Paulo Fonseca marcou presença no congresso do 'TransferRoom' que decorre esta segunda-feira no Estoril e, num painel que contou igualmente com o conceituado diretor-desportivo Victor Orta, o técnico do Lille explicou alguns dos seus segredos na gestão da carreira de treinador principal, exemplificando a forma como encara um convite que receba de determinado clube. Acima de tudo, garante o técnico de 50 anos, importa conhecer o projeto que lhe é apresentado, explicando o que o pode persuadir a optar por um novo desafio.
"Cada vez é mais difícil encontrar o clube certo. Temos cada vez melhores treinadores e, por isso, torna-se difícil. Há que perceber se as pessoas acreditam no treinador que estão a escolher. Se mostram que acreditam em mim, nas minhas ideias e se consigo mudar as coisas, isso é muito importante para mim", começou por explicar o técnico que lidera o Lille, atual 4º classificado da Ligue 1, antes de apontar que o "projeto depende dos clubes e países".
"Primeiro temos de convencer os donos de que as nossas ideias são corretas para o clube. Sei que os resultados são o mais importante, mas para mim o processo é tão importante como o resultado. E para mim é muito importante que todos estejam envolvidos no processo. Que ao fim de algum tempo veja-se a ideia de jogo e que consigamos convencer os jogadores que este é o processo ideal. Para mim, não é só ganhar; é também a forma de ganhar e jogar. Podem dizer que sou um pouco romântico, mas um treinador gosta de dominar os jogos. Gosto de estar instalado no meio-campo contrário e ter uma equipa que domine. Isso é fácil de dizer aos diretores-desportivos, mas com dados podemos justiticar isso. Esta aplicação é boa para demonstrar isso", referiu Paulo Fonseca, abordando a nova ferramenta da TranferRoom, o 'Coach Finder', que permite ter uma ideia mais pormenorizada acerca dos treinadores que são possíveis alvos e se encontram disponíveis no mercado.
Na verdade, pegando pelo exemplo desta ferramenta, o treinador de 50 anos abordou ainda a relação que deve existir entre um técnico e o diretor-desportivo num clube de alto nível. "Hoje em dia, um diretor-desportivo já sabe tudo sobre um treinador quando o entrevista. A apresentação também é importante para se perceber se o diretor-desportivo nos conhece. Se ele não conhecer nada sobre mim, começamos mal. É importante trabalhar com pessoas que nos conhecem muito bem", apontou, concretizando acerca da forma como se devem desenrolar as entrevistas entre as partes: "Em apresentações, tento mostrar tudo com imagens e dados. É importante provar o que estamos a defender e a falar. Para mim a relação entre treinador e diretor-desportivo é muito importante. O diretor tem de saber tudo e estar ligado às decisões."
Uma ideia, de resto, corroborada por Victor Orta, diretor-desportivo de 44 anos do Sevilha que já trabalhou e interagiu com vários treinadores ao longo da sua carreira. "Gosto de um treinador que faça uma apresentação. Que explique como é o dia-a-dia e como faz a sua auto-avaliação. Digo logo que fale bem dele próprio e mostre as suas capacidades. Precisamos de conhecer bem o staff à volta do treinador principal. E eles podem falar do treinador, porque têm conhecimento sobre ele. É relevante. Precisamos de ter certezas sobre a decisão que tomamos. Gosto de ter um portefólio para identificar os treinadores e criar uma ideia deles. Preciso de confiar nas decisões do treinador e protegê-lo. Ele é o líder no lado técnico. Os diretores-desportivo precisam de dar respostas e não fazer questões. A decisão final é sempre do treinador", deixou claro.
Além disso, Victor Orta admitiu igualmente como é estar na pele de um diretor-desportivo, uma função que está cada vez mais exposta à 'lei dos resultados'. "Enquanto diretores-desportivos, quando vemos que um projeto não está a correr como era esperado, temos de comprar tempo ao treinador. Mesmo na função de diretor-desportivo, uma pessoa está cada vez menos tempo num clube. Há colegas que estão só uma época. Como diretor-desportivo, temos de ajudar o treinador e permitir que tenha sucesso. Um bom exemplo de sucesso é o de Arteta no Arsenal e Xabi Alonso no Bayer. Temos de tentar educar o ambiente à volta dele e tentar ver o que está por detrás dos resultados", sublinhou.
Nesse sentido, também Paulo Fonseca abordou como vive atualmente a sua etapa no Lille, clube que lhe pede a valorização de ativos, admite. "Lançar jovens em vários clubes? Tive sorte com os jogadores jovens que tive. Para mim um jogador não tem idade. Não tenho medo de meter um jogador de 16 anos a jogar. Tenho de perceber também os objetivos do clube e nalguns é promover jogadores. No Lille, os donos disseram-me que queriam criar uma equipa de futebol ofensiva mas também promover jogadores. A meta não é ser campeão, mas sim isso. É importante promover jogadores também para o clube", concluiu.