Tem 76 anos e vive em Lisboa com a mulher que começou a namorar aos 20...
Chama-se Domingos António Silva mas foi rebatizado Mascarenhas, para o futebol. O nome, dos tempos de seminarista em Luanda, deve-o a outro jogador angolano, mais velho, que passou pela Académica.
Quando Domingos casou com D. Ilda Rosa Martins Guerreiro ambos adotaram os respetivos apelidos. Ela passou a ser Silva. Ele, Guerreiro. E esse, na verdade, é o nome que melhor assenta hoje ao homem que nasceu em Vila Salazar (N’Dalatando), a 28 de abril de 1937, e que naquela tarde de 13 de novembro de 1963 – completam-se hoje 50 anos – ganhou lugar eterno na história do Sporting, ao contribuir com seis golos para o 16-1 ao APOEL, na Taça das Taças, dois recordes que perduram.
Mascarenhas e D. Ilda começaram a namorar tinham 20 anos. Hoje têm 76 e continuam juntos. Ela, uma mulher admirável, na dedicação que lhe dispensa. Ele, um guerreiro que luta pela vida desde que, a 9 de maio de 2008, sofreu um acidente vascular cerebral que o mantém preso a uma cadeira de rodas, dependente de cuidado diário. As dificuldades financeiras do casal têm vindo a aumentar. D. Ilda pede que tomemos nota: “A dra. Joana, da Farmácia do Conde Redondo (e bailarina do Sporting); a dra. Maria do Céu, do Centro Paroquial de S. Jorge de Arroios; o médico João Machado, um grande sportinguista que tem sido extraordinário; e José Eduardo, ex-jogador e proprietário de restaurantes, pelas refeições enviadas”. E assim agradece.
Bruce Lee
D. Ilda recebe-nos em casa, no centro de Lisboa, num dia de semana. Já faz um mês que estabelecemos contacto. Sorri, convida-nos a entrar e encaminha-nos para a sala, onde está Mascarenhas.
Ao lado, no seu quarto, uma moldura de Bruce Lee parece destoar no santuário de memórias, composto pela camisola número 9, oferta de Soares Franco, artigos de jornal, revistas e fotografias. “Admira-o muito. Era levezinho, como ele, e marcava muitos golos de cabeça. Gostava de dizer que era fácil elevar-se, mas que depois demorava eternidades até pousar os pés na relva”, conta a mulher, orgulhosa da elegância do marido. Despentear-lhe a poupa, sempre impecável, era a única forma de o tirar do sério. “Ele era muito vaidoso. Saía do treino e ia fazer ginásio. A Brito & Brito, dos melhores costureiros de Lisboa, procurava-o quando chegavam tecidos novos. Era um galã. E quando veio para Lisboa, aos 18 anos, já vestia fato e gravata!”
Festa com Osvaldo
A viagem de Angola para Portugal foi feita de barco. Só mais tarde, já no Sporting, entrou pela primeira vez num avião. Ia medroso, mas não mostrava. Distraía-se a fazer barcos e aviões de papel para a criança que ia no banco da frente.
Aos 18 anos, o destino era o Benfica. Quando chegou, já trazia o contrato assinado, mas nunca foi feliz. Não tardou em sair para o Barreirense. E, a 12 de março de 1961, defronta um Sporting, a precisar de vencer para ser campeão. No Campo D. Manuel de Melo, a equipa da casa ganha 3-1 e Mascarenhas faz 2 golos (o 1-0 e o 3-1 final). “Chorou porque era o clube que amava.”
Na época seguinte desceu à 2.ª Divisão, onde veio a ser o melhor marcador da Península Ibérica. E em 1962 comprometeu-se, finalmente, com o Sporting. No mesmo dia de Osvaldo Silva. Foram juntos festejar.
A visita de Mavroudis
No 16-1, Osvaldo Silva não jogou, porque a UEFA não aceitou uma troca nos inscritos. Foi a noite de glória de Mascarenhas, capitão de equipa e autor de seis golos, um deles “de cabeça, inesquecível”. Anos mais tarde, o guarda-redes batido nesse jogo, Mavroudis, quis reencontrar-se com ele, aquando de uma deslocação do APOEL a Portugal.
Quando penduraram as botas, os dois ficaram ligados ao futebol. Mascarenhas foi relações públicas do Sporting mais de 20 anos, até ao dia em que sofreu o AVC. Mavroudis acompanhava o APOEL nas viagens nas competições europeias. “Veio do Porto a Lisboa de propósito para falarem e recordar esse jogo.”
Esquecido nas Caldas
A vitória do Sporting na Taça das Taças, em 1963, “foi tirada a ferros”. A conquista do troféu trouxe prestígio e dinheiro. O ordenado mínimo era de 1.200 escudos (6 euros). Mascarenhas ganhava 4 contos (20 euros) e os prémios eram generosos. Com a recompensa pelo título europeu, a maioria dos jogadores comprou um andar. Mascarenhas preferiu conhecer o Brasil, Angola e Paris.
“Não era de falar muito, mas quando o fazia punha toda a gente a rir”, conta D. Ilda. “Um dia, o Sporting estava a voltar do Porto de camioneta, e esqueceram-se dele nas Caldas da Rainha. Aperceberam-se à entrada de Lisboa, voltaram para trás e encontraram-no sereno e calmo, a dizer que já tinha tudo tratado para pernoitar lá. Só não era descontraído a treinar. Aí, subia a bancada com o Osvaldo às costas.”
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