?

- Quando não tenho treino de manhã, levo a minha filha à escola; almoço quase sempre com a minha mulher e conversamos bastante. Nos dias de folga passeamos os três e no mais estamos em casa.

IORDANOV E O AMBIENTE NO SPORTING

Frontal, Iordanov não teve dúvidas em afirmar que não gostou de ficar de fora dos 16 na partida da Reboleira. Não o disse, porém, querendo fazer uma crítica ao treinador, com quem tem uma boa relação. “Qual o jogador que não se sente se ficar de fora?”, pergunta o búlgaro, que remete para a solidariedade entre os jogadores uma quota-parte importante do sucesso do Sporting...

- O plantel na presente temporada é vasto e, na Reboleira, o Iordanov ficou fora dos 16. Como se sentiu?

- Ninguém gosta de ficar de fora e eu não fujo à regra. Se dissesse que gostava de ficar de fora estava a mentir. Mas a verdade é que somos 29 jogadores, o treinador escolhe os 11 que jogam e os 5 que ficam no banco e há 13 que nem se equipam. Na minha forma de ver, o Sporting não são os 11 que entram como titulares, mas, sim, os 29 que compõem o plantel. Isso é o espírito de equipa. Quem ganha e perde são todos os jogadores. E só com esta filosofia é possível construir uma equipa a sério.

- O balneário é bom?

- É muito forte.

- E não vai abanar com os jogadores que vieram de novo, a que se juntam os “regressados”?

- Não. Os “novos” já estão integrados. Os outros, que estiveram em competições com as selecções, fizeram desde sempre parte da equipa. Por isso penso que não haverá problemas.

O QUE É A ESCLEROSE MÚLTIPLA, SEGUNDO FERNANDO FERREIRA

Ivaylo Iordanov, atacante internacional búlgaro do Sporting, padece, desde 1997, de esclerose múltipla, uma doença rara, ainda para mais num atleta de alta competição, habituado ao esforço físico diário.

Segundo as palavras proferidas pelo responsável do departamento médico do Sporting, Fernando Ferreira, aquando da divulgação da enfermidade de Iordanov, a 30 de Outubro de 1997, "a esclerose múltipla é uma doença degenerativa do sistema nervoso central e manifesta-se com alterações neurológicas a nível periférico, inicialmente nos membros".

Há dois anos e meio, Fernando Ferreira afirmou que a medicina ainda revelava "muito desconhecimento, nomeadamente na sua etiologia", acrescentando que "não existe nenhuma terapêutica curativa e, mesmo em relação ao prognóstico, pode assumir diversas variantes desde uma forma mais grave até formas benignas".

Convidado a acrescentar mais pormenores e a revelar os sintomas da esclerose múltipla, Fernando Ferreira divulgou, na conferência de Imprensa especialmente promovida para o efeito, que "há doentes que têm o primeiro sintoma e este é irreversível, com um agravamento progressivo em poucos meses", o que, manifestamente, não terá acontecido com Iordanov nos últimos dois anos. "Contudo", prosseguiu Fernando Ferreira no seu esclarecimento, "há uma percentagem larga de pessoas e essa é a grande maioria, cuja doença evolui por surtos e com intervalos muito espaçados. Há indivíduos que têm um surto e só quinze anos depois voltam a ter novo episódio de manifestação neurológica, o que lhes permite fazer uma vida normal e não morrerem por isso. Quanto mais espaçados forem os surtos de aparecimento de sintomas e quanto mais se converterem totalmente quando aparecerem, como no caso de Iordanov, melhor prognóstico têm. O Iordanov tem, neste momento, todos os sinais de bom prognóstico".

JOSÉ MANUEL DELGADO

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