Presidente do V. Guimarães abordou as saídas de Pepa e Moreno e fez a defesa da centralização dos direitos televisivos
António Miguel Cardoso, presidente do Vitória de Guimarães, abordou como está a ser a sua experiência na liderança do emblema minhoto no Thinking Football Summit e tocou em quase todos os obstáculos que se lhe depararam entretanto. Desde as chicotadas psicológicas de Pepa e Moreno, como a aposta em Paulo Turra, além do aspecto emocional inerente ao cargo que ocupa, bem como o momento controverso que o futebol atravessa e ainda a importante questão da centralização dos direitos desportivos.
Que futebol é este que estamos a viver?
"É uma pergunta complicada. É importante haver ética e seriedade e uma promoção de outra forma. É preciso mais paz e segurança nas atitudes. Esta época está a começar mal, mas quero acreditar que o bom senso vai imperar."
Esta recente transição no comando técnico forçou-o a mudar o plano?
"O Vitória tem de ter sempre uma estrutura capaz a cada momento. Houve uma mudança, que não estava à espera, mas o projeto é o mesmo. Faz parte da vida e do futebol. Sempre demos todo o apoio ao Moreno e acreditamos nele, mas confio no Paulo Turra e acredito que vai fazer bom trabalho. Estou plenamente convencido de que teremos sucesso."
Consegue dar um palpite para o jogo de logo?
"Desde pequenino que no dia de jogo fico mais nervoso. Agora, pelo cargo, sinto que há mais ansiedade inerente. Queremos muito ganhar e vamos fazer tudo para ganhar, respeitando sempre o Tondela."
Como é que o presidente, que seguramente é apaixonado pelo Vitória, consegue estar sereno na bancada ao lado de outras personalidades quando é golo da sua equipa?
É difícil. Acompanho o Vitória desde que me lembro. Sempre vi os jogos em casa no camarote do meu pai e aí podia festejar sem problemas. Institucionalmente, ao lado de outros presidentes, as coisas são diferentes. São duas pessoas que estão a sofrer e muitas vezes há controlo emocional, mas admito que já tive presidentes a festejar golos ao meu lado, bem como já aconteceu o contrário. Seja por um golo no último minuto ou dois golos seguidos. Lembro-me do que aconteceu com o Boavista. Controlei-me no nosso golo inaugural, mas entretanto o Boavista deu a volta a resultado e o Vitória conseguiu vencer o jogo com dois golos na reta final. Explodi, não me controlei, desci as escadas e festejei. Foi natural, mas não é uma posição fácil e é duro segurar as emoções.
Como se capitaliza a paixão dos adeptos?
"É um problema bom. Vitória tem muitos adeptos apaixonados e isso é essencial. É um clube em franco crescimento, logo todos os dias também temos a crítica perto de nós. Temos de saber conviver com ela, mas dá muito prazer. O que gostaria como presidente é ganhar mais coisas, porque temos gente para isso. Tem de haver a crítica, mas tem de ser construtiva. Acima de tudo é muito aliciante ter uma massa crítica tão forte e para os jogadores o contexto também é excelente."
Como foi lidar com as saídas precoces de Pepa e de Moreno?
"Temos de estar preparados. A dúvida e a incerteza acontecem todos os dias. Nada é garantido e no Vitória a responsabilidade é enorme. Quando entrei o passivo era de 55 milhões de euros e havia uma mensalidade de dois milhões de euros para pagar, mas não havia dinheiro na conta e as receitas já tinham sido antecipadas. Temos de começar a perceber que há decisões a tomar para pagar contas e não é fácil. É preciso ser flexível. As saídas dos treinadores surgiram em contextos distintos. No primeiro caso foi claramente as diferenças de projetos desportivos. O nosso caminho era, claramente, afastar os jogadores mais velhos e mais caros. Fazer uma reciclagem profunda, maturar o grupo e no futuro rentabilizar. Era um projeto novo, mas quando temos um treinador que só quer jogadores maturados e mais velhos e toda a comunicação feita era nesse sentido, com um discurso fraco de que só havia reforços para a equipa B, claramente percebemos que não havia um caminho convergente.
Já o Moreno é alguém que gosto muito e que fez um grande trabalho. Percebeu o projecto e defendeu-o com tudo, mas, sendo natural de Guimarães, a pressão é maior. As competições europeias não correram bem, foi grande murro no estômago, uma grande desilusão. O Moreno sentiu a necessidade de sair. Tentámos proteger o treinador, mas rapidamente percebemos o desgaste e que o caminho era a saída.
A aposta em Paulo Turra muda o rumo idealizado para esta época?
"Não temos de ter uma matriz. Temos de tomar decisões e acreditar nelas. O Paulo Turra tem capacidade de liderança e aguenta a pressão. Conhece bem o clube porque jogou no Vitória , logo sabe como é o ambiente e como lidar com as ondas emocionais, além de que tem um currículo forte em várias áreas. Ao falar com ele, apesar de perceber que era decisão arriscada, acho que é o caminho."
Pode-se dizer que ainda está na fase de lua de mel?
"Não. Estou muito contente com as métricas, o trabalho e o sistema de jogo pretendido. O facto de ser estrangeiro é irrelevante porque o futebol é transversal."
Como olha para a questão da sustentabilidade e dos direitos televisivos?
"O futebol português precisa de uma distribuição diferente dos direitos. Não faz sentido como é agora. A diferença é muito grande relativamente aos três grandes. O Vitória precisa de mais rendimentos. Estive um mandato inteiro sem receber um euro de direitos televisivos porque as receitas televisivas já tinham sido antecipadas. Neste contexto o controlo financeira da Liga é essencial. Não se pode permitir que direções antecipem receitas televisivas. Para o impacto ser diluído muito tem de mudar. Desde as questões de arbitragem à imagem dos clubes."
O Vitória sente-se prejudicado frente a clubes de superior dimensão?
"Não quero entrar por aí, mas sentimos a diferença e há grandes assimetrias que precisam de ser melhoradas para o futebol ser mais competitivo."
Como lidou com a frustração da eliminação das competições europeias?
"Foi horrível. Sei que não podemos ganhar todos os jogos, mas temos de ter sempre essa vontade. Se perdemos ao sábado, está estragado o domingo e o resto da semana. A semana corre melhor com triunfos, seja com os adeptos, como com os órgãos sociais e jogadores. Todos ficam mais contentes. Ainda há tremores de terra dentro de mim por causa do jogo com o NK Celje. Estava no Algarve e lá voltei após o jogo, mas já não abri a boca nos dias seguintes. É difícil, gosto sempre de ganhar."
Qual é a relação entre presidente e jogadores? Podem sair para beber um copo juntos?
"Acho que não. Ocupo um cargo, tenho uma responsabilidade e é importante manter essas relações de frontalidade. São muitos jogadores e queremos ser corretos com todos, mas há limites que não se podem quebrar. Não é razoável. Após uma vitória, junto com a equipa essa celebração é natural, mas individualmente não faz sentido."
Entrou mediante conjuntura financeira má. Já consegue projetar um futuro diferente?
"Isso é o que quero todos os dias. Sonhos temos de os ter e sempre grandes. Se me disserem que vamos ser campeões fico todo contente, mas temos um problema financeiro grave. Não é de um dia para o outro que o conseguimos resolver, até porque temos de continuar a investir para ser competitivos. Acredito que com centralização dos direitos televisivos o contexto pode mudar. O nosso trabalho faz-nos acreditar que é possível estar mais vezes lá em cima a médio prazo."
Vitorianos ficam com a maior fatia, de 4.910 euros
Treinador do V. Guimarães fez antevisão do embate com o Rio Ave na Liga Betclic
Acontecimentos remetem ao V. Guimarães-Benfica e ao Benfica-Casa Pia
Procura contra o Rio Ave o 4.º jogo seguido sem sofrer golos para a Liga
Jovem defesa do Boca Juniors fez confissão aos jornalistas
Avançado uruguaio de 38 anos deve rumar ao Nacional de Montevideo
Estudo mostra que os jogadores têm mais dificuldades em se impor ao saírem muito jovens dos seus países
Belgas e holandeses também perderam