Treinador do Al Nassr diz que pretende "nivelar a vida para um patamar de exigência superior"
O terceiro e último dia do Thinking Football Summit arrancou com um painel vocacionado a analisar a revolução que se está a assistir no futebol da Arábia Saudita e contou com a presença, através de videoconferência, dos treinadores Pedro Emanuel e Luís Castro e o extremo Fábio Martins.
Experiências na primeira pessoa sobre a evolução do fenómeno e quais são os alicerces da sustentabilidade, na certeza que todos os convidados assumiram o elevado investimento financeiro como o grande argumento para esta explosão, mas também defenderam a competitividade da prova e o respeito apaixonado do público como os principais argumentos para manter a projeção pretendida. Luís Castro, treinador do Al Nassr, deu a sua visão.
Quando troca o Brasil pela Arábia Saudita encontrou tudo o que esperava?
"Na nossa carreira temos sempre a consciência de que a vida tem duas vertentes. A vertente financeira e o prestígio. No nosso trajeto olhamos sempre mais para a marca de prestígio, que é passar nos grandes momentos que o futebol nos proporciona.
Senti que tanta gente que deu visibilidade a esta modalidade juntou-se na Arábia Saudita para fazer progredir o jogo. O que me fez a trocar o Botafogo foi precisamente a oportunidade de contribuir para uma Liga emergente, que se quer posicionar no futebol mundial. Com tantos nomes sonantes claramente tinha de ser uma Liga que não pode passar despercebida.
São tantos os que já vieram e que vão continuar a vir. Agora é só uma questão de organização e perceber o que fazer com o futebol de formação. Quando cheguei encontrei um mundo à procura de organização e de recrutamento. Também percebi interesse de desenvolver scouting, planeamento e o rumo das academias. Não foi surpresa, mas a confirmação de que querem afirmação. Há um grande entusiasmo de todos, mas o segredo é a elevada paixão dos adeptos. Sem isso não há sucesso.
O governo é o grande motor de tudo isto. Todos tentam comparar se será como a China ou os EUA. É verdade que a cultura interfere nas dinâmicas de quem cá está, mas o treino e o futebol é transversal em todo o mundo. Respeito, compromisso e coragem para jogar.
A nossa vida de técnico pode acabar a qualquer segundo, mas tenho a certeza que será um campeonato com grande visibilidade. Transmitida para o Brasil, Espanha, EUA, não há dúvidas nenhumas sobre isto.
Nota que a exigência é superior?
"Cultura é transversal, pode é haver ajustes em função das condições climatércias, mas no treino se é para andar, é para andar. A hidratação, o tempo de descanso e as regras de operação são diferentes, mas as coisas andam. E andam mais porque há mais estrangeiros, que geram um contexto que determina um conjunto de comportamentos. Não posso fazer que o Cristiano Ronaldo, o Talisca, o Alex Telles, o Laporte ou o Brozovic se adaptem aos jogadores sauditas. É o inverso. A minha referência é sempre para cima. Quero nivelar a vida para um patamar de exigência superior. Quando temos jogadores que estiveram ao mais alto nível claramente que têm de ser a locomotiva que os outros têm de acompanhar. Noto um grande crescimento nos jogadores sauditas, mas também os mesmos indicadores nas estrelas. O Brozovic continua a fazer os mesmos 13,5km por jogo aqui, mesmo com 35 graus. O desgaste é superior, logo precisa de 48 horas em vez de 24 de recuperação, mas os indicadores que deram na Europa continuam a dar aqui. Com mais dificuldade pelo contexto climatérico, mas é um sacrifício generalizado. Tem de ser. Cada vez há mais internacionais que estão no ativo a jogar na Arábia Saudita e isso também torna a liga mais atrativa."
Em função do investimento elevado na Arábia Saudita, as Ligas Europeias podem perder visibilidade e qualidade?
"Fala-se muito do dinheiro e é muito importante, mas já tenho visto outros países a fazer isso e o futebol não desenvolve. A grande diferença são os adeptos e se o povo gosta estão criadas as condições para o futebol desenvolver-se. A Arábia percebeu o fenómeno mundial que o futebol é. É um desporto que se joga em qualquer lado, seja no canto da sala, como no campo. Todos os jogos que fiz foi com o estádio cheio. A minha missão também passa por preparar a próxima época, quais são as áreas de recrutamento, mas o futuro tem de passar sempre pelo adepto. O dinheiro é importante para a construção, mas o dia a dia é vivido sem dinheiro. O Pedro foi ver um jogo do rival da cidade e a paixão é gostar do futebol. Aqui não se anda aos pontapés à paixão. Quando há paixão há condições para progredir.
Falamos em vários valores associados ao futebol, mas há um que é determinante, que é o respeito. Pelo adepto, pela imprensa, pelos jogadores, pelo jogo e pelo público. Se não há respeito por todos, queremos enganar quem? Não se pode progredir."
Qual é o próximo passo no sentido de melhorar o futebol saudita?
"É preciso entender o presente, que está muito relacionado com os milhões e milhões de seguidores que os jogadores têm nas redes sociais. Essa visibilidade é o que o país quer. É o que Portugal pretende. Visibilidade para expandir o seu desenvolvimento. Projetar a Liga com qualidade de jogadores e associar as grandes marcas. O modelo de negócio é este. Quanto mais mediático for o futebol, mais atrativo será o investimento. O futebol saudita quer ter uma projecção mundial e acho que será de forma sustentada. Há condições para progredir e conferir condições de equilíbrio desportivo."
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