Pimenta Machado, o rei de Guimarães

QUANDO, a 10 de Março de 1980, os sócios do Vitória de Guimarães elegeram para presidente um jovem de 29 anos, chamado António Pimenta Machado, uma nova era se iniciou no clube minhoto. Então eleito sem concorrência e merecendo a votação praticamente unânime (apenas um voto nulo) dos vimaranenses presentes, Pimenta Machado iniciou aqui um reinado que se prolongou até aos dias de hoje, quando conhece uma rara situação de grande confronto de alguém ligado ao clube, face às acusações do ex-jogador N'Dinga. A próxima época desportiva será a vigésima com o carismático dirigente na liderança do clube. É o presidente mais antigo da I Divisão, e o segundo da Península Ibérica (apenas ultrapassado por Josep Lluis Nuñez, do Barcelona) com mais anos de função. O clube confunde-se com ele (dá o nome ao complexo desportivo do Vitória) e ele com o clube (vive a tempo inteiro todos as situações da sua existência).

Natural de Guimarães (nasceu em S. Torcato, a 12 de Abril de 1950), António Alberto Coimbra Pimenta Machado cresceu no seio de uma família abastada, que fez fortuna na bolsa internacional e possui vários imóveis em Guimarães e no País. Licenciou-se em Direito, mas não exerce a profissão, desde cedo mostrando uma inclinação para o Vitória. Foi vice-presidente do clube durante dois anos, antes de assumir a presidência, com apenas 29 anos de idade.

Desde cedo se destacou pela sua capacidade de intervenção nas estruturas do futebol português, capacidade essa que foi refinando e aperfeiçoando ao longo dos anos. Acérrimo contestatário do sistema vigente na arbitragem, defendendo o sorteio e, mais recentemente, a divulgação dos relatórios dos delegados técnicos, manteve polémicas com dirigentes ligados ao sector, como Laureano Gonçalves e Cruz Pereira, e outros ligados à orgânica do futebol profissional, como Guilherme de Aguiar e, em situações diversas, com Valentim Loureiro e Pinto da Costa.

Esta capacidade de intervenção tornou-o num dos protagonistas principais do futebol português, mas, entretanto, era suficientemente habilidoso e sagaz para fazer bons negócios nas transferências de jogadores e permitir ao clube uma saúde financeira que lhe permitiu os maiores feitos da sua gestão, em especial a construção de um complexo desportivo como poucos clubes têm em Portugal, com quatro campos relvados, um pelado e um pavilhão. A sua habilidade na gestão permitiu-lhe ainda ganhar a propriedade do estádio, que era municipal, para o clube.

Todas estas vitórias tornaram-no num dirigente praticamente sem oposição, apesar de conflitos ocasionais com quem não entendeu a sua forma absolutista de dirigir o clube. Rosendo Salgado (veio depois a presidir ao Francisco de Holanda) e Eduardo Fernandes (com ligações à Associação de Ciclismo do Minho) foram os únicos que ousaram defrontá-lo em eleições e foram amplamente derrotados.

O seu mandato termina em Janeiro do ano 2000, dois meses antes de completar 20 anos na presidência do clube.

A FRASE MAIS CÉLEBRE: O QUE É VERDADE...

Do discurso de Pimenta Machado ao longo das duas décadas do seu reinado, uma frase ganhou destaque e é hoje uma das "máximas" do futebol português: "O que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira". A lógica do presidente do Vitória confirma-se diariamente, no mundo volúvel e capaz de todas as reviravoltas que é actualmente o futebol profissional. Pimenta Machado pronunciou esta frase em 1987. Depois de um empate do Vitória em casa, perante o Marítimo, torna-se iminente o despedimento do treinador brasileiro, René Simões. Porém, devido a uma fuga de informação, Pimenta Machado volta atrás e decide manter o técnico (apenas mais uma semana...), pronunciando então a célebre frase, na qual tentava uma analogia a uma máxima do físico Galileu Galilei, pronunciada durante uma discussão científica no século XV...

BOM NEGOCIADOR, APESAR DE UM TAL GIOVANNI...

Reconhecido como um bom negociador, Pimenta Machado fez das transferências de jogadores uma essencial plataforma para o crescimento do clube. Em diferentes períodos, soube relacionar-se suficientemente bem com os três "grandes" do futebol português para com eles negociar jogadores.

Para o FC Porto negociou Paulo Ricardo, Paquito, Laureta e Capucho, recebendo, para além de dinheiro, alguns jogadores em troca. Só perdeu com a saída de Zahovic para o clube das Antas, sem receber qualquer contrapartida financeira.

Melhores negócios fez com o Sporting. Para Alvalade vendeu o goleador brasileiro Paulinho Cascavel e, mais recentemente, mostrou toda a sua habilidade neste campo quando transferiu para o Sporting Pedro Barbosa e Pedro Martins, por uma boa verba e mais três jogadores para o Vitória, um dos quais Capucho, que depois negociou para o FC Porto! Para o Sporting, o último a seguir de Guimarães foi Quim Berto.

Finalmente, o Benfica. Depois de Ademir e William, um "pacote" de dois, Paulo Bento e Dimas, com mais um bom encaixe financeiro e uma polémica a terminar, quando o clube da Luz recusou pagar uma prestação devido à condição física de Paulo Bento. Na altura, Pimenta Machado cortou relações com a Direcção do Benfica, mas a situação normalizou-se entretanto.

Mas a história regista também maus negócios: no início da época de 93/94, esteve a treinar-se à experiência, em Guimarães, um brasileiro chamado... Giovanni. O Vitória não o considerou prioritário, não correspondendo ao tipo de jogador que se pretendia, e o jogador não ficou. Mais tarde foi vendido para o Barcelona e actualmente vale um milhão de contos...

Neste campo, também a saída prematura de Agostinho, um futebolista muito promissor, foi uma perda para o clube; mas o jogador, suspenso e proibido de se treinar, encontrou nesta última situação uma razão para a rescisão com justa causa, e foi para o Real Madrid, sem contrapartidas.

PASSOS DA VIDA DE UM CLUBE

1922 -- Fundação do Vitória Sport Club.

1923/24 -- Primeiros jogos, de carácter particular. É inaugurado o Campo Zé Minotes.

1925 -- É inaugurado um novo recinto de jogos: o Campo da Perdiz.

1926/27 -- Primeiro título no historial do clube: campeão distrital de infantis.

1931 -- O clube inaugura o Campo do Benlhevai, onde vai conhecer um período de desenvolvimento. Passa também a ter uma sede própria.

1934 -- O clube vence o seu primeiro campeonato distrital.

1936/37 -- Segundo título distrital para o Vitória. Teve acesso ao campeonato da II Liga.

1937/38 -- Campeão distrital pela segunda vez consecutiva.

1938/39 -- Tricampeão distrital. Disputa a II Divisão nacional e começa a disputar a Taça de Portugal. Nesta competição, vence sensacionalmente o FC Porto (3-2), naquela que foi a sua primeira vitória contra um dos "grandes".

1940/41 -- Numa altura em que já ia no quinto título distrital consecutivo, histórica participação na Taça de Portugal, eliminando nos quartos-de-final o Barreirense e perdendo nas "meias" com o Sporting.

1941/42 -- Vencendo novo campeonato distrital, o Vitória acede finalmente à I Divisão. Mas, mais uma vez, foi na Taça que mais brilhou, chegando à final, onde perdeu com o Belenenses.

1945/46 -- O clube constrói um novo campo, o da Amorosa, para jogar na I Divisão.

1946/47 -- Cria uma escola de futebol para crianças e designa uma comissão para as modalidades amadoras.

1947/48 -- Fica em 7º lugar no Campeonato Nacional da I Divisão, até então a sua melhor classificação. É inaugurada a nova sede.

1952/53 -- É inaugurado o Rink da Amorosa. O clube já tem hóquei em patins. É atribuída a medalha de ouro do Vitória a Antero Enriques da Silva, presidente do clube.

1958/59 -- Depois de uma queda para a II Divisão, o clube recupera e regressa ao escalão principal, para ficar num inédito 5º lugar.

1962/63 -- Volta à final da Taça de Portugal, onde perde com o Sporting.

1964/65 -- Joga pela primeira vez no Estádio Municipal de Guimarães. Começa o andebol no clube.

1968/69 -- Fica em 3º lugar no campeonato nacional e garante a presença na Taça UEFA.

1969/70 -- Estreia-se na Europa, sendo afastado à segunda eliminatória, pelo Southampton.

1972/73 -- O Vitória comemora 50 anos. O director-geral dos Desportos atribui ao clube a Medalha de Bons Serviços Desportivos.

1975/76 -- A equipa minhota volta à final da Taça de Portugal, perdendo desta vez com o Boavista.

1979/80 -- É eleito presidente António Pimenta Machado.

1980/81 -- É campeão nacional da II Divisão em voleibol feminino.

1981/82 -- Campeão nacional de juniores.

1983/84 -- É inaugurado o bingo do clube. Campeão nacional de iniciados em voleibol feminino.

1986/87 -- O Vitória chega aos quartos-de-final da Taça UEFA; no campeonato, termina em 3º lugar. No Estádio Municipal, é inaugurada a bancada topo Norte.

1987/88 -- Nova presença na final da Taça de Portugal, perdendo com o FC Porto.

1988/89 -- O Vitória vence o seu primeiro troféu de nível nacional, a Supertaça, em dois jogos com o FC Porto.

1989/90 -- O Estádio Municipal é cedido ao clube, passando a ser sua propriedade.

1990/91 -- Campeão nacional de juniores. Há jogos do Mundial de 91 em Guimarães.

GALERIA DE PRESIDENTES

1922 a 1923 - António Macedo Guimarães

1924 a 1927 - Afonso da Costa Guimarães

1928 a 1931 - Interrupção desportiva; não há presidente

1932 - Heitor Campos

1933 a 1934 - José Acácio Pinto Rodrigues

1935 a 1937 - Amadeu da Costa Carvalho

1938 - José Acácio Pinto Rodrigues

1939 a 1940 - Américo Durão

1941 a 1946 - António Faria Martins

1947 a 1952 - Antero Henriques da Silva

1953 - Jorge da Costa Antunes

1954 - António Urgeses dos Santos Simões

1955 a 1956 - João Mota Prego de Faria

1957 - Alberto Costa Guimarães

1958 a 1960 - António Faria Martins

1961 - Casimiro Coelho Lima

1962 - Hélder Rocha

1963 a 1965 - Manuel Cardoso do Vale

1966 a 1967 - Egídio Pinheiro

1968 a 1969 - Fernando Roriz

1970 a 1973 - Antero Henriques da Silva Júnior

1974 a 1975 - António Manuel Rodrigues Guimarães

1976 a 1979 - Gil Mesquita Vieira de Andrade

1980 a 1999 - António Pimenta Machado

JOAQUIM SEMEANO, com MARCO AURÉLIO

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