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20:15

22 setembro

Moreirense

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João Pinto: «Reconquistei no Sporting a alegria de jogar à bola»

Dezasseis meses depois de ter entrado em Alvalade, João Pinto abre o livro e surpreende pela forma como assume algumas das sensações vividas nos últimos dois anos e meio passados do outro lado da segunda circular. No Sporting criou uma relação apaixonada com os adeptos; encontrou um balneário de amigos; recuperou o respeito e o prazer de ser futebolista. Definitivamente, o pequeno génio tem boas razões para voltar a sorrir

João Pinto: «Reconquistei no Sporting a alegria de jogar à bola»
João Pinto: «Reconquistei no Sporting a alegria de jogar à bola» • Foto: Miguel Barreira

A EXPRESSÃO do rosto não engana e confirma o que, afinal, já era mais que uma suspeita: reencontrou a felicidade e a paixão por esse jogo mágico que lhe apressou a infância e o fez homem mais cedo que aos outros meninos. João Manuel Vieira Pinto, um dos mais excepcionais jogadores da geração de ouro, recuperou o sorriso com um simples atravessar de rua: passou apenas de um lado para o outro da segunda circular mas o efeito foi tão drástico que mais parece ter mudado de planeta.

Dezasseis meses depois de ter entrado em Alvalade em apoteose, recebido de braços abertos pela família leonina, João Pinto faz a Record o primeiro grande balanço da etapa sportinguista da sua carreira. Ao longo de longa entrevista deixa claro que tem orgulho no seu passado e fala dos últimos dois anos e meio ao serviço do Benfica; da falta de respeito de Vale e Azevedo; das sensações que experimentou na altura em que partiu desempregado para o Euro-2000; do Sporting; da selecção e do Mundial do próximo ano. E fala de si próprio, assumindo confissões absolutamente surpreendentes.

– Recuemos cerca de um ano, 16 meses para ser mais exacto, para situar o momento em que a nova etapa teve início: o que lhe passou pela cabeça na altura?

– Não é fácil traduzir tudo em palavras. Estava em vésperas de partir para o Europeu e antes de ir para o estágio em Chaves fiquei ao corrente do que se estava a passar. Passei uma semana complicada, sem ninguém saber, e só depois do jogo com o País de Gales comecei a dar os passos necessários à resolução do caso.

– Foi uma surpresa para si a opção tomada pelo Benfica?

– Foi e não foi. Por um lado já tinha percebido que o presidente me queria ver pelas costas, deixando claro que isso podia acontecer a qualquer momento; por outro não achava possível que avançasse sem me ouvir primeiro. Há diferenças entre uma intenção e a falta de respeito de quase me porem a mala à porta. Isso não esperava, até porque não o merecia, em função do que dei ao clube. Orgulho-me do meu passado e do que fiz ao serviço de todos os clubes da minha carreira e em nenhum deles fiz algo que justificasse um tratamento daquele tipo.

Futebolista e não político

– Mas os últimos dois anos e meio na Luz já não foram propriamente felizes...

– Isso é verdade. Estive oito anos integrado naquele projecto, sempre de corpo e alma, e prejudiquei-me algumas vezes em termos pessoais. Durante um largo período senti que abordava cada jogo mais preocupado com o que estava a suceder antes e ia acontecer depois de entrar em campo, do que propriamente com o jogo e com os adversários.

– E como suportava essa situação?

– Com muito sofrimento. Adoro jogar futebol, coisa para a qual tenho incomparavelmente mais jeito do que para ter cargos institucionais dentro de um clube. Alguém disse um dia que a minha vocação é a de futebolista e não de político. Subscrevo e digo mais: o meu objectivo foi sempre jogar à bola e não outro.

– Compreende, no entanto, o peso acrescido que assumiu no Benfica, onde passou a ter uma força fora do vulgar num simples jogador?...

– Percebi melhor que nunca quando me vi envolvido nos problemas criados por Vale e Azevedo. Desde que ele assumiu o cargo de presidente do Benfica a minha vida nunca mais foi a mesma.

Moços de recados

– Que perspectiva tinha para o final da história, partindo do princípio que o conflito era insanável?

– Não fazia a menor ideia. Era óbvio, porém, que num caso assim a corda teria de partir pelo lado mais fraco. E esse era eu, naturalmente.

– Essa luta reduziu-se apenas ao que foi tornado público ou teve outros envolvimentos?

– Teve outros envolvimentos, com episódios quase diários. A partir de determinada altura senti-me perseguido e vítima de muitas tropelias. Nunca percebi por que razão isso aconteceu, mas dei várias vezes comigo a pensar que não me sentia bem e não dispunha de condições para ali continuar. Pior ainda, e a minha família é testemunha de que essa foi uma opção sobre a qual reflecti e que chegou a ser muito concreta: admiti seriamente a possibilidade de abandonar o futebol.

– As quezílias com Souness e Heynckes também não ajudaram...

– Souness teve conflitos com todo o plantel... Isso foi o menos importante.

– Não se esqueça de que a explicação para a sua dispensa teve o suporte técnico de Jupp Heynckes...

– Nunca tive problemas com treinadores. E esses dois de que falou também não os causaram. A origem dos desaguisados e de todos esses pareceres técnicos foi a mesma: Vale e Azevedo. Os técnicos, neste caso, foram mensageiros, desempenhando uma tarefa mais próxima de moços de recados do que propriamente de treinadores de futebol.

O Euro-2000

– A verdade é que chegou do estágio em Chaves e foi para a fase final do Europeu sem clube. Qual era o seu estado de espírito? Mais magoado ou mais preocupado?

– Estava mais magoado, porque a preocupação era relativa, sobretudo quando se tem uma pessoa como José Veiga a tratar dos assuntos. Por outro lado, cedo percebi que iria ter um problema de escolha, pois mal foi conhecida a minha situação foram vários os clubes que entraram em contacto.

– Quem chegou primeiro?

– O Sporting e o Newcastle.

– O Europeu foi então mais agitado do que pareceu...

– As propostas foram chovendo, o que tornou esse período mais desgastante, sobretudo em termos emocionais. Passei horas ao telefone, tentando saber em que pé estavam as negociações. Estou muito agradecido ao José Veiga por tudo quanto fez por mim. Como se não bastasse tudo isso, ainda fez várias viagens à Holanda só para falar pessoalmente comigo.

Sporting à frente

– Mesmo no meio de toda essa confusão, uma carreira por decidir, um grande palco para pisar, deve ter recebido propostas que excluiu quase à partida...

– Sim, algumas não me interessavam minimamente.

– A sua preferência foi sempre o Sporting?

– A minha inclinação pelo Sporting aconteceu muito cedo. Mas como profissional não podia fechar as outras portas. Dei conta disso ao presidente da SAD na altura, Luís Duque, que aceitou o meu ponto de vista, embora também tenha percebido, mesmo seu eu lho dizer, que era preciso uma grande reviravolta no processo para que não acabasse em Alvalade. Insisto, passados todos estes meses, que Luís Duque foi fundamental para a minha contratação pelo Sporting.

Ilusão e receio

– Quando aceitou, formalmente, a proposta sportinguista, que tipo de raciocínios fez, qual era o seu estado de espírito?

– Era um misto de ilusão, desejava iniciar uma etapa mais feliz da minha carreira, e de receio, não sabia como reagiriam as pessoas à contratação de alguém que tinha representado durante tantos anos o grande rival. Muita gente me dizia que o Sporting não era um clube fácil e eu tinha noção de que a dispensa do Benfica me fragilizava no caso de qualquer conflito.

– O primeiro dia em Alvalade respondeu a essas dúvidas...

– Sem dúvida. Fui recebido de braços abertos e tratado principescamente desde o primeiro minuto que passei em Alvalade. Essa é a minha grande felicidade ainda hoje: a forma como as pessoas me tratam. Estou-lhes muito agradecido. É daquelas coisas que nunca mais esquecerei.

A grande preocupação

– Posso então concluir que a recepção da família leonina constituiu uma agradável surpresa...

– O mínimo que poderei dizer é que excedeu largamente as minhas perspectivas mais optimistas. Já que estamos em maré de confissões, digo-lhe que o meu receio maior, aquele que na hora de medir os prós e os contras de cada proposta me fazia pensar que o melhor seria não escolher o Sporting, era o pavor que tinha de poder dividir os adeptos.

– Falámos durante o Europeu do ano passado e já nessa altura disse o mesmo. Não se referiu concretamente ao Sporting, mas

deixou-o implícito...

– A mera hipótese de ser um factor de divisão entre os adeptos era a única razão capaz de me afastar do Sporting, apesar das garantias de que tudo iria correr pelo melhor. Fazendo o balanço concluo o seguinte: tenho dado o máximo de mim próprio, creio estar a fazer um bom trabalho e já me convenci de que as pessoas, na esmagadora maioria, gostam de mim.

Um grupo de amigos

– A facilidade com que se adaptou ao Sporting é um caso absolutamente excepcional...

– Acho que sim, a empatia criada entre nós foi rápida e sólida. Sinto-me muito bem no clube e há um factor que marca a diferença em relação aos meus últimos anos na Luz: dá-me gozo ir para Alvalade. O Sporting deu-me a tranquilidade para fazer o que mais gosto, sentindo-me respeitado como julgo merecer. O acolhimento foi extraordinário, desde o presidente ao mais humilde dos funcionários.

– Confirma a ideia exterior de que o balneário é excelente?

– Aquele balneário é composto por um grupo de amigos que reparte a felicidade das vitórias e a tristeza das derrotas. E não é por acaso que de cada vez que um jogador do Sporting dá uma entrevista fala do espectacular ambiente da cabina.

– Foi o melhor grupo que encontrou na sua carreira?

– Não estou a dizer que os outros não eram bons, nem podia, porque estaria a mentir. Limito-me a dizer que este balneário é fabuloso, à semelhança do que sucede na selecção, por exemplo.

Estar vivo

– Que balanço faz da época passada?

– Não é um balanço positivo, porque só ganhámos a Supertaça.

– Pergunto em termos individuais...

– Isso não tem importância. O futebol só faz sentido se for concebido em termos colectivos.

– Mas já concluímos que foi uma época importante para si...

– Concordo, claro que sim. A minha pequena vitória nesta história foi ter mostrado que estava vivo e que o prazer de jogar permanecia intacto. E embora fique doente de cada vez que não ganho, o respeito que marcou a minha relação com o clube foi um triunfo muito importante. Não entra no currículo, mas fica para sempre na memória.

– Confesso-lhe uma coisa: não pensava que as marcas provocadas pela saída da Luz tivessem sido tão profundas...

– Já lhe disse: cheguei a pensar em abandonar. O futebol pelo qual me apaixonei desde miúdo não era aquele e quando tentava reencontrá-lo pura e simplesmente não me deixavam. Quando cheguei ao Sporting tinha perdido o prazer de jogar e mesmo sentindo o suporte de uma carreira da qual me orgulho iniciei a época com um objectivo muito concreto: mostrar a toda a gente, incluindo a mim próprio, veja bem, que era capaz de voltar a ser o mesmo João Pinto de outros tempos.

– Acha que o conseguiu?

– Acho que sim. No Sporting reconquistei a alegria de jogar à bola e o respeito de todo um clube, algo que no Benfica perdi gradualmente em dois anos e meio. Não o respeito do adepto comum, mas dos outros, os que mandavam.

«O futebol sem a selecção não teria sentido para mim»

Bem presente na memória ainda está a qualificação de Portugal para o Mundial de 2002, a disputar na Coreia e no Japão. Justo prémio para uma notável geração, na qual João Pinto ocupa lugar de destaque, único bicampeão mundial de sub-20 da história e um dos mais excepcionais jogadores que o futebol português algum dia conheceu:

– A selecção é o "clube" que represento há mais tempo. Visto a camisola de Portugal há perto de 15 anos e habituei-me a encarar cada convocatória como se fosse a primeira. A selecção é uma casa para mim, onde tenho muitos amigos, conheço toda a gente e sempre fui muito acarinhado. Posso mesmo dizer-lhe que o futebol sem a selecção não teria sentido para mim.

– Essa relação apaixonada passa por várias fases e o seu caso não foge à regra. A selecção já foi meta, mas também já foi refúgio...

– Meta é sempre, refúgio já foi, sim senhor, naqueles períodos mais complicados da minha vida profissional. As coisas corriam mal no clube, chegava aqui e transformava-me por completo. Foi um oásis no deserto, o lugar onde encontrava o conforto que me faltava no dia-a-dia.

– Que importância tem para si a presença no Mundial?

– Tem a importância de atingir aos 30 anos um objectivo pelo qual lutei durante toda a minha carreira. Já estive em dois Europeus mas o Mundial é outra coisa, é maior, tem mais projecção e impacto. Isto é uma prova por etapas, nós só conseguimos ganhar a primeira, que é lá estar.

– E depois de lá estar?

– Depois de lá estar assumiremos as nossas responsabilidades, com a noção de que teremos de recorrer à mesma dedicação e ao mesmo orgulho de representar Portugal. Tendo como objectivo marcar as nossas carreiras, para além de fazer respeitar o nosso futebol e, por que não (?), o nosso País.

– Tem opinião formada sobre o que aconteceu a este excepcional grupo de jogadores para só agora atingir o grande palco?

– No início éramos uma equipa sem sorte e foi o azar que explicou a ausência no Mundial de 1994, mesmo considerando que estávamos ainda no começo. Em 1998 já custou muito. Cometemos muitos erros mas ficámos de fora por um ponto. Há um jogo que recordo normalmente nestas alturas, em Kiev, na Ucrânia. Ficámos em desvantagem muito cedo, atacámos sem parar, empatámos, ninguém festejou o golo e fomos buscar a bola ao fundo da baliza, prova de que nem o empate nos deixaria felizes. No último minuto os ucranianos acabaram por ganhar. Nunca me conformei com essa derrota.

– Esse foi o período mais difícil que viveu na selecção?

– Sem dúvida que foi doloroso. Havia uma divisão clara entre Norte e Sul, os adeptos andavam divorciados de nós e tratavam-nos com indiferença, quando não com hostilidade.

– Que papel cabe ao João Pinto nesta geração, no balanço da opção de ter ficado em Portugal, enquanto muitos outros companheiros brilham por essa Europa fora?

– O meu papel é o de alguém que jogou 73 vezes pela selecção nacional A e mais de cem em todos os escalões. Quanto ao facto de ter ficado em Portugal e de outros terem saído encaro--o naturalmente. Não tenho ciúme, nem inveja do que os outros conseguem lá fora. Pelo contrário, estou sempre interessado em saber o que fizeram, se jogaram bem, se marcaram golos... A maior força desta selecção, mais que o talento, é a amizade que nos une.

– Talento e amizade podem ser suficientes para fazer de Portugal campeão do Mundo?

– Para ser campeão do Mundo há um factor determinante: estar lá. E nós estaremos. O resto ver-se-á na altura.

«Sempre me defini como jogador de equipa»

João Pinto não tem boa relação com os números e desconhece a maior parte dos dados estatísticos relacionados com a sua carreira. E fica muitas vezes admirado quando lhe põem à frente balanços numéricos do que fez:

– Não ligo a essas coisas. Sei o essencial, aqueles dados mais evidentes, mas não mais que isso. E acontece normalmente ser surpreendido com certos dados, uns mais positivos que outros, como é normal suceder.

– Como se define como jogador?

– Sempre me defini como um jogador de equipa.

– Mas isso é vago para a intenção da minha pergunta: sente-se avançado ou centro-campista; segundo ponta-de-lança ou médio-ofensivo?

– Jogo onde me mandarem. Desde que me façam entender que sou útil à equipa e eu perceba as ideias e aceite como boas as intenções do treinador, é como lhe digo: jogo onde o técnico quiser. Agora, no Sporting, por exemplo, tenho actuado numa posição pouco habitual, numa zona mais lateral. E sinto que estou a ser útil. Essa é a chave: sentirmo-nos úteis. Se tal não acontecer mais vale sair. Ou até nem entrar.

– A sua relação com o golo é estranha...

– Tem fases. Tanto se passam semanas e semanas que não marco, procurando eu o golo a partir de certa altura, como posso fazer golo quando não espero. Não sou como o Jardel, nunca serei e nunca vivi obcecado em fazer golos, mas espero ser um bom complemento ao seu talento de goleador.

– E como vão as suas relações com os árbitros?

– Nem sei o que lhe diga...

– Então porquê?

– Porque continuo a sentir que não sou protegido como a própria FIFA recomenda atendendo à defesa do espectáculo e da integridade física de quem o proporciona.

– Costuma ser muito castigado, lá isso é verdade...

– O que mais me custa são aqueles adversários que passam um jogo inteiro a fazer pequenas faltas – agarram, puxam, empurram, pregam rasteiras – e não são punidos disciplinarmente. Como a paciência tem limites, ao cabo de dez, vinte, trinta faltas, protesto com o árbitro e quem leva o amarelo sou eu. É essa situação e o que eles entendem por simulação de grandes penalidades. A época passada vi dez vezes o cartão amarelo, sete das quais por entenderem que me fiz ao "penalty". Dessas sete, as imagens televisivas confirmaram posteriormente a existência de três ou quatro infracções não punidas. E nas restantes também foi evidente que não tive qualquer intenção de enganar quem quer que fosse. Caí porque tinha mesmo de cair, face ao desequilíbrio em que já ia.

«Agradecido à Juve Leo»

Se a empatia com o Sporting foi imediata e está consolidada, a relação com a Juventude Leonina ocupa um lugar especial no coração de João Pinto:

– Estou grato a todos os adeptos do Sporting, mas ninguém me levará a mal se disser que estou especialmente agradecido à Juve Leo. Acolher um jogador vindo do grande rival, onde tinha estado oito anos, seria suficiente para causar algumas reservas. Compreenderia até alguma frieza na recepção, mas nada disso se passou. O carinho dispensado desde a primeira hora e as sucessivas provas de admiração que deles tenho recebido são a confirmação de que também eles estão satisfeitos e me entendem como reforço, como alguém que veio para ajudar o Sporting a ser ainda maior.

«Niculae é espectacular»

Também o romeno Niculae, companheiro nos caminhos que vão dar às redes contrárias, mereceu rasgado elogio do "pequeno génio":

– Niculae é, acima de tudo o resto, que já não é pouco, um profissional extraordinário. É um grande trabalhador, que encara a equipa sempre acima dos seus interesses individuais, algo que se traduz no seu estilo generoso, a que junta capacidade técnica acima da média. Não sendo um avançado com uma relação tão íntima com o golo como é Jardel, é temível na grande área e espectacular na forma como ajuda os companheiros a desgastar as defesas adversárias. Gosto muito de jogar com ele.

«Jardel é um fenómeno»

A época já estava a decorrer quando o Sporting contratou Mário Jardel. Um reforço indiscutível na perspectiva de João Pinto:

– Jardel é um fenómeno em toda a linha e ainda estou para perceber como pode haver quem não o queira no seu clube ou na sua equipa. A facilidade com que marca golos é surpreendente e ao mesmo tempo impressionante. Só lhe digo uma coisa: ainda bem que o temos do nosso lado, porque é uma arma fantástica no ataque às balizas adversárias. Estou convencido de que nos vai dar muitas alegrias e ajudar em muitas situações. Ter Jardel como parceiro é uma satisfação para qualquer jogador. E eu não fujo à regra.

«Nunca temi uma crise pelas mudanças da época»

Apesar do balanço positivo, João Pinto trabalhou com três treinadores e viu a presidência da SAD mudar de mãos:

– Apesar de toda essa conturbação nunca temi uma crise. Dos três treinadores guardo recordação positiva. Inácio pela força que fez para a minha contratação, pelo modo como me acolheu e facilitou a adaptação; Fernando Mendes por ser um senhor, um grande sportinguista que merece todo o respeito; Manuel Fernandes por ser um homem excepcional e um símbolo do clube. Todos eles unidos pela competência acima de qualquer suspeita e pela forma como souberam, no fundo, preservar o ambiente do balneário e a amizade entre todos nós. Só não tivemos sorte com os resultados.

– E quanto à mudança administrativa, como a viveu?

– Mantive com o dr. Luís Duque uma relação excelente e identifiquei-me logo com o projecto. Nas conversas mantidas foi claro para mim que é uma pessoa séria, com ideias e enorme paixão pelo Sporting. Esse relacionamento próximo com a SAD ajudou toda a equipa a suportar os momentos difíceis e a superar tranquilamente a transição. A solução encontrada foi de continuidade, pois a equipa é basicamente a mesma, ou seja, continuamos a sentir que estamos todos no mesmo barco.

«FC Porto abordou-me durante o Euro-2000»

Muito se falou do eventual interesse azul e branco na contratação de João Pinto, interesse que, no entanto, nunca foi assumido pelos seus dirigentes:

– Confirma que o FC Porto chegou a mexer-se no sentido de o contratar?

– Confirmo que o FC Porto esteve interessado nos meus serviços.

– Na data limite estipulada pelo Sporting para dar sua resposta chegou mesmo a falar-se de uma ofensiva do Norte...

– Aconteceu nessa altura mas também durante o Europeu. Há muitas maneiras de entrar em contacto com alguém pelo telefone... E nem vale a pena estar agora a entrar em pormenores, já lá vai, não interessa...

– Mas houve convite formal?

– Nestes momentos não são precisos contactos ou convites formais para percebermos o fundamental. E o FC Porto fez-me chegar de forma clara a sua intenção. Dizem que não falaram comigo? Eles podem dizer o que entenderem...

«Jorge Costa jamais ofenderia o FC Porto»

A propósito da selecção, João Pinto mostrou-se particularmente incomodado com o momento delicado que um camarada de armas está a viver neste momento:

– Estivemos juntos no último estágio, sei o que está a passar-se e o Jorge merece a minha solidariedade. Conhecemo-nos desde a adolescência, ou seja, há tempo suficiente para percebermos de imediato quando cada um de nós está a sofrer. É bom não esquecer que ele tem tantos anos de FC Porto como eu de Boavista, Benfica e Sporting todos juntos. Não gostaria de ser interpretado como estando a meter-me em problemas de um clube adversário; aceitem estas palavras apenas como a expressão pública do respeito pelo profissional e pelo amigo. E gostaria também de dizer, em função do amor que eu sei que ele tem ao clube, que o Jorge Costa jamais ofenderia o FC Porto.

«Não há registos meus a rir durante um jogo»

Uma declaração curiosíssima:

– O campo de futebol, nos treinos e sobretudo nos jogos, é o único sítio do Mundo em que esqueço todos os problemas. Absorve-me tanto que não consigo pensar em mais nada. Aqui há dias estava a ver um jogo pela televisão e pus-me a pensar quando vi alguns colegas meus a rir e a brincar uns com os outros. Cheguei a uma conclusão: não conheço um único registo meu, um vídeo ou uma foto, a rir durante uma partida. Durante aquele espaço de tempo só tenho olhos para bola, companheiros, adversários e jogo. Não é uma atitude forçada. Talvez seja, por instinto, a minha forma de expressar o respeito solene que tenho pelo espectáculo.

MELHORES MOMENTOS NO SPORTING

Assinatura do contrato

2 de Julho de 2000

"Situo o melhor momento que passei no Sporting no dia em que cheguei a Alvalade, pelo simbolismo da assinatura do contrato e pela forma calorosa como fui recebido pelos adeptos. Não esquecerei a emoção das pessoas e o carinho que me foi dispensado, no início de uma relação intensa que havia de prolongar-se até hoje."

Jogo com o Farense

20 de Agosto de 2000

"O arranque oficial da época tinha sido nas Antas, para a Supertaça, mas essa partida com o Farense representava a estreia do Sporting na I Liga e a primeira apresentação em Alvalade. O clima não me era familiar e apesar de já não ser um garoto mentiria se dissesse que não senti alguma ansiedade. Tudo me correu bem e até marquei o golo da vitória."

Vitória na Supertaça

16 de Maio de 2001

"Perdera as três edições que disputara, o que não sendo muito, muito importante começava a ser um mau hábito. O terceiro jogo, em Coimbra, já me parecia uma injustiça, porque nas duas partidas anteriores o Sporting tinha sido superior, sobretudo nas Antas. A vitória não serviu para apagar a tristeza de termos deixado fugir o título e de não termos ganho a Taça."

PIORES MOMENTOS NO SPORTING

Expulsão em Leverkusen

20 de Setembro de 2000

"Foi o segundo jogo da Liga dos Campeões, logo a seguir ao empate com o Real Madrid,. Fui expulso no final da primeira parte (aos 40'), por acumulação. O primeiro amarelo foi injusto, não toquei no adversário e o segundo foi por agarrar um alemão a meio campo. De nada me serviu a razão, o pior e mais doloroso foi sentir o prejuízo causado à equipa."

Eliminação da Taça

22 de Março de 2001

"Jogámos três vezes nas Antas e fomos sempre infelizes. Para a Supertaça e para o campeonato fizemos duas exibições de luxo e empatámos; para a Taça de Portugal a partida foi muito equilibrada, meteu prolongamento e foi decidida pela inspiração do Capucho. O empate dias antes para a I Liga deixara marcas e entendi a eliminação da Taça como enorme crueldade."

A derrota com o Paços

11 de Maio de 2001

"O que me doeu foi não ter sido campeão nacional a época passada e não este ou aquele momentos de infelicidade. Para ilustrar essa tristeza muito mais abrangente escolho a derrota com o Paços de Ferreira, em Alvalade. A meio da primeira parte não sabíamos o que acontecera primeiro: se a entrada em campo se os três golos sofridos."

MELHORES MOMENTOS NA SELECÇÃO

Títulos mundiais de sub-20

30 de Junho de 1991

"Refiro o título de Lisboa, sem esquecer Riade e a vitória sobre a Nigéria (3 de Março de 1989). Para mim a selecção começou no primeiro dia em que fui chamado, tinha 15 anos. Esses títulos mundiais foram momentos inesquecíveis que marcaram a vida de quem os viveu, independentemente das carreiras que cada um construiu depois."

Epopeia com a Inglaterra

12 de Junho de 2000

"Há uma geração de portugueses que vai recordar este jogo com a Inglaterra no Euro-2000 com a mesma intensidade com que outros se habituaram a falar da vitória sobre a Coreia, em 1966. Foi uma epopeia extraordinária, um jogo no qual colocámos em campo tudo aquilo que aprendemos ao longo de uma vida. Um dos grandes marcos das nossas carreiras."

Arranque para o Mundial

28 de Março de 2001

"O momento é o apuramento para o Mundial e o arranque decisivo foi nas Antas, com a Holanda, quando chegámos ao empate nos últimos 10', depois de estarmos a perder por 0-2. Acrescento, já agora, que não joguei, o que para o caso é pouco relevante. Mais: foi a única vez em 73 internacionalizações, que estive no banco e não entrei."

PIORES MOMENTOS NA SELECÇÃO

Uma equipa sem sorte

17 de Novembro de 1993

"A primeira decepção aconteceu estávamos a chegar. Jogámos a presença no Mundial-94 com a Itália, em S. Siro, e mostrámos que podiam contar connosco, apesar de termos ficado pelo caminho. No jogo anterior recebêramos a Estónia, na Luz. Se ganhássemos por quatro podíamos empatar em Milão. Vencemos por 3-0. Não tenho dúvidas: na altura a selecção era uma equipa sem sorte..."

O fim de um sonho

23 de Junho de 1996

"Já me lembrei muito da derrota com a Rep. Checa, no Euro-96. E isso por representar o fim de um sonho alimentado desde a vitória sobre a Rep. Irlanda (3-0). Hoje também existem boas razões para festejar a qualificação, mas é preciso entender que a alegria só será completa se não regressarmos a casa desiludidos."

Aquela noite em Berlim

6 de Setembro de 1997

"A campanha foi atribulada, cometemos muitos erros, mas chegámos à Alemanha em condições de discutir o apuramento. Aquela noite em Berlim foi das mais tristes que vivi. Vulgarizámos o adversário, marcámos e quando nos preparávamos para garantir a vitória, o Rui (Costa) foi expulso daquela maneira..."

ALGUMAS DATAS MARCANTES

1987

28 de Fevereiro

Representa Portugal pela primeira vez, ao serviço da selecção de sub-16, frente à Espanha, em Loulé (Torneio Internacional

do Algarve)

1989

29 de Janeiro

Estreia na I Divisão, lançado por Raul Águas a quatro minutos do fim do Sp. Braga, 0-Boavista, 2.

3 de Março

Conquista o título mundial de sub-19, em Riade, batendo a Nigéria, na final, por 2-0.

9 de Setembro

Marca o primeiro golo na I Divisão, no Bessa, frente ao União da Madeira.

1991

30 de Junho

Sagra-se bicampeão mundial de juniores, em Lisboa, recebendo o troféu como capitão de equipa – vitória sobre o Brasil, na marcação de grandes penalidades.

12 de Outubro

Estreia na selecção nacional, no Luxemburgo, como suplente utilizado – substituiu Luís Figo.

1992

30 de Agosto

Primeiro jogo para o campeonato com a camisola do Benfica, em Santo Tirso. Vitória por 2-1, com um golo da sua autoria.

1994

25 de Maio

Ao bater o Gil Vicente, em Braga, sela pelo Benfica a conquista do único título nacional conquistado até ao momento.

1995

15 de Outubro

Garante a presença na fase final do Euro-96, contribuindo para a vitória sobre a Rep. Irlanda, na Luz, por 3-0.

2000

20 de Agosto

Na estreia pelo Sporting em Alvalade, primeiro jogo do campeonato, marca o golo da vitória (1-0) sobre o Farense.

2001

5 de Outubro

Abre a contagem da vitória da selecção sobre a Estónia (5-0), que deu a qualificação para o Mundial-2002.

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