O treinador português "faz a diferença pelo lado estratégico"

José Peseiro, Pedro Martins e Luís Freire em acordo quanto ao ADN que caracteriza o técnico nacional

• Foto: Lusa/EPA

José Peseiro, agora selecionador da Nigéria, Pedro Martins, treinador do Al-Gharafa do Qatar, e Luís Freire, técnico do Rio Ave, foram os palestrantes convidados para o painel do Thinking Football Summit que versou o ADN do treinador português.

Num painel moderado por José Pereira, presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, todos, apesar de cada um ter referências diferentes e bem identificadas, chegaram a um consenso fácil: é na estratégia e no planeamento do jogo que o treinador português tem feito a diferença!

José Peseiro: "O ADN do treinador português está presente precisamente em cada português porque somos um povo que historicamente se soube superar e fazer muito com pouco. Temos de valorizar muitos treinadores na história do nosso futebol, como Pedroto, por exemplo, que sem conhecimento dependendo só da sua criatividade, construíram grandes equipas e desenvolveram grandes jogadores e ganharam muitas coisas. O conhecimento específico do futebol começou com Manuel da Costa, com Jesualdo Ferreira e Carlos Queiroz que trazem o conhecimento anglo-saxónico e dos livros. Trouxeram conhecimento que foi transformado para a Universidade e tem contribuído para o talento. E para os que não têm uma licenciatura isso abre caminho. A partir daí, porque temos sensibilidade para o treino, foram buscar os adjuntos que têm conhecimento para os ajudarem a construir grandes equipas técnicas. Quando os nossos jogadores são campeões do mundo, quando o Mourinho tem a implantação na Europa que tem, o Special One que fazia parar a Inglaterra com uma conferência de imprensa, isso diz tudo. Como o futebol inglês o explorou e o chupou durante anos vendendo aquele espetáculo à conta dele, do bom e do bombástico e pela forma como ele confrontava toda a gente, os ingleses com tanta ciumeira e inveja quiseram despachá-lo e pô-lo fora do futebol inglês, como conseguiram. Sim, nós temos esse lado estratégico muito bom. Sempre soubemos utilizar isso a nosso favor e é isso que de alguma forma nos distingue dos outros. Atrevo-me a dizer que somos os melhores do Mundo precisamente por esse lado estratégico que levamos até mesmo à própria ideia do jogo."

Pedro Martins: "O nosso lado estratégico é mesmo muito forte. Conseguimos ter muitos resultados, muitas vezes contra equipas com maiores recursos, porque olhamos para cada jogo dessa forma. Aliás, muito do que é a minha estratégia faz parte do próprio plano de jogo e há várias formas de explicar isso, mas não agora. Esta evolução aconteceu devido a um fator que foi Carlos Queiroz, alguém muito importante na formação de jovens treinadores, na metodologia de treino. Foi importante em dar um passo na organização do treino. Fruto também das dificuldades entre mais ou menos 2007 e 2009, o que permitiu aos clubes apostaram nos jovens treinadores portugueses. Quando Portugal precisava, os clubes deram uma oportunidade aos treinadores portugueses, que estavam muito bem preparados e graças a isso o treinador português evoluiu bastante. Em todas as estruturas no futebol também houve grande crescimento e foi este impulso que levou o treinador português, de uma maneira geral, a dar o passo em frente que faltava para chegar onde está hoje."

Luís Freire: "Sou de uma geração que entrou na Universidade em 2004 e 2005, quando apareceu o José Mourinho, e bebemos um bocadinho do boom do aparecimento do FC Porto europeu. Sentimos que éramos tão bons como os outros e isso fez com que tivéssemos uma grande autoconfiança. Esta é também uma característica do nosso povo, pois adaptamo-nos às circunstâncias, a todas elas. Somos  capazes de ir à procura e encontrar a solução, com pouco organiza-se e com pouco consegue extrair o máximo. Não é inferior a ninguém. Há aqui um ADN de perseverança e resiliência. O Mourinho ensinou-nos o mundo que somos bons e temos capacidade e a partir daí. Uma das nossas maiores capacidades é trabalhar muito a ideia do jogo e o que queremos dele. É esse lado estratégico que nos leva a pensar no jogo em cada treino, em cada exercício, pois pensamos os jogos numa vertente muito tática. Por isso é que vemos na nossa Liga jogos cada vez mais difíceis, alguns até fechados, porque os treinadores portugueses têm essa característica em comum, mas o campeonato consegue ser equilibrado. Os clubes com menos recursos financeiros conseguem fazer coisas muito boas, contrariando a diferença para os chamados grandes clubes e esse equilíbrio só é possível quando os treinadores percebem que o jogo pode ser preparado tendo em conta esse lado estratégico que pode fazer a diferença para o resultado final."

Por António Mendes
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